Boas práticas docentes: caminhos para uma escola viva e transformadora

 




José Moran

Participei de um Seminário de Boas Práticas dos docentes da Rede Municipal de Cariacica no Espírito Santo. Foi um privilégio conhecer projetos reais, diversificados e empolgantes. Vi projetos de professores individuais (histórias do bairro, desafios, acompanhamento de alunos com deficiência...). Outros projetos integravam várias áreas de conhecimento (horta, jogos, programar movimentos de carrinhos) e vi projetos que envolviam toda a escola e as famílias, como, por exemplo, um projeto de reciclagem de garrafas pet, que surgiu pequeno e foi se ampliando sob a liderança de uma diretora muito engajada. São a comprovação de que gestores e docentes motivados e preocupados com os estudantes tornam as escolas espaços mais vivos, pulsantes, diferentes e humanizados.

Essas experiências mostram que boas práticas docentes não dependem apenas de tecnologias sofisticadas, mas de professores que se veem como mediadores de processos vivos de aprendizagem. Em muitos relatos, aparecia a força do trabalho colaborativo: docentes planejando juntos, articulando disciplinas, compartilhando dificuldades e conquistas. Também era visível a valorização da voz dos estudantes: eles apresentavam os projetos, explicavam o que aprenderam, reconheciam seus avanços, falavam com brilho nos olhos. Quando o aluno se percebe protagonista, a relação com a escola muda; ela deixa de ser um espaço estranho e passa a ser “nosso lugar”, lugar de pertencimento.

Meu papel foi o de conversar sobre o significado do aprender de forma ativa, criativa, humanizadora. Eu também compartilhei alguns projetos que realizei bastantes anos atrás com estudantes do 9º ano de um colégio. Com eles aprendi a estar atento aos interesses deles, a chegar a consensos, acompanhar o andamento, a apresentação, a dar feedback, a tornar visível o que eles tinham aprendido no percurso. O fundamental é despertar o gosto por aprender, a curiosidade, a motivação, o significado.

 

Prática → reflexão → teoria → nova prática.

Aprender profundamente significa viver um movimento contínuo entre prática, reflexão, teoria e nova prática. O ponto de partida é sempre a experiência concreta: a aula que deu certo ou não, o projeto que engajou, o conflito que desestabilizou, a atividade que surpreendeu. Quando paramos para refletir – descrevendo o que aconteceu, percebendo o que sentimos, observando as reações dos alunos – transformamos a experiência em aprendizagem. A partir daí, buscamos a teoria não como algo abstrato, mas como uma lente que ajuda a compreender melhor o que vivemos: metodologias ativas, motivação, cooperação, gestão de conflitos, desenvolvimento socioemocional. A teoria então deixa de ser algo distante e passa a iluminar a prática.

O passo seguinte é voltar à sala de aula de outro jeito, experimentando pequenas mudanças concretas: ajustar uma atividade, reorganizar grupos, iniciar a aula com uma pergunta, trazer um caso real, incluir um momento de autoavaliação. Esse ciclo se repete também com os alunos: começamos por um problema ou projeto real, refletimos juntos sobre o que aconteceu, conectamos com conceitos e, em seguida, convidamos a turma a refazer, melhorar, intervir de novo. Assim, professores e estudantes aprendem que a teoria nasce da vida e volta para transformar a vida; e o professor se torna modelo de alguém que observa, pensa, estuda, arrisca e recomeça, aprofundando continuamente sua própria prática.

Caminhos para um maior engajamento

·      Comece pelo acolhimento e propósito (conheça os estudantes, seus sonhos; goste de estar com eles, escute-os)

·      Proponha diferentes metodologias ativas de forma criativa (projetos reais, STEAM, desafios, histórias)

·      Ofereça escolhas e trilhas para ritmos e interesses distintos com apoio da Inteligência Artificial

·      Avalie de forma autêntica: rubricas claras, feedback curto e frequente, portfólio de evidências.

·      Para alunos maiores, faça do híbrido um aliado: parte online para personalizar; parte presencial para diálogo profundo

·      Faça da Inteligência Artificial sua parceira estratégica e ética

·      Participe de comunidades de prática (aprenda com grupos interessantes e troque experiências com eles)

·      principal projeto e aprender a gerenciar nossa vida com equilíbrio, evoluindo sempre, tornando-nos pessoas melhores e ensinando com o exemplo. Colocar o Projeto de Vida dos alunos como um eixo fundamental do Currículo.

 

Conclusão

A importância dessas boas práticas é enorme. Elas funcionam como faróis para toda a rede, mostrando que é possível, sim, fazer uma escola pública mais humana, criativa e inclusiva. Ao socializar os projetos, os professores se inspiram mutuamente, perdem o medo de inovar, reconhecem-se como autores de mudanças e não apenas executores de currículos. Os gestores, por sua vez, podem enxergar com mais clareza onde vale a pena investir, quais formações continuadas fazem sentido, como organizar tempos e espaços para que o trabalho por projetos floresça.

Uma escola viva e transformadora se constrói passo a passo, projeto a projeto, professor a professor. Visitar essa mostra de experiências foi ver, na prática, que a mudança educacional não é um discurso abstrato: ela já está acontecendo nas salas de aula, nos corredores, nos pátios, sempre que um docente se dispõe a ouvir os alunos, a dialogar com a comunidade, a experimentar novas metodologias e a conectar o currículo com a vida. Apoiar, registrar e divulgar essas boas práticas é fundamental para que deixem de ser exceção e se tornem parte da cultura da escola e da rede, contribuindo para uma educação realmente emancipadora.

Quando professores e estudantes compartilham diferentes projetos interessantes, estamos mostrando avanços, caminhos, exemplos do que está dando certo, para que outros colegas se animem e percebam que é possível tornar as aulas mais atraentes e significativas, cada um do seu jeito, no seu ritmo possível em cada momento, deixando de olhar só para os problemas, dificuldades e fracassos. Há muita vida acontecendo nas escolas para quem olha com atenção e esperança.

Para saber mais:

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