Metodologias ativas, para realizar transformações progressivas e profundas no currículo
As metodologias ativas são caminhos para avançar para um currículo mais flexível, mais centrado no aluno, nas suas necessidades e expectativas. Escolas e universidades realizam essas mudanças de forma progressiva (gradualmente), simultânea (mudanças setoriais avançadas) ou mais profundas (projetos mais amplos de inovação). É um processo longo e complexo, mas inevitável.
As organizações educacionais que nos mostram novos caminhos
estão experimentando currículos mais flexíveis, mais centrados em que os alunos
aprendam a integrar conhecimentos amplos, valores, projeto de vida através de
problemas reais, desafios relevantes, jogos, atividades e leituras individuais
e em grupo; presenciais e digitais.
A maior parte das escolas e universidades quer mudar, mas
está presa na cultura disciplinar transmissiva e paternalista. Como fazer essas
transformações, na prática? Não há uma resposta única, mas alguns caminhos
fazem mais sentido, dependendo de cada instituição, das condições em que se
encontra, do percurso de mudança já trilhado e da opção por mudanças mais
rápidas ou lentas, mais superficiais ou mais profundas.
1) Mudanças
progressivas
Para a maioria das instituições educacionais que já têm uma
cultura, história e processos definidos há tempos, as mudanças mais viáveis são
as progressivas. Partem dos modelos disciplinares para níveis de interligação
cada vez mais amplos.
A primeira mudança é dentro de cada disciplina, introduzindo
metodologias ativas, principalmente a aula invertida. Isso já permite avanços
rápidos, com o professor orientando mais atividades de aprofundamento.
O caminho para avançar na integração é organizando algumas
atividades comuns a mais de uma disciplina: projetos comuns, atividades
integradoras, ampliando as metodologias ativas e os modelos híbridos. A
instituição pode propor o projeto de vida de forma transversal, ao longo do
curso. Esse eixo é importante para o aluno desenvolver uma visão mais ampla do
seu papel no presente e no futuro.
O nível seguinte é o da integração entre as diversas
disciplinas através de um projeto mais amplo e outras atividades que façam
sentido. Essa integração também pode ser vertical, por áreas de conhecimento
semelhantes: alunos de semestres diferentes se juntam em algumas atividades
comuns, onde os mais veteranos podem tornar-se tutores. A hibridização também
aumenta com maior inserção do digital.
A partir daí a instituição já estará mais preparada para
implementar um currículo muito mais integrador, flexível, com foco em projetos,
desafios, aprender fazendo e terá tido tempo de acompanhar outras instituições
que já implementaram currículos mais ousados e que terão uma avaliação mais
precisa do que vale a pena trazer para a própria instituição.
2)
Mudanças simultâneas
Uma forma de acelerar as mudanças sem por em risco a cultura
da instituição é começar a inovação em pequena escala, em uma área que tem
maior abertura, com gestores e professores mais empreendedores. Esses projetos
são acompanhados por todos, avaliados para depois incorporar mais rapidamente
os demais cursos. Ir da experiência focada e avaliada para a estrutural é um
caminho que tem muitas vantagens: todos aprendem com o grupo experimental e se
preparam melhor para implementar um novo projeto mais ousado.
O importante neste processo é que a discussão do projeto
inovador seja feito por toda a comunidade antes e acompanhado de verdade
durante a sua implantação.
Um exemplo atual está acontecendo na Catalunha, Espanha com
o Projeto Horizonte 2020 dos Jesuítas, que após uma discussão ampla de dois
anos, chegaram a um consenso de um novo modelo educacional, sem disciplinas e o
estão implementando progressivamente em duas séries em cinco escolas[1].
Simultaneamente continua o modelo convencional com o experimental no mesmo
lugar. Embora possa haver algumas tensões nesta transição, permite que todos
aprendam na prática ou no acompanhamento direto do que acontece ao lado.
3) Transformações profundas
Alguns grupos, liderados por gestores visionários e
empreendedores, propõem mudanças mais profundas mais rapidamente. Alguns
exemplos são conhecidos no Brasil de escolas públicas que, apesar das
estruturas burocráticas, conseguiram implementar currículos mais abertos, não
disciplinares, baseados em roteiros de aprendizagem, integração de alunos de
vários anos.
O que impressiona nas escolas com desenhos arquitetônicos e
pedagógicos mais avançados é que os espaços são mais amplos, agradáveis. Há escolas
mais em contato com a natureza, que tem vantagens inegáveis para projetos de
ecologia de aprendizagem mais integral (como o Projeto Âncora)[2],
mas também há projetos em comunidades carentes como o da Escola Municipal
Campos Salles, em que os alunos desenvolvem roteiros de aprendizagem
personalizados, em pequenos grupos, com o acompanhamento dos Professores
Tutores e o apoio dos dados da evolução de cada aluno, fornecidos online por uma plataforma
adaptativa[3].
Um dos muitos modelos interessantes para pensar como
organizar a “sala de aula” de forma diferente é olhar para algumas escolas
inovadoras. Por exemplo os projetos das escolas Summit (Summit Schools) da
California equilibram tempos de atividades individuais, com as de grupo; sob a
supervisão de dois professores, de áreas diferentes (humanas e exatas) que se
preocupam com projetos que permitam olhares abrangentes, integradores, sem
disciplinas. Acompanham o progresso de cada aluno (toda sexta feira conversam
individualmente com cada aluno) e cada aluno tem um Mentor, que o orienta no
seu projeto de vida. Os alunos fazem avaliações quando se sentem preparados. As
competências socioemocionais são muito enfatizadas assim como o desenvolvimento
de atividades e projetos em organizações fora das escolas[4].
O ambiente físico das salas de aula e da escola como um todo
também foi redesenhado por estas escolas
mais inovadoras, mais centrado no aluno. As salas de aula são mais
multifuncionais, combinem facilmente atividades de grupo, de plenário e
individuais. Os ambientes estão cada vez mais adaptados para uso de tecnologias
móveis.
Outro conjunto de escolas interessantes são as escolas
públicas High Tech High que lembram laboratórios multiuso, onde os alunos vão
da ideia à realização e apresentação dos seus projetos, com apoio de
ferramentas físicas e digitais, entre elas as impressoras 3-D. Há uma ênfase na
cultura do fazer (cultura maker) e nas competências socioemocionais.[5]
No Ensino Superior a área de saúde foi pioneira em trabalhar
com solução de problemas (PBL), já na década de sessenta através da
Universidade McMaster, no Canadá e a Universidade de Maastricht na Holanda.
(CYRINO, E. & TORALLES-PEREIRA, M.L, 2004). Muitos cursos de Medicina
trabalham com problemas e também muitos cursos de Engenharia adotam a
Metodologia de Projetos, como o Olin College[6]
e, no Brasil, o Insper. Instituições inovadoras como o Institute of Design de
Stanford admitem alunos de todas as áreas de conhecimento e desenvolvem
projetos criativos através da metodologia do Design Thinking[7].
Outra proposta interessante é a da Uniamérica de Foz de
Iguaçu, que aboliu em cursos como o de Biomedicina, Farmácia e as Engenharias,
a divisão por séries e o currículo não é
organizado por projetos e aula invertida. “Ao tirar a divisão por disciplinas,
orientamos todas as competências necessárias através de projetos semestrais
temáticos. O aluno escolhe um problema real de sua comunidade ou região para
trabalhar os temas daquele período.”[8]
As aulas expositivas também foram abolidas. Agora, os alunos estudam os
conteúdos em casa, ou onde preferirem. São disponibilizados em uma plataforma
on-line vídeos, textos e um conjunto de atividades às quais os estudantes devem
se dedicar antes de ir para a aula. Essas atividades são de dois tipos: um
primeiro de fixação e garantia de compreensão do conteúdo, e outro de
problematização, que estimula a pesquisa e a transposição do conhecimento para
problemas reais. Com isso, o tempo em sala de aula é usado para que os temas
sejam debatidos mais profundamente e também para a realização dos projetos do
semestre.[9]
Outras escolas inovadoras
50
proyectos educativos -http://www.elmundo.es/sociedad/2016/02/03/56b117fa22601d906e8b45e5.html?cid=MNOT23801&s_kw=asi_son_las_escuelas_mas_innovadoras_del_mundo
Escuela XXI – Relatos de viagem a escolas inovadoras –
Alfredo Hernando – Espanha: http://www.escuela21.org/
11 Escuelas más innovadoras
Iniciativas educacionais inovadoras
Na formação de professores
Treze escolas inovadoras -
(resumo) e o
detalhamento do projeto está em: http://h2020.fje.edu/es/
[3] Os
alunos se reúnem em grupos de 4 para o desenvolvimento dos roteiros de
pesquisa. Cada um tem o seu próprio roteiro e segue um ritmo individual de
execução das tarefas solicitadas. Atividades extra-salão: aulas no cinema da
escola, visitas à comunidade, pesquisas na internet na sala de informática,
aulas de arte e de educação física. www.escolasqueinovam.org.br/escolas/
[8] Ryon
Braga, Diretor da Uniamérica. In Universidade abole disciplinas em prol de
projetos. Disponível em http://porvir.org/porfazer/universidade-abole-disciplinas-em-prol-de-projetos/20140409
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Texto Moran disponível em http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/transformacoes.pdf
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