O apoio da mentoria para encontrar sentido na aprendizagem
José Moran
Educador e pesquisador em transformação
www2.eca.usp.br/moran
Aprender é um processo complexo, trabalhoso e fascinante de
analisar ideias, sentimentos, valores, visões de mundo que nos desafiam a rever
certezas, a questionar caminhos desenvolvidos, a tentar fazer sínteses
parcialmente diferentes em algumas dimensões. É um processo que se constrói
lentamente, imperceptivelmente, e que explode em determinados momentos,
circunstâncias, experiências (momentos de “eureka”, crises, descobertas
inesperadas).
Como adultos constatamos quantas ideias que tínhamos eram
incoerentes, como nos levaram a escolhas, muitas vezes, frágeis ou desastradas.
A revisão honesta das nossas percepções, valores, escolhas nos prepara a
enxergar novas perspectivas, escolher alguns caminhos diferentes em alguns
campos, reconfigurar nossa percepção e lugar no mundo.
Aprender é ir tornando
conscientes, na nossa linha do tempo, essas desconstruções e reconstruções,
sabendo que nunca acabam, que sempre haverá ajustes, que nossas sínteses sempre
serão provisórias, que em algumas dimensões somos mais fortes e em outras mais
frágeis. Essa é a essência do aprender e esse é o desafio de ensinar.
Quanto mais canais de informação e compartilhamento temos,
mais complexo se torna o processo de análise, síntese e de apropriação pessoal.
Isso justifica hoje a necessidade dos docentes trabalharem de forma mais
integrada, dos estudantes mais colaborativa e de que haja também uma orientação
mais personalizada, uma tutoria mais integradora,
dada a diversidade de repertórios, tempos e ritmos muito diferentes dos
estudantes.
Uma articulação entre os docentes de diversas áreas - trabalhando
projetos de forma mais integrada - com uma mentoria que ajude na personalização
das trilhas de cada aluno é uma combinação necessária que oferece aos
estudantes condições efetivas para ampliar o repertório de conhecimento,
competências e valores, sua visão de mundo e suas escolhas. Isso os irá preparando
para que, depois da escolarização formal, cada um possa seguir realizando, por
sua conta, o processo complexo de revisão e reconstrução da aprendizagem significativa
e com propósito, em cada etapa da sua vida adulta.
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