Transformando as pessoas, para transformar as Escolas
Ensinamos até onde conseguimos
aprender. Quando metade dos alunos de ensino médio se evade e não termina o
curso, a responsabilidade não é só deles, é de todos nós. Com certeza não
estamos oferecendo um projeto pedagógico atraente, não estamos próximos dos
alunos, insistimos em modelos autoritários, desconectados com a vida dos estudantes
e continuamos ensinando como se tudo estivesse normal. O lema das nossas
escolas deveria ser “Nenhum aluno para trás”. O fracasso de tantos alunos, que
ficam pelo caminho, é um fracasso coletivo de toda a sociedade. Alunos reprovados,
escolas reprovadas.
A educação, além das causas
estruturais, avança de acordo com o nível de desenvolvimento dos gestores,
educadores, pais e da sociedade como um todo. Uma sociedade profundamente
imperfeita e desigual tem, como consequência, um sistema educacional imperfeito
e desigual.
Há um jogo de empurra entre
todos. “O problema é o sistema, o Governo”, “são os outros” “eu faço a minha
parte”. Há algo profundamente errado nessa visão. Fazemos tudo o que podemos
para sermos educadores e gestores proativos, criativos? Aprendemos o tempo todo? Estamos atualizados? Melhoramos
nossas técnicas e metodologias? Conhecemos nossos estudantes? Somos
empreendedores?
São compreensíveis as razões do
desânimo: salários baixos, turmas numerosas, infraestrutura precária, dupla
jornada. Mas nada justifica fazer um trabalho medíocre. É possível ensinar com
poucos recursos, se nossa mente for aberta, se nossa atitude for proativa, se
mantivermos o entusiasmo e a motivação e um bom desenvolvimento de competências.
É possível ajudar os estudantes a que se sintam importantes, tomem a
iniciativa, acreditem no seu potencial; e bons profissionais o conseguem.
Quanto maior o nível de
desenvolvimento pessoal, mais podemos contribuir para a aprendizagem dos
outros. Nossa capacidade de aprender influencia nossas possibilidades de
ensinar. Nossas dificuldades, contradições e medos interferem profundamente na
nossa capacidade de aprender, de ensinar e de empreender. Quanto mais evoluímos,
mais ajudamos os que aprendem conosco.
Temos poucas escolas avançadas
porque nossas mentes são conservadoras, porque nos acostumamos com o mínimo
básico, com a rotina previsível, com os modelos confortáveis, com a repetição
segura. Nosso maior problema é a banda mental estreita,
o conformismo das baixas expectativas, não acreditarmos nas nossas
possibilidades. Falamos em liberdade, enquanto nos mantemos dependentes; queremos
participação, enquanto controlamos. Nossas contradições complicam nossa
evolução. Sem evolução nossos projetos
não conseguem sair do previsível; sem ousadia colhemos frutos medíocres.
Conhecemos escolas que, nas
mesmas condições que muitas outras ao seu redor, se destacam, avançam, se
renovam. Por que umas sim e muitas outras, não? Porque por trás há pessoas com
iniciativa, que agregam, apoiam, perseveram. É viável melhorar nossa educação,
com um pouco de boa vontade, com maior atenção, com profissionais que aproveitem
tantas oportunidades de aprender. É chocante num mundo conectado - que oferece
infinitas possiblidades de atualização - constatar o conformismo de muitos
docentes e gestores, que repetem modelos superados, dão aulas de forma
burocrática; não se preocupam de verdade pelos estudantes e que tanto lhes faz
se os alunos aprendem ou não. São profissionais com formação deficiente, com
pouca iniciativa, com pouco apoio, com gestão burocrática. Felizmente temos, em
contrapartida, docentes e gestores dedicados, que se atualizam, ousam e dão o
melhor de si.
Se uma sociedade acredita que
educação é importante precisa aprender com os países que há décadas vem
investindo de verdade: valorização docente, formação continuada, avaliação
contínua, boa infraestrutura. Sem isso dependeremos do trabalho abnegado de uma
parte dos profissionais, que carrega o piano, enquanto outros se fazem de desentendidos,
mal encostando o ombro. Escolas transformadoras só acontecem onde há pessoas
transformadas, evoluídas, criativas e empreendedoras.
Texto de José Moran, publicado em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2017/04/transformando.pdf
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