O Ensino Híbrido: emergência ou tendência?
José Moran - Blog Educação Transformadora
No Brasil, o híbrido começou nos anos 90 como
semipresencial. No Ensino Superior os cursos presenciais podiam incluir até
vinte por cento de atividades a distância. Em países de língua inglesa predominou
o termo b-learning ou blended learning, (aprendizagem bi modal ou
misturada). No Brasil esse termo foi traduzido nos últimos anos como Ensino
Híbrido, dando ênfase ao papel do docente no desenho de percursos
personalizados com apoio das plataformas e aplicativos digitais. Legalmente não
existe no Brasil a modalidade híbrida, porque o MEC só reconhece, até o momento,
o ensino presencial e a educação a distância. O Ensino Híbrido se expande, na prática,
no Ensino Superior, a partir da permissão de 40% de atividades a distância em
cursos presenciais e de 20%, na Educação Básica.
O ensino híbrido, na sua concepção básica, combina
e integra atividades didáticas em sala de aula com atividades em espaços
digitais visando oferecer as melhores experiências de aprendizagem à cada
estudante. No Ensino Híbrido o foco está mais na ação pedagógica dos docentes (no
planejamento, desenvolvimento e avaliação do processo). O conceito de educação
híbrida é mais abrangente ao envolver a toda a comunidade escolar no redesenho
das melhores combinações possíveis na integração de espaços, tempos,
metodologias, tutoria para oferecer as melhores experiências de aprendizagem à
cada estudante de acordo com suas necessidades e possibilidades.
E quais são as perspectivas a partir agora? Na
Educação Básica predominará a aprendizagem ativa em ambientes presenciais com
integração - sempre que necessário/possível - de plataformas, aplicativos e
atividades digitais. Continuarão os modelos mais conhecidos, como a aula
invertida, rotação por estações, rotação individual. Mas no Ensino Médio e nos
anos finais do Fundamental testaremos modelos mais personalizados e online,
como os modelos flex (roteiros personalizados online com o professor por
perto), a la carte (fazer um, ou mais módulos online) ou virtual
enriquecido (parte presencial, parte online). A hibridização será progressiva,
de acordo com a idade e o avanço do estudante no currículo e as condições de
acesso das escolas, docentes e estudantes. Os modelos híbridos predominarão no
Ensino Superior e na educação continuada nos próximos anos.
As arquiteturas pedagógicas serão mais
flexíveis, abertas, híbridas, personalizadas, ativas e colaborativas, com
diferentes combinações, arranjos, adaptações num país com realidades muito
desiguais. Os modelos híbridos se combinam, se integram e ganham relevância com
o foco na aprendizagem ativa dos estudantes, em que aprendem por descoberta,
investigação e resolução de problemas. Pressupõem uma escola bem conectada, com
oferta de computadores para todos, domínio das competências digitais por
professores, gestores e alunos e também acesso fácil também em outros espaços,
principalmente nas residências. Isto ainda está longe de ser viável para a
maioria, no curto prazo.
Além da infraestrutura precária,
muitos docentes trabalham em duas ou três escolas ou empregos, não são
valorizados, bem formados, e lhes custa sair dos modelos conteudistas. Também
muitas crianças e famílias ainda preferem o ensino convencional, mais centrado
no professor.
Os modelos ativos híbridos fazem mais sentido quando são organizados com políticas públicas sólidas, coerentes e com visão de longo prazo, (o que não vemos atualmente). Eles fazem mais sentido quando estão planejados institucionalmente e de forma sistêmica, como componentes importantes de reorganização do currículo por competências e projetos, de forma flexível, com diversas combinações de acordo com as necessidades do estudante (personalização), intenso trabalho ativo em equipes, tutoria/mentoria (projeto de vida) com suporte de multiplataformas digitais integradas. Apesar dos avanços, são muitos os desafios a enfrentar para termos uma educação híbrida de qualidade para todos.
Texto publicado no Blog Educação e Média do Jornal Gazeta do Povo. Disponível em: www.gazetadopovo.com.br/vozes/educacao-e-midia/o-ensino-hibrido-emergencia-ou-tendencia/
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