Boas práticas docentes: caminhos para uma escola viva e transformadora
Participei de um Seminário de Boas Práticas dos
docentes da Rede Municipal de Cariacica no Espírito Santo. Foi um privilégio conhecer
projetos reais, diversificados e empolgantes. Vi projetos de professores individuais
(histórias do bairro, desafios, acompanhamento de alunos com deficiência...). Outros
projetos integravam várias áreas de conhecimento (horta, jogos, programar movimentos
de carrinhos) e vi projetos que envolviam toda a escola e as famílias, como, por
exemplo, um projeto de reciclagem de garrafas pet, que surgiu pequeno e foi se
ampliando sob a liderança de uma diretora muito engajada. São a comprovação de que
gestores e docentes motivados e preocupados com os estudantes tornam as escolas
espaços mais vivos, pulsantes, diferentes e humanizados.
Essas experiências mostram que boas práticas
docentes não dependem apenas de tecnologias sofisticadas, mas de professores
que se veem como mediadores de processos vivos de aprendizagem. Em muitos
relatos, aparecia a força do trabalho colaborativo: docentes planejando juntos,
articulando disciplinas, compartilhando dificuldades e conquistas. Também era
visível a valorização da voz dos estudantes: eles apresentavam os projetos,
explicavam o que aprenderam, reconheciam seus avanços, falavam com brilho nos olhos.
Quando o aluno se percebe protagonista, a relação com a escola muda; ela deixa
de ser um espaço estranho e passa a ser “nosso lugar”, lugar de pertencimento.
Meu papel foi o de conversar sobre o significado do
aprender de forma ativa, criativa, humanizadora. Eu também compartilhei alguns
projetos que realizei bastantes anos atrás com estudantes do 9º ano de um
colégio. Com eles aprendi a estar atento aos interesses deles, a chegar a
consensos, acompanhar o andamento, a apresentação, a dar feedback, a tornar
visível o que eles tinham aprendido no percurso. O fundamental é despertar o
gosto por aprender, a curiosidade, a motivação, o significado.
Prática → reflexão → teoria → nova prática.
Aprender profundamente significa viver um movimento
contínuo entre prática, reflexão, teoria e nova prática. O ponto de partida é
sempre a experiência concreta: a aula que deu certo ou não, o projeto que
engajou, o conflito que desestabilizou, a atividade que surpreendeu. Quando
paramos para refletir – descrevendo o que aconteceu, percebendo o que sentimos,
observando as reações dos alunos – transformamos a experiência em aprendizagem.
A partir daí, buscamos a teoria não como algo abstrato, mas como uma lente que
ajuda a compreender melhor o que vivemos: metodologias ativas, motivação,
cooperação, gestão de conflitos, desenvolvimento socioemocional. A teoria então
deixa de ser algo distante e passa a iluminar a prática.
O passo seguinte é voltar à sala de aula de outro
jeito, experimentando pequenas mudanças concretas: ajustar uma atividade,
reorganizar grupos, iniciar a aula com uma pergunta, trazer um caso real,
incluir um momento de autoavaliação. Esse ciclo se repete também com os alunos:
começamos por um problema ou projeto real, refletimos juntos sobre o que
aconteceu, conectamos com conceitos e, em seguida, convidamos a turma a
refazer, melhorar, intervir de novo. Assim, professores e estudantes aprendem
que a teoria nasce da vida e volta para transformar a vida; e o professor se
torna modelo de alguém que observa, pensa, estuda, arrisca e recomeça,
aprofundando continuamente sua própria prática.
Caminhos para um maior engajamento
· Comece
pelo acolhimento e propósito (conheça os estudantes, seus sonhos; goste de
estar com eles, escute-os)
· Proponha
diferentes metodologias ativas de forma criativa (projetos reais, STEAM, desafios,
histórias)
· Ofereça
escolhas e trilhas para ritmos e interesses distintos com apoio da Inteligência
Artificial
· Avalie de
forma autêntica: rubricas claras, feedback curto e frequente, portfólio de
evidências.
· Para alunos
maiores, faça do híbrido um aliado: parte online para personalizar; parte
presencial para diálogo profundo
· Faça da Inteligência
Artificial sua parceira estratégica e ética
· Participe
de comunidades de prática (aprenda com grupos interessantes e troque
experiências com eles)
· principal
projeto e aprender a gerenciar nossa vida com equilíbrio, evoluindo sempre, tornando-nos
pessoas melhores e ensinando com o exemplo. Colocar o Projeto de Vida dos
alunos como um eixo fundamental do Currículo.
Conclusão
A importância dessas
boas práticas é enorme. Elas funcionam como faróis para toda a rede, mostrando
que é possível, sim, fazer uma escola pública mais humana, criativa e
inclusiva. Ao socializar os projetos, os professores se inspiram mutuamente,
perdem o medo de inovar, reconhecem-se como autores de mudanças e não apenas
executores de currículos. Os gestores, por sua vez, podem enxergar com mais
clareza onde vale a pena investir, quais formações continuadas fazem sentido,
como organizar tempos e espaços para que o trabalho por projetos floresça.
Uma escola viva e transformadora se constrói passo a
passo, projeto a projeto, professor a professor. Visitar essa mostra de
experiências foi ver, na prática, que a mudança educacional não é um discurso
abstrato: ela já está acontecendo nas salas de aula, nos corredores, nos
pátios, sempre que um docente se dispõe a ouvir os alunos, a dialogar com a
comunidade, a experimentar novas metodologias e a conectar o currículo com a
vida. Apoiar, registrar e divulgar essas boas práticas é fundamental para que deixem
de ser exceção e se tornem parte da cultura da escola e da rede, contribuindo
para uma educação realmente emancipadora.
Quando professores e estudantes compartilham
diferentes projetos interessantes, estamos mostrando avanços, caminhos,
exemplos do que está dando certo, para que outros colegas se animem e percebam
que é possível tornar as aulas mais atraentes e significativas, cada um do seu
jeito, no seu ritmo possível em cada momento, deixando de olhar só para os
problemas, dificuldades e fracassos. Há muita vida acontecendo nas escolas para
quem olha com atenção e esperança.
Para saber mais:
- ALMEIDA, Patrícia Albieri et
al.
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil: o que evidenciam as pesquisas em educação. Brasília: UNESCO/FCC, 2021. (Síntese de pesquisas sobre práticas pedagógicas, com foco em qualidade e equidade). Disponível em https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000379503 - BACICH,
Lilian; MORAN, José (orgs.).
Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. (Coletânea com propostas práticas e reflexões sobre inovação, protagonismo e aprendizagem mais profunda). Disponível em tecnodocencias.com+2recursosdefisica.com.br+2 - COPETTI DA SILVA, Neidi;
TRINDADE VALENÇOELA, Juliana.
Porto Murtinho: celeiro de boas práticas docentes em contextos diversos. Porto Murtinho: Editora Inovar, 2020. (Livro digital, com relatos de experiências de professores em diferentes contextos. Disponível em https://editorainovar.com.br/omp/index.php/inovar/catalog/view/162/163/485 - FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Boas práticas docentes no
ensino da Matemática. São Paulo: Fundação Victor Civita, 2012. (Relatório/pesquisa com
observação de professores e identificação de práticas eficazes). Disponível
em https://fvc.org.br/wp-content/uploads/2018/06/boas-prc3a1ticas-docentes-no-ensino-da-matemc3a1tica.pdf
- SEED-MG. Caderno de Boas Práticas dos Especialistas em
Educação Básica de Minas Gerais. Disponível em https://orientaeducacao.wordpress.com/wp-content/uploads/2018/04/caderno-de-boas-praticas-eeb.pdf
- SESI; SENAI (SC). Ensinar é aprender. Florianópolis:
SESI/SENAI/FIESC, 2020. (Livro com 40 práticas pedagógicas de professores
da rede, destacando aprendizagem criativa, protagonismo do estudante e
empreendedorismo). Disponível em https://fiesc.com.br/pt-br/imprensa/sesi-e-senai-lancam-quarta-edicao-do-livro-que-reune-boas-praticas-docentes

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