Para onde caminhamos na educação
Caminhamos aceleradamente rumo a uma
sociedade muito diferente que em parte vislumbramos, mas que nos reserva
inúmeras surpresas. Será uma sociedade muito mais conectada, móvel, com
possibilidades de comunicação, interação e de aprendizagem muito mais
fascinantes ainda.
Todas as sociedades educam, transmitem seus
valores tradicionais e uma visão de futuro. Como será feito isto concretamente
daqui a vinte ou trinta anos, não o sabemos. Mas caminhamos para uma sociedade
cada vez mais complexa, pluralista, democrática. Por isso será necessário
aprender a construir um percurso intelectual mais difícil, cheio de inúmeras
ramificações e opções; aprender a conviver com as diferenças de visões de
mundo, de valores, de grupos; a fazer escolhas mais provisórias; aprender a
comunicar-nos de forma mais abrangente, integrada, participativa, equilibrando
o individual e o social. As decisões sociais serão mais debatidas ao vivo.
Haverá muitos mais referendos diretos, sem tantos intermediários.
A informação estará sempre mais disponível,
de muitas formas, por muitos canais. Quem quiser aprender, terá a sua
disposição muitas formas de fazê-lo, sozinho, em pequenos grupos; informal ou
formalmente, com tutoria ou de forma autônoma, com certificação ou sem ela.
Caminhamos da pobreza digital para a conectividade 24 horas, em qualquer lugar,
com múltiplos recursos, pessoais e digitais como robots. Precisaremos de
instituições sérias para ajudar-nos nos cursos de maior duração, nos que
certifiquem profissionalmente. Mas não precisaremos ir todo o dia a uma sala de
aula para aprender. Haverá formas muito ágeis, diversificadas, flexíveis,
adaptadas ao ritmo e necessidades de cada aluno para aprender e ajudar a
aprender.
As tecnologias evoluem muito mais
rapidamente do que a cultura. A cultura implica em padrões, repetição,
consolidação. A cultura educacional, também. As tecnologias permitem mudanças
profundas já hoje que praticamente permanecem inexploradas pela inércia da
cultura tradicional, pelo medo, pelos valores consolidados. Por isso sempre
haverá um distanciamento entre as possibilidades e a realidade. O ser humano
avança com inúmeras contradições, muito mais devagar que os costumes, hábitos,
valores. Intelectualmente também avançamos muito mais do que nas práticas. Há
sempre um distanciamento grande entre o desejo e a ação. Apesar de tudo, está
se construindo uma outra sociedade, que em uma ou duas décadas será muito
diferente da que vivemos até agora.
Aos poucos a escola se tornará mais
flexível, aberta, inovadora. Será mais criativa e menos cheia de imposições e
obrigações. Diminuirá sensivelmente a obrigação de todos terem que aprender as
mesmas coisas no mesmo espaço, ao mesmo tempo e da mesma forma.
Toda sociedade será uma
sociedade que aprende de inúmeras formas, em tempo real, com vastíssimo
material audiovisual disponível. Será uma aprendizagem mais tutorial, de apoio,
ajuda. Será uma aprendizagem entre pares, entre colegas, e entre mestres e
discípulos conectados, em rede, trocando informações, experiências, vivências.
Aprenderemos em qualquer lugar, a qualquer hora, com tecnologias móveis
poderosas, instantâneas, integradas, acessíveis. Não precisaremos ir a lugares
específicos, o tempo todo. Iremos para alguns contatos iniciais e para a
avaliação final. O restante
do tempo, estaremos conectados audiovisual e interativamente, quando o
quisermos, com quem quisermos. Haverá formas de acelerar o acesso à informação
(implantes e outros recursos que a nanotecnologia nos promete). Haverá máquinas
inteligentes (robots, em muitos aspectos mais inteligentes que os humanos). Por
isso, é impossível antecipar a educação do futuro, mas podemos apontar alguns
caminhos que nos ajudarão a mudar radicalmente o panorama atual tão conservador
e massificado que ainda temos atualmente.
Estamos caminhando para uma aproximação sem
precedentes entre os cursos presenciais (cada vez mais semi-presenciais) e os a
distância ou on-line. Teremos inúmeras possibilidades de aprendizagem que
combinarão o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do
virtual.
Em poucos anos dificilmente teremos um curso totalmente presencial. Por isso caminhamos para fórmulas diferentes de organização de processos de ensino-aprendizagem. Caminhamos rapidamente para a flexibilização progressiva e acentuada de cursos, tempos, espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias, avaliação. Isso nos obriga a experimentar pessoal e institucionalmente modelos de cursos, de aulas, de técnicas, de pesquisa, de comunicação. Todas as universidades e organizações educacionais, em todos os níveis, precisam experimentar novas soluções para cada situação, curso, grupo.
Com a educação on-line, com o avanço da banda larga, dos tablets, smartphones, a TV digital e toda a integração das mídias, teremos todas as possibilidades de aprender: de cursos totalmente prontos por videoaulas até os construídos ao vivo, com forte interação grupal, imersão sensorial e pouca previsibilidade. Realizaremos cursos totalmente personalizados e outros baseados em intensa colaboração. Teremos cursos totalmente digitais e outros híbridos, com momentos presenciais. Muitas pessoas aprenderão com outras e só se submeterão a algum tipo de avaliação final para fins de certificação.
Podemos pensar em cursos cada vez mais personalizados, mais adaptados à cada aluno ou grupos de alunos. Cursos com materiais audiovisuais e atividades bem planejadas e produzidas e que depois são oferecidos no ritmo de cada aluno, sob a supervisão de um professor orientador ou de uma pequena equipe, que colocam esse aluno em contato com grupos em estágios de aprendizagem semelhantes. Os professores agirão muito mais como tutores, como hoje acontece na pós-graduação. Acompanham o percurso dos alunos a eles confiados, e monitoram os projetos pedagógicos dos alunos individualmente e também em grupo; os supervisionam e gerenciam para que obtenham os melhores resultados. Os professores mapeiam a pesquisa, as atividades. Marcam algumas reuniões presenciais e outras virtuais. Trabalham de forma integrada com outros colegas nos mesmos projetos. O currículo é muito mais livre, escolhido de comum acordo entre alunos, professores e instituição. Há alguns momentos comuns presenciais e/ou virtuais (totalmente audiovisuais e interativos), mas, a maior parte do tempo, o processo é virtual e em tempos diferenciados.
Tudo isto exige uma pedagogia muito mais
flexível, integradora e experimental diante de tantas situações novas que
começamos a enfrentar.
Uma educação inovadora se apóia em um
conjunto de propostas com alguns grandes eixos que lhe servem de guia e de base:
o conhecimento integrador e inovador; o desenvolvimento da
auto-estima/auto-conhecimento (valorização de todos); a formação de
alunos-empreendedores (criativos, com iniciativa) e a construção de
alunos-cidadãos (com valores individuais e sociais).
São
pilares que, com o apoio de tecnologias móveis, poderão tornar o processo de
ensino-aprendizagem muito mais flexível, integrado, empreendedor e inovador.
____________________________
Este texto faz parte do meu livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá (5ª Ed, Campinas, Papirus, 2011), p. 145-148 (com atualizações).
Comentários