A fascinante e complexa arte de educar, hoje.
José Moran[1]
Educar é um processo fascinante e complexo: afeta a todos, em todas as fases da vida e de formas muito diferentes. A
educação é um ecossistema, que começa na família, se organiza na escola e se
amplia nos inúmeros contatos com as pessoas, as mídias, as organizações e o
mundo.
Educar é fascinante, porque é encontro entre pessoas que aprendem a avançar em todas as dimensões da vida, no presente e também preparando para enfrentar os desafios do futuro. Educar é fundamentalmente voltada para o presente, para o que cada um (criança, jovem ou adulto) pode aprender, consegue enxergar e assim prepará-lo para construir os próximos passos, avaliar contextos, realizar as melhores escolhas, enfrentar desafios, equilibrar todas as dimensões da vida com maior autonomia e liberdade (educação como design de futuros). Ao mesmo tempo, a educação se apoia no passado, garimpando os melhores conhecimentos, experiências e caminhos para compreender onde estamos, o que nos favorece e dificulta, para aprender com os avanços e dificuldades dos que nos precederam. A educação precisa ser mais integral, ampla, total, para conseguir desenvolver harmonicamente conhecimentos, competências e valores.
Ensinar e aprender é relevante, desafiador e complexo. As trilhas são diferentes, mudam as circunstâncias, os contextos. Não há uma única receita. Podem ser muitos os caminhos, os métodos, os currículos, os resultados. O educador ajuda a descobrir horizontes desconhecidos em todas as dimensões. É um designer de estratégias, projetos e pesquisas para encantar, motivar e inspirar.
Parece fácil ser professor. Temos tantas publicações, pesquisas, vídeos!
Mas a experiência docente no dia a dia é complexa, diferenciada, contraditória. Cada criança e jovem tem seu jeito, expectativas,
motivação seu ritmo de aprender. Uma estratégia pode ser encantadora para uma parte dos
estudantes e indiferente para os demais.
Um bom profissional precisa de uma formação muito sólida intelectual, emocional, digital e ética. Ensinar é um processo longo. O envolvimento com os estudantes pode durar meses ou anos. Para isso o professor precisa ser muito competente para conseguir atrair e manter o interesse de tantos alunos durante tanto tempo, engajando-os em projetos relevantes e que sejam mais atraentes do que os vídeos de entretenimento nas telas deles.
Cada docente também tem sua trajetória, estilo, qualidades e dificuldades. Ensinar não é uma corrida de cem metros, mas uma maratona, de longo prazo. Ensinar é um processo que envolve planejamento - (individual e/ou grupal) com começo, meio e fim. Exige uma grande capacidade de adaptação à cada momento; sensibilidade para adequar o planejado ao que faz sentido para cada estudante e para todo o grupo. Implica em saber escutar, gerenciar, acompanhar e avaliar, utilizando diferentes estratégia e tecnologias analógicas e digitais.
Ensinar é lidar com a rotina, com os bons e
maus momentos, com o sucesso e o fracasso; com bons gestores e gestores
burocráticos; com colegas com os quais se pode contar e com outros que não ajudam;
com estudantes que estão a fim e com estudantes desinteressados; com gestores e
pais que apoiam e com os que complicam.
As condições de trabalho são frequentemente pouco atraentes: docentes que lecionam em duas ou três escolas, com turmas grandes, salários baixos, pouco tempo de planejamento, de avaliação de cada estudante e de formação continuada. Na educação privada básica e superior há, frequentemente, uma tensão entre a exigência de ter os melhores profissionais – que custam caro – com o pagamento de salários baixos, desestimulantes. A profissão, em geral, é mais valorizada no discurso do que na prática. Por isso, muitos jovens desistem ou são desaconselhados a não seguir essa carreira.
O cenário que se desenha de agora em diante é, no entanto, promissor. Estamos em um período de transição para a experimentação de novos modelos de ensinar e de aprender, mais flexíveis, mais personalizados e com muita sinergia com as organizações sociais e o apoio do melhor dos encontros presenciais com a riqueza de possibilidades que também o digital oferece, de forma assíncrona e síncrona. O digital é um ambiente essencial para inovar, empreender, integrar todas as áreas, pessoas e serviços e poder oferecer experiências ricas e diferenciadas de aprendizagem, pesquisa e parcerias.
Para uma educação integral precisamos de excelentes profissionais, principalmente
gestores e docentes, humanos, abertos e inspiradores. Eles serão cada vez mais
necessários e valorizados. Não há outra alternativa!
[1] Professor, escritor e pesquisador de projetos
educacionais inovadores
Autor do blog Educação Transformadora
- www2.eca.usp.br/moran
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