Gerenciando melhor os desafios da vida
José Moran[1]
Aprender a
viver é um processo complexo e diferente para cada um. Uns vivem no piloto
automático, sempre ocupados, repetindo rotinas, apagando incêndios, sem tempos
de parada e reflexão. Outros, no meio de muitas atividades, procuram encontrar
alguns momentos de reflexão, de avaliação e de prospecção dos próximos passos.
Controlamos melhor algumas situações do que outras. Algumas nos desestruturam
mais; outras, menos. Somos fortes para enfrentar alguns desafios e frágeis para
dar conta de outros.
Cada um
reage de forma diferente a desafios semelhantes. Em determinados períodos conseguimos manter
uma relativa paz e uma visão mais otimistas. Em outros, nos deixamos dominar
pela inquietação, angústia, desânimo ou depressão. Os mesmos acontecimentos
produzem impactos distintos em cada um. Tem pessoas que procuram reagir mais
rapidamente a problemas, enquanto outras remoem e se enredam neles.
Cada um, do
seu jeito e no seu próprio ritmo, tenta fazer o que lhe parece mais adequado para
dar conta de tantas variáveis diferentes. Mas, frequentemente, concentramos
nossa energia em algum objetivo ou situação (trabalho, projeto) e damos menos
atenção a outras pessoas ou atividades. Isso gera tensões, desencontros, instabilidade
até que conseguimos um equilíbrio maior, sempre instável.
Nossa formação muito conteudista e cognitiva contribui para a construção de pessoas incompletas, com valores e competências desequilibrados. Vejo alguns excelentes profissionais (médicos, engenheiros...) com comportamentos emocionais e éticos deploráveis. É cada vez mais importante a educação integral de todos na família e na escola, principalmente, desenvolvendo competências amplas e valores sustentáveis e solidários. Uma educação menos competitiva e mais inclusiva, com muitas experiências de contato com dimensões da vida diferente, que nos tirem das bolhas e nos abram os olhos para a realidade desigual e injusta da maioria.
O
que mais lembro da minha formação não são das aulas, mas de alguns projetos voluntários
que me aproximaram de crianças e adultos pobres, doentes físicos ou mentais. Aprender
a conviver de perto com as diversas manifestações da complexidade da vida é o
melhor caminho para o desenvolvimento integral, para ampliar meus horizontes,
desenvolver a empatia, a escuta aberta e para viver uma vida com maior
significado e engajamento.
A vida é um
sistema de pesos e contrapesos, de escolhas que afetam outras, de
interações pessoais e sociais que me desbordam. É difícil manter
sempre o bem-estar, a paz, porque sou bombardeado por milhares de
mensagens contraditórias, de situações inesperadas, que tendem a desestabilizar-me,
preocupar-me ou distrair-me. O tempo todo caminho numa corda bamba, entre o
equilíbrio e a ameaça de tropeçar.
Aprender
a viver é uma arte, uma ciência e um processo em construção constante e
diversificada e que se torna mais complexo quando se aproxima da maturidade e
da velhice, ao perceber que a saúde se deteriora, que vou perdendo pessoas
queridas e que em muitas áreas estou ficando defasado.
É
importante aprender a gerenciar bem cada etapa de minha vida.
Aprender a viver uma vida com significado, equilibrando-me no meio de situações
previsíveis e as que me surpreendem, desafiam, desestruturam, caminhando como
equilibrista com vários pratos que rodam no ar.
Posso
aprender a viver de forma autodirigida, procurando ampliar minha curiosidade e conhecimento
de forma mais abrangente e profunda; fazer o melhor, evoluindo no ritmo
possível, mantendo a esperança no meio de dificuldades, vivendo cada dia com
maior bem-estar e paz. Isso implica em sair do “piloto” automático, em
projetar, agir, avaliar e replanejar continuamente minhas escolhas numa
perspectiva mais ampla, integradora e inclusiva.
As melhores experiências de aprendizagem, muitas vezes, só podem ser encontradas fora dos caminhos habituais. Habitualmente sigo rotinas e trilhas conhecidas. Isso me poupa energia e dá segurança. Ao mesmo tempo, sempre que possível, me ajuda muito participar de experiências diferentes, menos planejadas, mais abertas como pesquisar temas ou participar de eventos menos familiares.
Aprendo melhor combinando trilhas conhecidas com
outras que nos desafiam. A educação escolar precisa dar mais atenção à gestão ativa
do autoconhecimento, desenhando no currículo intencionalmente situações em que
cada um faça mais escolhas, tenha seus tempos de pesquisa e reflexão e que
avalie também os processos de aprendizagem em grupo. Algumas escolas reservam
no começo e final de cada dia tempos de reflexão e avaliação dos estudantes
sobre o que foi significativo para cada um e para o grupo.
A vida me
oferece imensas oportunidades de aprender sempre, de corrigir alguns erros, de
rever algumas decisões, de perdoar (a mim e aos que me prejudicaram de alguma
forma), de desapegar-me progressivamente (até onde for possível) do que me complica,
prende ou imobiliza. Uns conseguem aprender a perdoar desde jovens e a explorar
novas possibilidades. Outros vão acumulando mágoas e ressentimentos durante
décadas, constroem muros, se fastam de pessoas e se fecham em si mesmas,
complicando seu desenvolvimento harmônico e seu bem-estar. Questões mal
resolvidas atrasam minha evolução, complicam minhas decisões e a convivência
com os demais.
A
aprendizagem mais difícil e necessária, quando vou amadurecendo e envelhecendo,
é a de seguir empreendendo, amando e evoluindo cada dia, procurando ser uma pessoa
melhor, mais acolhedora, simples e coerente, no meio das limitações físicas
crescentes. Os desafios aumentam, mas tentarei enfrentá-los com realismo, avançando
no desapego de tudo o que me prende, sem ser um fardo pesado para as pessoas
que estão ao meu lado. Quero aprender até o fim, evoluir até o último dia, sinalizando
para todos quão fascinante é a aventura de uma vida com significado e propósito.
[1] Professor
e pesquisador de projetos educacionais inovadores. Autor do blog Educação Transformadora
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