“Ajudar aluno a desenvolver projeto de vida torna aprendizagem mais significativa”, diz José Moran


Atividade é fundamental para que estudantes encontrem propósito no que estudam e fazem


Leonardo Valle


PUBLICADO EM 17 de junho de 2019

Professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista na área de educação transformadora, José Moran, recomenda ajudar o aluno a desenvolver seu projeto de vida para que este encontre sentido naquilo que aprende dentro e fora da escola.
“A aprendizagem ativa, por competências, incluindo o gerenciamento do projeto de vida, é fundamental para que os estudantes encontrem sentido e propósito no que estudam e fazem”, aponta. Em entrevista, o docente detalha como essa atividade pode ser trabalhada por professores e gestores no ambiente escolar.

O que é um projeto de vida?
José Moran: É um roteiro ativo que cada pessoa pode elaborar para orientar sua existência. Vai além da escola e ajuda a propor perguntas fundamentais, a buscar respostas possíveis, a fazer escolhas e a avaliar continuamente o percurso. Gerenciar sua própria vida é uma das competências que os estudantes precisam desenvolver, de acordo com as diretrizes atuais da educação básica. Eles devem conseguir refletir sobre seus desejos e objetivos, aprendendo a se organizar, a estabelecer metas, planejar e perseguir seus projetos, assim como também compreender o mundo do trabalho e seus impactos na sociedade. Ele é um caminho importante para crianças e jovens encontrarem sentido naquilo que aprendem dentro e fora da unidade escolar.

Quais os passos para desenvolvê-lo nas escolas?
Moran: Primeiramente, é se conscientizar de que o projeto de vida é um componente coerente com as diretrizes da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e que envolve todos os responsáveis pela educação. Um segundo passo é acompanhar instituições de ensino que já estão implantando propostas concretas de aprendizagem ativa, por competências, principalmente as de tempo integral. A forma mais rápida é criar oficinas, disciplinas optativas ou módulos de autoconhecimento, criatividade, resolução de problemas, comunicação, empreendedorismo, gestão do tempo e orientação de estudos. Os projetos integradores podem explicitar habilidades e competências cognitivas, socioemocionais e valores desejados. Todos os professores podem contribuir para que o aluno se conheça melhor. Alguns assumem o papel de mentores.

Qual a importância da escola abordar a temática?
Moran: A aprendizagem ativa, por competências, entre elas o gerenciamento do projeto de vida, é fundamental para que os alunos encontrem sentido e propósito no que estudam e fazem. O projeto de vida é um dos eixos centrais para o desenvolvimento pessoal, para avançar na autonomia, criatividade, colaboração e transformação individual e da sociedade. Preparar crianças e jovens para enfrentar os desafios de sua trajetória pessoal é condição essencial para a sua formação integral. É importante também para os docentes, gestores e pais mudarem sua forma de pensar e de agir. Educadores ensinam mais com o exemplo do que com as palavras.

Quais principais práticas pedagógicas auxiliam no tratamento do tema?
Moran: Os docentes podem fazer o planejamento começando pelo que pretendem conseguir ao final do estudo: as habilidades e competências cognitivas, pessoais e socioemocionais. As tarefas têm mais sentido quando o profissional parte das questões que os alunos trazem, quando se encantam por um assunto ou atividade – principalmente os reais, do entorno, da cidade. A aprendizagem por projetos faz essa ponte com as dimensões pessoais mais significativas, principalmente os gerenciados de forma interdisciplinar. Narrativas, construção de histórias (storytelling) e utilização de jogos também são interessantes para desenvolver vivências, compreender o passado e projetar o futuro. Há também os exercícios ligados à tutoria e mentoria. Os estudantes optam por um professor para ser seu conselheiro. 

Como o assunto deve ser tratado?
Moran: Focando as competências cognitivas e socioemocionais como pensamento crítico, criatividade, responsabilidade, colaboração, comunicação e autocontrole, a partir dos quatro pilares da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): aprender a ser, a fazer, a conhecer e a conviver.

Quais os desafios presentes nessa tarefa?
Moran: Trabalhar as competências pessoais de forma personalizada, com algum tipo de tutoria, além da dificuldade dos docentes sobrecarregados de aulas para poder ter um salário decente. Isso dificulta a preparação e o acompanhamento dessas atividades. Um desafio profundo é mostrar para crianças e jovens que vale a pena desenvolver um projeto de vida com valores como honestidade, num contexto que mostra exemplos de corrupção, de levar vantagens, discriminar os mais frágeis e pobres.

Em qual etapa de ensino o assunto pode ser trabalhado?
Moran: Predominam as ações no ensino médio (combinando desenvolvimento pessoal e profissional). As escolas mais inovadoras trabalham as competências pessoais desde a educação infantil e vão ampliando a formação no ensino fundamental I e II. O ideal é começar tratando de forma mais lúdica e prática competências como criatividade, colaboração, responsabilidade, protagonismo e ir evoluindo no aprofundamento das questões, conforme o estudante vai crescendo.


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