A transformação começa pelas pessoas

Educação como um processo de transformação profunda pessoal,

        em todas as dimensões e ao longo da vida



 José Moran

 Num mundo mais complexo e onde há tantas possibilidades em todos os campos, pessoais e profissionais, precisamos fazer cada vez mais escolhas. A educação – em todas as dimensões pessoais e sociais - é o caminho fundamental para ter condições de fazer escolhas mais significativas no campo intelectual, emocional, profissional e social na construção de uma vida mais plena de sentido e de realização

 A dimensão mais importante da Educação é de ajuda na transformação de cada pessoa, na idade em que está, no momento de vida em que se encontra para que consiga a partir daí evoluir o máximo que puder em todas as dimensões - cognitivas, socioemocionais, éticas e na integração consigo mesmo, com os diversos grupos e com o universo.

Essa transformação pessoal é progressiva, com ênfases diferentes e em ritmos diferentes, porque somos e aprendemos de formas diferentes.

Aprendemos ativamente desde que nascemos e ao longo da vida, em processos de design abertos, enfrentando desafios complexos, combinando trilhas flexíveis e semiestruturadas, em todos os campos (pessoal, profissional, social) que ampliam nossa percepção, conhecimento, competências para escolhas mais libertadoras e realizadoras. A vida é um processo de aprendizagem ativa, criativa, de enfrentamento de desafios mais complexos, de ampliação de horizontes, de práticas mais libertadoras.

Aprendemos na vida desde que nascemos a partir de situações concretas, que pouco a pouco conseguimos ampliar e generalizar (processo indutivo) e aprendemos também a partir de ideias ou teorias para testá-las depois no concreto (processo dedutivo) “não apenas para nos adaptarmos à realidade, mas, sobretudo, para transformar, para nela intervir, recriando-a” (FREIRE, 1996).

A Psicologia humanista afirma que aprendemos melhor em clima de confiança, liberdade e de afeto. Temos baseado a educação mais no controle do que no afeto, no autoritarismo do que na colaboração. “Talvez o significado mais marcante de nosso trabalho e de maior alcance futuro seja simplesmente nosso modo de ser e agir enquanto equipe. Criar um ambiente onde o poder é compartilhado, onde os indivíduos são fortalecidos, onde os grupos são vistos como dignos de confiança e competentes para enfrentar os problemas - tudo isto é inaudito na vida comum. Nossas escolas, nosso governo, nossos negócios estão permeados da visão de que nem o indivíduo nem o grupo são dignos de confiança. Deve existir poder sobre eles, poder para controlar. O sistema hierárquico é inerente a toda a nossa cultura”. (ROGERS, 1987, p.66).

Somos diferentes e aprendemos de formas diferentes. Aprendemos quando encontramos significação, valor, ligação com nossa vida, quando saímos da zona de conforto.

As pesquisas atuais de Neurociência e Psicologia comprovam que o processo de aprendizagem é único e diferente para cada ser humano, e que cada um aprende o que é mais relevante e que faz sentido para ele, que gera conexões cognitivas e emocionais. Também mostra como é importante a movimentação para aprender, envolvendo as crianças em todos os sentidos: visual, auditivo, espacial, corporal.

A aprendizagem é um processo muito mais amplo do que a escola. É 360º, constante, multidimensional, ao longo da vida. É complexo porque acontece de forma diferente para cada um e porque somos imperfeitos, enxergamos de forma parcial, convivemos com inúmeras contradições e tensões e incertezas nas escolhas, que precisam ser reavaliadas com frequência para contínua validação.

A psicologia cognitiva também mostra a importância do mindset ou mentalidade para a prontidão e ritmo da aprendizagem. Pessoas com uma mentalidade mais aberta podem aceitar melhor fracassos e desafios do que os de mentalidade mais fechada, que têm mais dificuldade em mudar e podem ter baixa autoestima. (DWECK 2006)

Ninguém pode aprender qualquer coisa se não estiver motivado. É necessário despertar a curiosidade, que é o mecanismo cerebral capaz de detectar a diferença na monotonia diária.

Nosso cérebro precisa emocionar-se para aprender. “A curiosidade, o que é diferente e se destaca no entorno, desperta a emoção. E com a emoção se abrem as janelas da atenção, foco necessário para a construção do conhecimento” (MORA, 2013). 

Aprendemos também de muitas maneiras, com diversas técnicas, procedimentos, mais ou menos eficazes para conseguir os objetivos desejados. A aprendizagem ativa aumenta a nossa flexibilidade cognitiva, que é a capacidade de alternar e realizar diferentes tarefas, operações mentais ou objetivos e de adaptar-nos a situações inesperadas, superando modelos mentais rígidos e automatismos pouco eficientes.

Desenvolvemos a plasticidade cognitiva e emocional através de desafios, experimentação, questionamentos, investigação, novos contextos, ambientes enriquecidos, pessoas diferentes, atividades diversificadas.

Aprendemos o que nos interessa, o que encontra ressonância íntima, que está próximo do estágio de desenvolvimento em que nos encontramos. Dewey (1950), Freire (1996), Ausubel (1980), Rogers (1973), Piaget (2006), Vygotsky (1998), Bruner (1978), entre tantos outros e de forma diferente, têm mostrado como cada pessoa (criança e adulto) aprende de forma ativa, a partir do contexto em que ela se encontra, do que lhe é significativo, relevante e próximo ao nível de competências que possui.

 

Pela educação de qualidade podemos construir caminhos – tortuosos e contraditórios muitas vezes- de desenvolvimento intelectual, emocional e ético para sermos mais coerentes entre nossas ideias e ações, evoluindo sempre mais ao longo da vida.  Isso exige avaliação contínua de ideias, atitudes, valores, rever muitas crenças, aprender a conviver com – e escolher -diferentes pessoas e situações.

A educação, sem dúvida, tem uma dimensão claramente social, de aprender com a experiência dos outros, de saber conviver com as diferenças, de contribuir para melhorar a sociedade em que nos encontramos. Mas possui também uma dimensão que não se valoriza muito hoje na escola: a do desenvolvimento pessoal integrado, constante e transformador. A educação pessoal acontece ao longo de nossa vida, no desafio maravilhoso de crescer, de evoluir mais em todas as áreas, de tornar-nos pessoas mais livres, de aprender a conviver com nossas dificuldades, de aprender a conviver com as pessoas, com os animais, com o planeta, com o universo.

A educação é eficaz quando consegue que cada um de nós se sinta motivado internamente a querer conhecer mais e a procurar mudar o seu comportamento, as atitudes e os valores ao longo da vida.

O maior desafio que temos é aprender a transformar-nos em pessoas cada vez mais humanas, sensíveis, afetivas e realizadas. De nada adianta, saber muito, se não o aplicamos nas nossas vidas.

 A educação é eficaz quando nos ajuda a enfrentar as crises, as etapas de incerteza, de decepção, de fracasso em qualquer área e nos ajuda a encontrar forças para avançar e achar novos caminhos de realização.

A educação é eficaz a longo prazo, quando, em determinados períodos, olhamos para trás e avaliamos o que construímos, onde avançamos, onde nos perdemos; e quando olhamos para o presente e analisamos se continuamos aprendendo, se nos sentimos pessoas mais amadurecidas emocionalmente, intelectualmente, eticamente.

Hoje estamos tão preocupados pelo julgamento social, que, muitas vezes, agimos como atores, representando papéis que nos desfiguram. A educação precisa insistir mais na aprendizagem a relacionar-nos com as nossas expectativas e contradições, na construção de uma identidade coerente, que integre o pessoal, o profissional e o social.

 

Educação como construção pessoal ao longo da vida

 Podemos transformar a nossa vida em permanente, paciente, afetuoso e emocionante processo de aprendizagem. Em todos os momentos, em todos os espaços, em todos os nossos tempos, em todas as situações podemos aprender muito ou pouco, dependendo da atitude profunda em relação à nossa motivação.

Quanto mais avançamos em idade, mais claramente mostramos o que aprendemos, o que somos, em que nos transformamos, o que é autêntico e o que não é. Cada um de nós, com o passar dos anos, vai revelando, por suas ações, atitudes e palavras sua linha do tempo da aprendizagem, seu grau de amadurecimento, autonomia e desenvolvimento  em todos os campos da vida.

A infância e a juventude são etapas de intensas e contraditórias descobertas, da construção difícil da identidade, valores, relacionamentos, competências pessoais, sociais e profissionais. Quanto maior o apoio familiar, escolar e social mais rico pode tornar-se esse processo, de intensa experimentação, abertura para o mundo e busca dos pró9prios caminhos.

Na idade adulta vamos definindo melhor nossos caminhos pessoais e profissionais. Uns conseguem trilhar caminhos pessoais e profissionais mais interessantes e desafiadores. Outros ziguezagueiam mais, se apegam a escolhas profissionais precárias ou possíveis. A forma como lidam com o cotidiano vai definindo o ritmo de cada vida, a capacidade de evoluir ou de acomodar-se de diversas formas e em diferentes áreas. Muitas decisões podem ser justificadas com motivos como “sustentar uma família”, “não perder um emprego”, “tentar levar adiante uma relação afetiva”.

Ao chegar na maturidade, vai ficando mais evidente para nós e para os que convivem conosco nossa trajetória: o que somos realmente, nossos pontos fortes e frágeis, o que conseguimos e o que deixamos de lado. Pode ser uma etapa muito rica de revisão de vida, de liberar-nos de muitos pesos que nos complicam e de buscar novos desafios, levar a vida com mais leveza, humor e novos projetos, no meio da percepção de um certo declínio físico.

Diferentes correntes da Psicologia comprovam que bons relacionamentos nos mantêm mais saudáveis: protegem nossos corpos, nossas mentes e tornam a vida mais interessante.[1]

Enquanto alguns avançam na aprendizagem, muitos desistem. Como não conseguiram realizar alguns dos grandes sonhos – que nem sempre eram deles, mas plantados por terceiros – acreditam que não vale a pena ir além. Procuram fora de si motivos para continuar vivendo: em momentos de entretenimento, de ocupação, de sobrevida. Aprendem pouco com o cotidiano: são como náufragos, a deriva, que só pensam em continuar vivos. “Vão vivendo”, contentando-se com suas expectativas mínimas, com suas receitas repetidas, com o arroz e feijão básicos, sem degustar tantos outros manjares possíveis.

Cada etapa da vida tem seu fascínio, seus motivos para gostar de aprender mais. Esse é um dos encantamentos da vida: poder evoluir, crescer, ser pessoas mais plenas, mesmo com muitas contradições, dificuldades e perplexidades. Vale a pena sempre manter a atitude positiva, ativa, curiosa, atenta de querer aprender sempre mais, de fazer a ponte entre o exterior e o interior, entre o social e o pessoal, entre o intelectual, o emocional e o comportamental.

O desafio mais interessante da nossa vida é transformá-la em um processo contínuo de aprendizagem, de evolução e de realização – no meio de contradições; um processo cada vez mais pleno, autêntico, rico e profundo.

 

A importância do Projeto de Vida para docentes e estudantes

Projeto de Vida é um tema antigo, que ganha urgência e relevância num mundo em profundas transformações, que exige aprender de forma ativa, criativa, empreendedora e colaborativa em todos os espaços formais e informais e em todas as modalidades, fases e tempos da vida.

Um projeto de vida é um programa ativo, aberto e flexível que cada pessoa pode elaborar – com tutoria ou não - para orientar sua própria existência, num processo de revisão constante e de transformação crescente em todas as dimensões.  Num sentido amplo, vai além da Escola e é do interesse de todos (crianças, jovens e adultos), porque ajuda a propor perguntas fundamentais, a buscar as respostas possíveis, a fazer e avaliar escolhas difíceis tanto no campo pessoal como no profissional.

Como adultos constatamos como algumas ideias, valores e visões de mundo que aprendemos em casa, na escola e na igreja - que nos pareciam sólidos e definitivos - se revelaram, com o tempo, incoerentes e problemáticos; levando-nos a decisões, muitas vezes, complicadas e prejudiciais. O Projeto de vida pode ajudar-nos a tornar mais conscientes nossa forma de enxergar o mundo, nossos valores e escolhas num movimento contínuo de encantamento, avaliação e reconstrução de experiências, projetos, realizações, assumindo os desafios que nos sejam possíveis em cada momento, sem colocar-nos metas impossíveis ou impostas só por fatores externos. Desenvolvemos assim, simultaneamente, um bonito e delicado trabalho de desconstruir o que já não nos serve mais, de manter o que ainda consideramos válido atualmente e de construir novos caminhos incertos e promissores. 

As ideias de ROGERS (1982), D´ANGELO (2002) MORIN (2000) e FREIRE (1997) fundamentam a importância da pensar o projeto de vida como um projeto de aprendizagem integral em contextos de liberdade, de competências e transformação social.  Diversas pesquisas mostram que metade dos estudantes não encontra significado no que está estudando, principalmente no ensino médio. A aprendizagem ativa, por competências, entre elas a gerenciar o Projeto de vida é fundamental para que eles encontrem sentido e propósito no que estudam e fazem.

Preparar crianças e jovens para enfrentar os desafios de sua própria vida, é condição essencial para a sua formação integral do profissional, para que estejam preparados para enfrentar os desafios da vida profissional-pessoal-social, numa ação transformadora e autotransformadora.

O Projeto de vida é um caminho importante para crianças e jovens encontrem – num clima de confiança, acolhimento e colaboração - relevância, sentido e propósito em tudo o que aprendem dentro e fora da Escola, como parte de um movimento amplo de transformação da Escola como um todo (currículo por competências, metodologias ativas, redesenho dos espaços, da avaliação, com forte inserção na cidade e também no mundo digital).  O projeto de vida é importante para estudantes da Educação Básica, Superior, de Jovens e Adultos.

Também é relevante para que docentes, gestores e pais mudem sua forma de pensar e de agir. Sem desenvolvimento pessoal, não há transformações profundas. Docentes ensinam mais com o exemplo que com as palavras; docentes desanimados não encantam ninguém.[2]

De acordo com Carol Ryff, o bem-estar psicológico é composto por três pilares principais: propósito, crescimento pessoal e autoestima. O propósito refere-se à capacidade de estabelecer metas e aspirações que dão sentido à vida. O crescimento pessoal envolve a busca contínua por desenvolvimento e aprimoramento. Já a autoestima refere-se à autoimagem positiva e à aceitação de si mesmo. Juntos, esses três elementos contribuem para uma vida mais plena e satisfatória, conforme a perspectiva da psicologia positiva. 

A teoria de Ryff destaca que o bem-estar não é apenas a ausência de problemas, mas a presença de fatores positivos que impulsionam a realização pessoal e a felicidade. O propósito, por exemplo, pode ser encontrado em diferentes áreas da vida, como a carreira, relacionamentos ou atividades voluntárias. O crescimento pessoal, por sua vez, envolve a busca por aprendizado constante, a superação de desafios e a busca por novas experiências. A autoestima, por fim, é fundamental para a saúde mental e para a capacidade de lidar com as adversidades da vida. 

Esses três pilares do bem-estar, segundo Ryff, estão interligados e se influenciam mutuamente. Uma pessoa com um forte senso de propósito tende a buscar mais oportunidades de crescimento pessoal e a desenvolver uma autoimagem mais positiva. Da mesma forma, uma pessoa com alta autoestima tende a se sentir mais confiante para estabelecer e alcançar seus objetivos. 

Portanto, ao buscar o bem-estar psicológico, é importante considerar esses três elementos e buscar formas de desenvolvê-los em sua vida. A busca pelo propósito, o investimento no crescimento pessoal e a construção de uma autoimagem positiva são passos importantes para uma vida mais feliz e realizada. 

 

 

Contradições

Por que temos tantas dificuldades em transformar a educação? São inúmeros os fatores que explicam a lentidão.

Há condições estruturais que dificultam a mudança e que são essenciais para uma transformação mais consistente, sistemática na educação do pais: não conseguimos atrair com os baixos salários e valorização profissional os melhores gestores e docentes possíveis. Nossas políticas públicas não têm continuidade e consistência, excesso de burocracia, visão mercantilista em diversos grupos privados, cultura tradicional de boa parte da sociedade, incluindo os alunos.

As expectativas e valores de diversos grupos sociais são diferentes, com pouca convivência e vontade de entendimento. A sociedade está muito dividida. É complicado discutir valores semelhantes com ideologias diferentes em clima de enfrentamento. Muitos pais querem uma escola forte em conteúdo, que prepare bem para entrar nas melhores universidades, enquanto outros buscam um equilíbrio entre conteúdo e competências socioemocionais. Uma parte dos pais defende que seus filhos participem em projetos reais desafiadores, enquanto outros têm uma visão protecionista, querem dar tudo pronto aos filhos para que não sofram, o que costuma expressar-se em falta de limites, algum grau de narcisismo e de passividade diante do conhecimento.

Há visões muito diferentes de mundo e de sociedade, que se refletem nos projetos educacionais. Há escolas mais rígidas ou mais flexíveis, mais centradas na autoridade ou mais democráticas; escolas com valores sustentáveis e inclusivos ou mais excludentes; mais conteudistas ou mais centradas em valores e competências; mais convencionais ou mais inovadoras.

Existem escolas e universidades interessantes, com projetos mais avançados, que atraem bons gestores, docentes e alunos; que redesenham os espaços, o currículo, as metodologias e a avaliação.  O número está aumentando, mas a grande maioria precisa evoluir bastante.

Não é fácil mudar décadas de ensino convencional, no modelo industrial. A mudança cultural na forma de ensinar e de aprender é muito desafiadora para boa parte da sociedade, dos estudantes, docentes e gestores.

É frequente observar Instituições em condições semelhantes que se encontram em estágios diferentes de transformação. Em muitas instituições, o discurso é mais avançado que a prática. Falam em inovação e transformação, mas algumas contradições dificultam conseguir avanços mais rápidos e profundos. De um lado, o projeto pedagógico está bem atualizado, mas na sua execução parte dos docentes desenvolve práticas avançadas enquanto outra permanecem nas convencionais. Não há sintonia, interação, compartilhamento real das práticas, mesmo que, aparentemente, todos sigam as mesmas diretrizes.

Além das questões pedagógicas e organizacionais, há questões de desenvolvimento pessoal integral. Há um descompasso entre ideias, valores e ações. Muitos gestores e docentes sentem dificuldade de sair do caminho previsível, de experimentar. Também não é simples conviver, chegar a acordos verdadeiros, planejar e trabalhar juntos.

 A escola - básica e superior - é feita por pessoas e sua transformação, também. Muitos gestores, docentes, estudantes e famílias sentem-se inseguros no processo, resistem intimamente, hesitam ou postergam a aprendizagem de novas metodologias, tecnologias, processos. Uma parte boicota silenciosamente o projeto e torna mais lenta a sua adoção na prática. Onde há avanços menores, existe algum grau de dificuldade de entendimento real, de acertar as diferenças, falta algum nível de comunicação verdadeira.

O grande problema das organizações é a dificuldade em dialogar no sentido profundo, em alinhar seus processos, valores, ritmos. Algumas organizações acertam de verdade as diferenças; em outras, as aparências enganam, há uma luta encoberta; umas conversam de verdade, enquanto outras vivem tensões mal resolvidas, com grupos que se fecham entre si e boicotam os que querem mudar.

A dificuldade mais estrutural de mudar está atrelada a dificuldades que parecem simples de resolver, mas que nos complicam: um certo individualismo, estreiteza mental e emocional, que privilegia as soluções que  deixar como está,  estreiteza mental e emocional, personalismo, que nos mantêm em condomínios à desigualdade profunda que construímos nos últimos anos – apesar dos avanços -  à dificuldade em buscar soluções conjuntas, de entender o diferente. Vivemos – a maioria - em casulos, em condomínios pequenos físicos e mentais, apegados a valores muito rasteiros que nos mantêm presos a valores muito simplórios, que dificultam nosso caminhar para tornar-nos mais livres, solidários, menos desiguais.

Os avanços na educação também são dificultados pelo incremento de alguns grupos econômicos, principalmente grandes, com foco no mercado. São empresas empreendedoras, que veem a educação como investimento econômico, e estão mais atentas ao retorno financeiro do que a melhorar a qualidade da aprendizagem dos alunos. Trabalham com escala, turmas grandes, pouca valorização docente e uso intensivo de tecnologias para baixar custos.

Mesmo grupos avançados em ideias têm dificuldade em trabalhar em parceria; cada um cuida da sua empresa, sua Startup, sua ONG, da promoção da sua solução, do seu negócio; cada um se acha intimamente melhor que o outro e tem dificuldade em colaborar de verdade com os demais. Os modelos de corrupção, de oferecer vantagens também acontecem na educação. A nossa legislação complexa, burocrática de avaliação predominantemente quantitativa, complica ainda mais os que têm medo de ousar: preferem atender o MEC, preencher os indicadores previstos, conseguir bons resultados oficiais.

Em síntese, encontramos organizações com todas as condições para inovar, que o fazem de forma parcial e contraditória e, ao lado, outras, com muitos menos recursos, que conseguem desenvolver projetos mais arrojados e coerentes com o que se espera de um mundo conectado. É importante conhecer os modelos das escolas muito inovadoras, porque sinalizam uma tendência irreversível para as demais, no médio prazo.

Há uma pressão enorme por mudanças na educação em todos os níveis. Essa pressão é benéfica para todos e acelerará o ritmo das transformações. Num mundo multicultural, permanentemente conectado e em profunda transformação, faz todo sentido a educação baseada em valores, desenvolvimento de competências e aprendizagem por projetos. As aprendizagens por experimentação, por design, a aprendizagem maker são expressões atuais da aprendizagem ativa, personalizada, compartilhada.

A maior parte das escolas está ainda muito distante desses modelos inovadores, presa a currículos disciplinares, a tempos muito definidos, a privilegiar o conhecimento intelectual, o conteúdo, a prova. Muitas estão realizando transformações num ritmo mais lento, caminho de forma progressiva dos modelos disciplinares para modelos por competências e projetos.

 

Algumas Questões para pesquisa e aprofundamento do tema Gestão do desenvolvimento pessoal:

Como acelerar a transformação pessoal?

·       Autoaprendizagem:  Motivação intrínseca

ü  valor, significado, interesse, descoberta, propósito.

ü  autoconhecimento. Aprendendo com o erro, fracasso. Modificando a visão, os hábitos, avaliação contínua.

·       Motivação extrínseca: diversos tipos de recompensas ou formas de pressão

·       Formação ativa continuada:

ü  acolhimento, diálogo, escuta atenta

ü  grandes perguntas, investigação, reflexão, aplicação, avaliação

ü  Modificação de crenças, atitudes, valores. Novas práticas, hábitos.

ü  Pela experimentação (metodologias ativas, ágeis, imersivas).

ü  Através de desafios: Jogos, gamificação, simulação

ü  Aprendendo pelas narrativas: histórias, imaginação, pondo-se em lugar do outro

·       Por processos de mentoria, orientação. Pelo exemplo de pessoas inspiradoras.

·       Por aprendizagem entre pares: Compartilhamento de vivências, experiências, ideias, projetos, visão

 

Algumas referências

D´ANGELO, Ovidio. Proyecto de vida y desarrollo integral humano.. Puerto Rico - Revista Internacional Crecemos.- Año 6 No. 1 y 2, 2002. Disponível em https://biblioteca.clacso.edu.ar/Cuba/cips/20150429033758/07D050.pdf

DEWEY, J. Vida e Educação. São Paulo: Nacional. 1959a

DWECK, Carol S. DWECK, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. Tradução de Sônia Costa. São Paulo: Objetiva, 2017.

FODRA, Sandra. O Projeto de Vida no Ensino Médio: O olhar dos professores de História. Disponível em https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/9884/1/Sandra%20Maria%20Fodra.pdf

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Rio: Paz e Terra, 1997.

MORA, FranciscoNeuroeducación: sólo se puede aprender aquello que se amaMadrid: Alianza Editorial, 2013.

MORAN, Jose. Aprendendo a desenvolver e orientar projetos de vida. Disponível em https://moran.eca.usp.br/wp-content/uploads/2013/12/projetos_vida.pdf

___________. Construindo novas narrativas significativas na vida e na educação. Disponível em https://moran.eca.usp.br/wp-content/uploads/2016/04/construindo.pdf

MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Trad. de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 2ª. Ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.

ROGERS, Carl. Libertad y creatividad en la educación. Barcelona: Paidós, 1982.

____________.  Liberdade para Aprender. Belo Horizonte: Ed. Interlivros, 1973



[1] Ver os princípios da Psicologia Positiva de Martin Seligman. https://www.sbcoaching.com.br/blog/martin-seligman-psicologia-positiva/

[2] Texto meu mais desenvolvido em Desafios na implementação do Projeto de Vida

na Educação Básica e Superior, disponível no meu blog da USP em http://bit.ly/2RyIljv

 

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