Mudanças necessárias na eucação, hoje
O desafio fundamental da escola, para acompanhar as mudanças do mundo, é evoluir
para ser mais relevante e conseguir que todos aprendam de forma competente a conhecer,
a construir seus projetos de vida e a conviver com os demais. Os processos de
organizar o currículo, as metodologias, os tempos e os espaços precisam ser
revistos. Isso é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos
modelos prévios bem sucedidos para aprender de forma flexível numa sociedade altamente
conectada.
Em educação – em um período de
tantas mudanças e incertezas - não devemos ser xiitas e defender um único
modelo, proposta, caminho. Trabalhar com modelos flexíveis com desafios, com
projetos reais, com jogos e com informação contextualizada, equilibrando colaboração
com a personalização é o caminho mais significativo hoje, mas pode ser planejado
e desenvolvido de várias formas e em contextos diferentes. Podemos ensinar por
problemas e projetos num modelo disciplinar e em modelos sem disciplinas; com modelos
mais abertos - de construção mais participativa e processual - e com modelos
mais roteirizados, preparados previamente, mas executados com flexibilidade e
forte ênfase no acompanhamento do ritmo de cada aluno e do seu envolvimento
também em atividades em grupo.
Os avanços tecnológicos trazem
para a escola a possibilidade de integrar os valores fundamentais, a visão de
cidadão e mundo que queremos construir, as metodologias mais ativas, centradas
no aluno com a flexibilidade, mobilidade e ubiquidade do digital. Um dos
modelos mais interessantes de ensinar hoje é o de concentrar no ambiente
virtual o que é informação básica e deixar para a sala de aula as atividades
mais criativas e supervisionadas. É o
que se chama de aula invertida. A combinação de aprendizagem por desafios,
problemas reais, jogos, com a aula invertida é muito importante para que os
alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam, também, no seu próprio ritmo.
Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos cada vez estão mais presentes
no cotidiano escolar. Para gerações acostumadas a jogar, a de desafios,
recompensas, de competição e cooperação é atraente e fácil de perceber.
As competências digitais são
importantes para pesquisar, ensinar, aprender, ser conhecido, realizar
atividades de múltiplas formas, compartilhar aspectos significativos da vida. As
tecnologias nos libertam das tarefas mais penosas – as repetitivas – e nos
permitem concentrar-nos nas atividades mais criativas, produtivas e fascinantes
(sem descuidar dos muitos problemas concomitantes).
As tecnologias permitem o
registro, a visibilização do processo de aprendizagem de cada um e de todos os
envolvidos. Mapeia os progressos, aponta as dificuldades, pode prever alguns
caminhos para os que têm dificuldades específicas (plataformas
adaptativas). Elas facilitam como nunca
antes múltiplas formas de comunicação horizontal, em redes, em grupos, individualizada.
É fácil o compartilhamento, a coautoria, a publicação, produzir e divulgar narrativas
diferentes. A combinação dos ambientes mais formais com os informais (redes
sociais, wikis, blogs), feita de forma inteligente e integrada, nos permite conciliar
a necessária organização dos processos com a flexibilidade de poder adaptá-los
à cada aluno e grupo.
Muitas escolas e professores
preferem neste momento manter os modelos de aulas prontas, com roteiros
definidos previamente. Dependendo da qualidade desses materiais, das atividades
de pesquisa e projetos planejados e da forma de implementá-los (adaptando-os à
realidade local e com intensa participação dos alunos) podem ser úteis, se não
são executados mecanicamente. Um bom professor pode enriquecer materiais
prontos com metodologias ativas: pesquisa, aula invertida, integração sala de
aula e atividades online, projetos integradores e jogos. De qualquer forma
esses modelos precisam também evoluir para incorporar propostas mais centradas
no aluno, na colaboração e personalização.
Estamos sendo pressionados para
mudar sem muito tempo para testar. Por isso é importante que cada escola defina
um plano estratégico de como fará estas mudanças. Pode ser de forma mais
pontual inicialmente, apoiando professores, gestores e alunos – alunos também e alguns pais – que estão mais
motivados e tem experiências em integrar o presencial e o virtual. Podemos
aprender com os que estão mais avançados e compartilhar esses projetos,
atividades, soluções. Depois precisamos pensar mais estruturalmente para
mudanças no médio prazo. Capacitar coordenadores, professores e alunos para
trabalhar mais com metodologias ativas, com currículos mais flexíveis, com
inversão de processos (primeiro atividades online e depois, atividades em sala
de aula). Podemos realizar mudanças incrementais, aos poucos ou, quando
possível, mudanças mais profundas, disruptivas, que quebrem os modelos estabelecidos.
Ainda estamos avançando muito pouco em relação ao que precisamos.
Hoje quem quer aprender, tem
oportunidades fantásticas de fazê-lo em qualquer área, em qualquer língua,
muitas vezes gratuitamente, independentemente de onde more. Só precisa querer, estar
conectado (um problema ainda), ter método e perseverar sempre. Aprender tem um
componente lúdico, prazeroso, mas também exige esforço, método, continuidade.
Muitos desistem de aprender antes de ter a rica experiência de gostar, de
encontrar sentido em evoluir e em realizar-se cada vez mais. As condições objetivas de tantos brasileiros
também dificultam esse avanço - miséria, desenvolvimento precário das
competências básicas cognitivas, sócio-emocionais e digitais - e os marginalizam de tantas possibilidades
existentes .
É complexo melhorar a
qualidade do sistema escolar, como um todo, num tempo curto. Faltam muitas
condições estruturais – carreira, formação, valorização de gestores e
professores. Precisamos de políticas consistentes para atrair os melhores
professores e gestores; remunerá-los bem e qualificá-los melhor; de políticas
inovadoras de gestão na educação, de currículos, metodologias e desenhos de
escolas mais inovadores. Precisamos também de investimentos em infraestrutura
melhores, espaços confortáveis, banda larga, tecnologias móveis, materiais
atraentes e uma política de recursos gratuitos abertos.
Se demorarmos a fazer essas
mudanças estruturais de forma séria, planejada e avaliada, ficaremos para trás
no médio prazo e teremos dificuldade em preparar as novas gerações para um
mundo muito diferente que já está aí. As escolas que não fizerem mudanças
importantes nos seus currículos, metodologias e tecnologias digitais, também
começarão pouco a pouco a perder alunos, a serem vistas como pouco relevantes.
Quanto mais avançadas tecnologias
temos, aumenta a importância dos profissionais competentes, confiáveis, humanos
e criativos. A educação é um processo de interação humana complexa e profunda,
com diferentes formas de integração entre o presencial e o online. Ensinamos e aprendemos mais e melhor – em
qualquer modalidade - quando o fazemos num clima de confiança, de incentivo, de
apoio, dentro de limites claros e negociados. Para isso precisamos de pessoas curiosas,
motivadas, afetivas e éticas, que gostem de aprender e de praticar o que
aprendem; suficientemente evoluídas para transmitir confiança, acolhimento e
competência com sua presença, falas, gestos e ações no contato presencial e
online.
Texto revisto e ampliado de Ensino e Aprendizagem
Inovadores com apoio de tecnologias,
in Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica, Campinas:
Papirus, 21ª Ed. 2014; p. 21-29.
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