Metodologias ativas e modelos híbridos na educação
Publicado em YAEGASHI, Solange e outros (Orgs). Novas Tecnologias Digitais: Reflexões sobre mediação, aprendizagem e desenvolvimento. Curitiba: CRV, 2017, p.23-35.
Num
mundo em profunda transformação a
educação precisa ser muito mais flexível, híbrida, digital, ativa,
diversificada. Os processos de
aprendizagem são múltiplos, contínuos, híbridos, formais e informais,
organizados e abertos, intencionais e não intencionais. Hoje há inúmeros
caminhos de aprendizagem pessoais e grupais que concorrem e interagem
simultânea e profundamente com os formais e que questionam a rigidez dos
planejamentos pedagógicos das instituições educacionais.
A chamada
educação a distância precisa sair dos modelos conteudistas e incorporar todas
as possibilidades que as tecnologias digitais trazem: a flexibilidade, o
compartilhamento, ver-nos e ouvir-nos com facilidade, desenvolvimento de
projetos em grupo e individualmente, visualização do percurso de cada um,
possibilidade de criar itinerários mais personalizados. Precisa incorporar
também todas as formas de aprendizagem ativa que ajudam os alunos a desenvolver
as competências cognitivas e socioemocionais. Mais que educação a distância podemos
falar de educação flexível, online.
A maior
parte das instituições educacionais (presenciais/blended/online) está
preocupada em fazer mudanças, mas predominam os modelos de design fechado, de
sequência de roteiros iguais para todos, de ênfase mais no conteúdo do que nas
competências.
Algumas
dimensões estão ficando claras na educação formal: 1) o modelo blended, semipresencial, misturado, em
que nos reunimos de várias formas – física e digital – em grupos e momentos
diferentes, de acordo com a necessidade, com muita flexibilidade, sem os
horários rígidos e planejamento engessado; 2) Metodologias ativas: aprendemos
melhor através de práticas, atividades, jogos, projetos relevantes do que da
forma convencional, combinando colaboração (aprender juntos) e personalização
(incentivar e gerenciar os percursos individuais) e 3) O modelo online com uma
mistura de colaboração e personalização, em tempo real e através de
multiplataformas digitais moveis. Cada aluno desenvolve um percurso mais
individual e participa em determinados momentos de atividades de grupo. Uma
parte da orientação será via sistema (plataformas adaptativas com roteiros
semiestruturados, que respondem as questões mais previsíveis) e a principal
será feita por professores e tutores especialistas, que orientarão os alunos
nas questões mais difíceis e profundas.
A
combinação da aprendizagem ativa e hibrida com tecnologias moveis é poderosa
para desenhar formas interessantes de ensinar e aprender. A aprendizagem ativa
da ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto,
participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experimentando,
desenhando, criando, com orientação do professor; a aprendizagem híbrida
destaca a flexibilidade, a mistura e compartilhamento de espaços, tempos,
atividades, materiais, técnicas e tecnologias que compõem esse processo ativo.
Híbrido hoje tem uma mediação tecnológica forte: físico-digital, móvel, ubíquo,
realidade física e aumentada, que trazem inúmeras possibilidades de
combinações, arranjos, itinerários, atividades.[1]
Metodologias
são grandes diretrizes que orientam os processos de ensino e aprendizagem e que
se concretizam em estratégias, abordagens e técnicas concretas, específicas,
diferenciadas.
Metodologias
ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos
estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível,
interligada, híbrida. As metodologias ativas num mundo conectado e digital se
expressam através de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis
combinações. A junção de metodologias ativas com modelos flexíveis, híbridos
traz contribuições importantes para a o desenho de soluções atuais para os
aprendizes de hoje.
Aprendemos
de muitas maneiras, com diversas técnicas, procedimentos, mais ou menos
eficazes para conseguir os objetivos desejados. A aprendizagem ativa aumenta a
nossa flexibilidade cognitiva, que é a capacidade de alternar e realizar
diferentes tarefas, operações mentais ou objetivos e de adaptar-nos a situações
inesperadas, superando modelos mentais rígidos e automatismos pouco eficientes.
As
aprendizagens por experimentação, por design, aprendizagem maker, com apoio de tecnologias moveis, são expressões atuais da
aprendizagem ativa, personalizada, compartilhada. A ênfase na palavra ativa
precisa sempre estar associada à aprendizagem reflexiva, para tornar visíveis
os processos, os conhecimentos e as competências do que estamos aprendendo com
cada atividade. Aí que o bom professor, orientador, mentor é decisivo e a
tecnologia digital, também, porque visibiliza todo o processo de aprendizagem
de cada estudante para todos.
A
aprendizagem mais intencional (formal,
escolar) hoje se constrói num processo complexo e equilibrado entre três
movimentos ativos híbridos principais: a construção individual – em que cada aluno percorre e escolhe seu caminho, ao
menos parcialmente -; a grupal – em
que amplia sua aprendizagem por diferentes formas de envolvimento,
interação e compartilhamento de saberes, atividades e produções com seus
pares, com diferentes grupos, com diferentes níveis de supervisão docente e a tutorial, em que aprende com a
orientação de pessoas mais experientes em diferentes campos e atividades
(curadoria, mediação, mentoria).
Em todos
os níveis há ou pode haver orientação, supervisão e ela é importantíssima para
avançar mais profundamente na aprendizagem, mas na individual a
responsabilidade principal é de cada um, da sua iniciativa, do que é previsto
pela escola e do que ele constrói nos demais espaços e tempos. O mesmo acontece
na colaborativa: depende muito -mesmo com supervisão – da qualidade, riqueza e
iniciativas concretas dos grupos, dos projetos que desenvolvem, do poder de
reflexão e sistematização realizada a partir das atividades desenvolvidas. O
papel principal do especialista, do docente é o de orientador, de tutor de
estudantes individualmente e das atividades em grupo, em que os alunos são
sempre protagonistas.
Há
modelos pedagógicos diferentes dependendo dos objetivos, etapas de formação,
modelos de organização (de grande escala ou não). Predominam hoje os modelos
planejados previamente, que oferecem vídeos, textos atraentes, com links,
quizzes, discussões, produção e avaliação em tempos certos. O grande desafio é
combinar qualidade com quantidade, planejamento pedagógico estruturado e flexível;
atender a muitos ao mesmo tempo e conseguir que cada um encontre sentido e
relevância, podendo personalizar ao máximo o processo de aprender. Não é fácil,
mas há um movimento forte de busca de ecossistemas de aprendizagem que ofereçam
as melhores alternativas (blended/online) para as necessidades de cada pessoa.
A educação como um todo utiliza recursos, metodologias e tecnologias digitais
de forma cada vez mais explícita e significativa, compondo projetos pedagógicos
que se combinam entre o blended (com
diferentes graus de presença físico-digital) e o online (totalmente digital)
(BATES, 2015).
As
tecnologias permitem o registro, a visibilização do processo de aprendizagem de
cada um e de todos os envolvidos. Mapeiam os progressos, apontam as dificuldades,
podem prever alguns caminhos para os que têm dificuldades específicas
(plataformas adaptativas). Elas
facilitam como nunca antes múltiplas formas de comunicação horizontal, em
redes, em grupos, individualizada. É fácil o compartilhamento, a coautoria, a
publicação, produzir e divulgar narrativas diferentes. A combinação dos
ambientes mais formais com os informais (redes sociais, wikis, blogs), feita de
forma inteligente e integrada, nos permite conciliar a necessária organização
dos processos com a flexibilidade de poder adaptá-los à cada aluno e grupo.
Modelos pedagógicos inovadores
Há
inovações mais pontuais e inovações mais profundas (disruptivas) que afetam à
educação formal, em todos os níveis e formas de organizar-se (presencial, blended, distância), trazendo novas
configurações híbridas, dinâmicas, integradoras (HORN & STAKER, 2015).
Os
modelos educacionais (presenciais e online) mais inovadores apresentam algumas
características importantes, com ênfases diferentes:
Os ambientes são acolhedores: O
conjunto do ecossistema de ensino-aprendizagem é acolhedor. Quem entra nos
ambientes físicos e virtuais encontra gestores e docentes competentes e abertos
para ajudar a aprender; encontra estudantes engajados em atividades
desafiadoras, que os estimulam a participar, compartilhar, evoluir.
Os currículos são mais integrados, interligados:
interdisciplinares ou transdisciplinares, integram áreas de conhecimento de
várias formas (sem disciplinas ou com só algumas), são holísticos, com uma
visão humanista, sustentável e de competências amplas, com foco na aplicação
criativa dos conhecimentos em várias situações e contextos.
O
currículos combinam três processos de
forma equilibrada: a aprendizagem ativa personalizada (em que cada um pode
desenvolver uma trilha de aprendizagem adaptada ao seu ritmo, situação,
expectativas e estilo e também pode compor seu currículo escolhendo os módulos
e atividades mais pertinentes, com orientação de professores/mentores); a aprendizagem entre pares (com
diferentes grupos, em rede) e a
aprendizagem mediada por pessoas mais experientes (professores,
orientadores, mentores).
Os currículos são suficientemente flexíveis para que os
alunos possam personalizar seu percurso,
total ou parcialmente, de acordo com suas necessidades, expectativas e estilos
de aprendizagem e também para prever projetos e atividades significativos de
grupo, articulando a prática e a teoria. São híbridos, blended, com integração de tempos, espaços e atividades, que
propõem um “continuum” entre modelos com momentos mais presenciais e modelos
mais digitais, superando a dicotomia presencial x distância, combinando-as,
otimizando-as no que cada uma tem de melhor e no que é mais conveniente para a
aprendizagem de cada tipo de estudante.
As
plataformas adaptativas começam a organizar e monitorar essas trilhas
personalizadas, que se tornam visíveis em tempo real para alunos e tutores e
que permitem o compartilhamento em tempo real a partir de qualquer dispositivo,
principalmente dos smartphones.
Os
roteiros individuais se ampliam e combinam com os desafios e projetos em grupo,
entre pares, utilizando diversas estratégias ativas em que aprendem a partir de
situações reais (buscando soluções concretas, criativas, empreendedoras), de
simulações, jogos, construção de histórias, programando de forma mais intuitiva
(Scrath), compartilhando todas as descobertas, desenvolvendo um portfólio com
todas as produções realizadas. Um eixo transversal importante nos currículos é
a metodologia de design para projetos reais importantes, principalmente para o
desenho de projetos de vida, buscando o autoconhecimento, a percepção de algum
significado, relevância e visão de futuro com o apoio de
professores-orientadores/mentores.
O compartilhamento em tempo real é a chave da
aprendizagem hoje. Os aplicativos de comunicação como o Hangout e Skype
facilitam a interação de grupos, a discussão de projetos e ideias, a
apresentação de resultados e a orientação também mais personalizada.
A
combinação de metodologias ativas com tecnologias digitais móveis hoje é
estratégica para a inovação pedagógica. As tecnologias ampliam as
possibilidades de pesquisa, autoria, comunicação e compartilhamento em rede,
publicação, multiplicação de espaços, de tempos; monitoram cada etapa do
processo, visibilizam os resultados, os avanços e dificuldades. As tecnologias
digitais diluem, ampliam e redefinem a troca entre os espaços formais e
informais através de redes sociais e ambientes abertos de compartilhamento e
coautoria.
Outro
diferencial é a importância do contato
com o entorno, com o mundo, não só para conhece-lo, mas para contribuir com
soluções reais, com contato com a vida, com a cidade, com o mundo (redes,
comunidades) com as áreas profissionais desde o começo; uma troca rica com o
entorno. É a aprendizagem-serviço,
em que os alunos aprendem em contato com a comunidade e desenvolvem projetos
que beneficiam essa mesma comunidade. Não é só a saída para conhecer o mundo,
mas também para modifica-lo.
O papel do professor nos projetos inovadores
é muito mais amplo e avançado: É o de desenhador
de roteiros pessoais e grupais de aprendizagem, de mediador avançado que não está centrado só em transmitir
informações de uma área específica. O professor é cada
vez mais um coach, que orienta o
aprendizado, uma pessoa que ajuda os estudantes a elaborarem seus projetos de
aprendizagem.
As tecnologias digitais ajudam na tutoria
digital de primeiro nível, monitorando as dificuldades mais previsíveis. Cabe
aos especialistas a tutoria mais avançada, a de problematizar, ampliar
significados, ajudar na construção de sínteses. Aumenta a importância da mentoria, orientação mais personalizada
dos projetos pessoais/profissionais/ de vida, como um novo componente
curricular importante hoje. Também há
uma ênfase nova pela formação por
imersão, por supervisão para profissionais em estágios inicias (“clínicas”
para novos docentes, assim como acontece na residência médica na Saúde, que
podem ser oferecidas em novos formatos híbridos ou blended).
Os
processos de avaliação de aprendizagem
também são mais amplos e explicitam as relações entre habilidades cognitivas e
competências socioemocionais. A avaliação é um processo contínuo, flexível, que
acontece de várias formas: avaliação diagnóstica, formativa, mediadora;
avaliação da produção (do percurso - portfólios digitais, narrativas,
relatórios, observação), avaliação por rubricas - competências pessoais,
cognitivas, relacionais, produtivas - avaliação dialógica, avaliação por pares,
autoavaliação, avaliação online, avaliação integradora, entre outras. Os alunos
precisam mostram na prática o que aprenderam com produções criativas,
socialmente relevantes, que mostrem a evolução e percurso realizado.
Há novas formas de certificação – além das
acadêmicas - com cursos online (Moocs, nano-cursos), que geram
mini-certificações ou certificações específicas (como badges ou distintivos
compartilhados digitalmente), itinerários formativos flexíveis, que podem
compor um portfólio de comprovação de competências mais abrangente e
personalizado para a vida profissional e para a vida.
Algumas técnicas interessantes para a aprendizagem ativa com tecnologias digitais
Todas as instituições podem
implementar o ensino híbrido, misturado, tanto as que possuem uma infraestrutura tecnológica
sofisticada como as mais carentes. Todos os professores, também. Em escolas com
menos recursos, podemos desenvolver projetos significativos e relevantes para
os alunos, ligados à comunidade, utilizando tecnologias simples como o celular,
por exemplo, e buscando o apoio de espaços mais conectados na cidade. Embora ter boa infraestrutura e recursos traz
muitas possibilidades de integrar presencial e online, conheço muitos
professores que conseguem realizar atividades estimulantes, em ambientes
tecnológicos mínimos.
Podem inverter o modelo
tradicional de aula, com os alunos acessando os vídeos e materiais básicos
antes, estudando-os, dando feedback para os professores (com enquetes, pequenas
avaliações rápidas, corrigidas automaticamente). Com os resultados, os
professores planejam quais são os pontos mais importantes para trabalhar com
todos ou só com alguns; que atividades podem ser feitas em grupo, em ritmos
diferentes e as que podem ser feitas individualmente.
A combinação de aprendizagem por
desafios, problemas reais, jogos, com a aula invertida é muito importante para
que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam, também, no seu
próprio ritmo. Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos cada
vez estão mais presentes no cotidiano escolar. Para gerações acostumadas a
jogar, a de desafios, recompensas, de competição e cooperação é atraente e
fácil de perceber.
O papel do professor é mais o de
curador e de orientador. Curador, que escolhe o que é relevante entre tanta
informação disponível e ajuda a que os alunos encontrem sentido no mosaico de
materiais e atividades disponíveis. Curador, no sentido também de cuidador: ele
cuida de cada um, dá apoio, acolhe, estimula, valoriza, orienta e inspira.
Orienta a classe, os grupos e a cada aluno. Ele tem que ser competente
intelectualmente, afetivamente e gerencialmente (gestor de aprendizagens
múltiplas e complexas). Isso exige profissionais melhor preparados,
remunerados, valorizados. Infelizmente não é o que acontece na maioria das
instituições educacionais.
E importante conhecer o aluno: onde está, suas expectativas, onde se
encontra e também suas dificuldades concretas; perguntar mais aos alunos, pedir
que contem sua história, que gravem um vídeo com suas expectativas; acolhe-los,
incentiva-los. E as tecnologias facilitam a visualização, acompanhamento e
interação com cada estudante.
Incentivar as escolhas mais personalizadas: Os alunos negociam com o
orientador seus caminhos de aprendizagem e desenvolvem itinerários parcialmente
diferentes. Esses caminhos são visualizados em portfólios digitais, que mostram
todo o percurso de um, suas aprendizagens, projetos, competências
desenvolvidas. Dar ênfase ao projeto integrador em pequenos grupos e ao
desenvolvimento de projetos reais (sempre que possível).
Aumenta a integração entre plataformas
mais estruturadas, como o Moodle com aplicativos e redes mais abertos. A
combinação de plataformas e redes sociais é poderosa. As redes trazem
informalidade, rapidez e mobilidade em tempo real. As plataformas são
importantes para organizar processos mais complexos, com turmas diferentes, com
cursos diferentes. Elas avançam em módulos por competências, se tornam mais
adaptativas (monitoram mais cada aluno) e começam a sugerir alternativas para a
aprendizagem personalizada. Avança também a tutoria “inteligente” de primeiro
nível, aplicativos que respondem as questões mais previsíveis. O papel do tutor
será cada vez mais ajudar o aluno nas questões mais complexas, realizando uma
tutoria mais avançada.
O contato audiovisual, em tempo
real, acontece em todas as situações da vida. E fácil comunicar-se por vídeo e
voz em qualquer aplicativo digital. Faz
muita diferença o contato frequente, vendo-se, ouvindo-se. A Ead está passando
da fase online para a fase híbrida, com momentos de tutoria ao vivo, de contato
com os alunos em momentos ao vivo online. Isso traz muito dinamismo aos cursos,
maior sentimento de participação dos estudantes e permanência ao longo do curso.
A popularização do HangOut, do Skype e de outros aplicativos semelhantes torna
a experiência audiovisual fácil, importante e significativa.
Avança também o compartilhamento
de materiais, o incentivo a que os estudantes possam editá-los ou comentá-los,
tornando a experiência muito mais rica e atraente. O compartilhamento é uma das
chaves da aprendizagem hoje. Aplicativos como o Google docs ou Presentations
facilitam o compartilhamento e a coautoria. O compartilhamento acontece também
nas redes sociais, nas atividades de grupo, na troca incessante que
estabelecem, quando motivados. Na minha experiência de professor de cursos
online, esse recurso aumenta a participação, engajamento e predisposição dos
alunos para a leitura e motivação.
Outra dimensão que começa a ser
percebida também nos cursos online é relacionar os cursos ao projeto de vida do
aluno, que este perceba a aprendizagem específica dentro de contextos mais
amplos, onde aprende para ter uma vida com significado e não somente para
aumentar a empregabilidade. A mentoria é uma dimensão que cobra mais
importância para que o aluno se sinta mais acompanhado como pessoa,
principalmente em cursos de formação mais longos.
Alguns problemas no
atual EAD no Brasil
Muitas instituições banalizam a
EAD; pensam que é fácil, barata, com recursos mínimos e que qualquer um pode
trabalhar nela ou ser aluno. Muitos cursos são previsíveis, com informação
simplificada, conteúdo raso e poucas atividades estimulantes e em ambientes
virtuais pobres, banais. Focam mais conteúdos mínimos do que metodologias
ativas como desafios, jogos, projetos. Alguns materiais são inferiores aos que
são exigidos em cursos presenciais.
Contratam profissionais com pouca
experiência, mal remunerados, principalmente os tutores, sobrecarregados de
atividades e de alunos. As práticas laboratoriais e de campo muitas vezes são
quase inexistentes.
Muitos professores e alunos encontram
dificuldades maiores de adaptar-se à EAD do que eles imaginavam. Muitos
docentes e tutores não se sentem confortáveis nos ambientes virtuais, não tem a
disciplina necessária para gerenciar fóruns, prazos, atividades. A falta de
contato físico os perturba. O mesmo
acontece com parte dos alunos, pouco autônomos, com deficiências na formação
básica. Para muitos falta disciplina, gestão do tempo: se perdem nos prazos, na
capacidade de entender e acompanhar cada etapa prevista. Muitos demoram para
adaptar-se aos ambientes virtuais cheios de materiais, atividades, informações.
Sentem falta do contato físico, da turma, quando o curso é todo pela WEB. O
ambiente digital para quem não está acostumado é confuso, distante, pouco
intuitivo e agradável.
Há uma separação legal (dos órgãos
reguladores) e real (das instituições, sociedade) entre o ensino presencial a
distância, que dificulta que tenhamos avanços acadêmicos e de gestão
relevantes. As equipes, na maior parte
das instituições superiores, são diferentes, os currículos não estão
integrados, os investimentos maiores são feitos no presencial. Falta visão
estratégica a muitos gestores. Ainda é difícil planejar mudanças muito
profundas, porque isso envolve repensar a educação de uma forma integrada, mais
flexível, menos burocrática.
Conclusão
Olhando para muitos novos atores
na educação (startups, ONGs..) constatamos a ênfase em ecossistemas de
aprendizagem mais horizontais, menos burocráticos, organizados em redes de
prática, de compartilhamento e com projetos com forte foco na sustentabilidade.
Os ambientes de aprendizagem começam a evoluir de forma significativa,
caminhando no futuro próximo para a oferta de propostas mais abertas de
formação, em centros de ensino e aprendizagem interdisciplinar, com parceria de
várias instituições, onde os estudantes poderão compor sua formação básica e
superior de forma mais personalizada, engajando-se também em projetos
significativos de aprendizagem em rede.
Em educação – em um período de
tantas mudanças e incertezas - não devemos ser xiitas e defender um único
modelo, proposta, caminho. Trabalhar com modelos flexíveis com desafios, com
projetos reais, com jogos e com informação contextualizada, equilibrando
colaboração com a personalização é o caminho mais significativo hoje, mas pode
ser planejado e desenvolvido de várias formas e em contextos diferentes.
Podemos ensinar por problemas e projetos num modelo disciplinar e em modelos
sem disciplinas; com modelos mais abertos - de construção mais participativa e
processual - e com modelos mais roteirizados, preparados previamente, mas
executados com flexibilidade e forte ênfase no acompanhamento do ritmo de cada
aluno e do seu envolvimento também em atividades em grupo.
É
importante que cada instituição defina um plano estratégico de como fará
estas mudanças. Pode ser de forma mais pontual inicialmente, apoiando
professores, gestores e alunos – alunos
também e alguns pais – que estão mais motivados e tem experiências em integrar
o presencial e o virtual. Podemos aprender com os que estão mais avançados e compartilhar
esses projetos, atividades, soluções. Depois precisamos pensar mais
estruturalmente para mudanças em um ano ou dois. Capacitar coordenadores,
professores e alunos para trabalhar mais com metodologias ativas, com
currículos mais flexíveis, com inversão de processos (primeiro atividades
online e depois, atividades em sala de aula). Podemos realizar mudanças
incrementais, aos poucos ou, quando possível, mudanças mais profundas,
disruptivas, que quebrem os modelos estabelecidos. Ainda estamos avançando
muito pouco em relação ao que precisamos
No nosso mundo conectado podemos
aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de múltiplas formas. A inovação
pedagógica depende também da capacidade de cada um de nós de aprender de forma
mais aberta, profunda, compartilhada e realizadora.
Para
saber mais:
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São Paulo: Artesanato Educacional, 2015.
[1]
Recomendo o aprofundamento deste conceito híbrido em SCHLEMMER, E. Gamificação
em espaços de convivência híbridos e multimodais: design e cognição em
discussão. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23,
n. 42, p. 73-89, jul./dez. 2014
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