Principais diferenciais das escolas mais inovadoras
O que tem em comum as escolas e universidades mais
inovadoras? Quais são seus diferenciais? Apesar de terem propostas
aparentemente muito diferentes, coincidem em alguns componentes importantes, que
apontam caminhos para as demais instituições mais convencionais ou que realizam
mudanças de forma mais progressiva.
Os principais diferenciais:
1.
Ambientes
institucionais acolhedores e abertos à experimentação
As
instituições educacionais inovadoras são abertas e acolhedoras, interna e
externamente; a comunicação é
incentivada e as divergências, possíveis. Todos sentem-se acolhidos, em todos
os espaços, momentos e situações, como participantes de um projeto comum e
compartilhado, onde podem manifestar-se, interagir, contribuir, questionar.
Os
espaços físicos e digitais são abertos, compartilhados (entre todos os
participantes: gestores, professores, alunos) e também com a comunidade
externa. Divulgam-se as melhores práticas e contribuições. Há um incentivo à
criatividade, empreendedorismo, à experimentação, aceitando a possibilidade de
cometer erros e de aprender a superá-los.
Os
espaços arquitetônicos refletem esse grau de abertura, saindo do espaço
retangular e fechado das estruturas convencionais. São espaços mais
multifuncionais, bonitos, abertos, acolhedores, desenhados por arquitetos
diferenciados – depois de ouvir a comunidade.
A gestão da inovação é contínua, aberta e compartilhada entre todos: gestores, professores, alunos e comunidade.
A gestão da inovação é contínua, aberta e compartilhada entre todos: gestores, professores, alunos e comunidade.
2. Currículos transdisciplinares,
personalizados, híbridos.
Os
currículos das instituições inovadoras são transdisciplinares, integram áreas
de conhecimento de várias formas (sem disciplinas ou com só algumas), são
holísticos, com uma visão humanista, sustentável e de competências amplas. Há
uma grande integração de áreas, projetos, problemas, com menos (ou sem)
disciplinas com foco na aplicação criativa dos conhecimentos em diferentes
situações e contextos.
Os
currículos são suficientemente flexíveis para que os alunos possam personalizar
seu percurso, total ou parcialmente, de acordo com suas necessidades,
expectativas e estilos de aprendizagem e também para prever projetos e
atividades significativos de grupo, articulando a prática e a teoria.
São
híbridos, blended, com tempos
integração de tempos, espaços e atividades presenciais e online, que propõem um
“contínuum” entre modelos com momentos mais presenciais com modelos mais
digitais, superando a dicotomia presencial x distância, combinando-as,
otimizando-as no que cada uma tem de melhor e no que é mais conveniente para a
aprendizagem de cada tipo de estudante.
Os
currículos enfatizam o desenvolvimento de competências amplas, cognitivas e socioemocionais,
divididas basicamente em quatro categorias: maneiras de pensar (criatividade e
inovação, pensamento crítico, resolução de problemas, tomada de decisões,
capacidade de aprender a aprender e metacognição), ferramentas para o trabalho
(tecnologias digitais da informação e da alfabetização), formas de aprender e
agir (comunicação e colaboração) e maneiras de viver no mundo atual (cidadania,
responsabilidade pela própria vida, desenvolvimento profissional, pessoal e
social).[1]
Um eixo
transversal importante nos currículos é a metodologia
de design para projetos reais importantes, principalmente para o desenho de projetos de vida, buscando o
autoconhecimento, a percepção de algum significado, relevância e visão de
futuro com o apoio de professores-orientadores/mentores.
3. Metodologias ativas
As
escolas e universidades mais inovadoras utilizam uma combinação de caminhos e
metodologias de ensino e aprendizagem, que se integram. Não há um caminho
único. Partem de onde os alunos estão,
das suas necessidades e inquietações para torna-los mais motivados,
protagonistas e participativos através de metodologias ativas. Há ênfase em aprender
fazendo (cultura “maker”), em aprender
a partir de projetos reais, de problemas significativos, histórias de vida,
jogos. O uso adequado de projetos e problemas permite desenvolver com os alunos
questões como o trabalho colaborativo, a investigação, o entendimento da
realidade do outro e a criatividade. Predominam as atividades de experimentação
em projetos interdisciplinares realizados em laboratórios de fabricação
digital, aulas de programação e robótica, produção de narrativas e histórias,
produções artísticas dentro da escola e na comunidade (projetos reais). A ação
se combina com a reflexão, necessária para estimular o pensamento mais profundo
e, portanto, mais crítico.
As escolas inovadoras combinam três processos de forma equilibrada: a aprendizagem personalizada (em que cada um pode aprender o básico por si mesmo - aprendizagem prévia, aula invertida); a aprendizagem com diferentes grupos (aprendizagem entre pares, em redes) e a aprendizagem mediada por pessoas mais experientes (professores, orientadores, mentores).
A personalização
(aprendizagem adaptada aos ritmos e necessidades de cada pessoa) é cada vez
mais importante e viável. Visa a aprendizagem profunda (deep learning), de
caráter progressivo e motivador. Ela se
amplia, potencializa e combina com a aprendizagem
colaborativa - construção coletiva do conhecimento, que emerge da troca
entre pares, das atividades práticas dos alunos, de suas reflexões, de seus
debates e questionamentos, em redes presenciais e online.
Uma das metodologias ativas
predominante é a inversão da forma tradicional de ensinar, (depois que o aluno
tem as competências básicas mínimas de ler, escrever, contar): o básico o aluno
aprende sozinho, no seu ritmo e o mais avançado, com atividades em grupo e a
supervisão de professores. As plataformas digitais ajudam neste processo de
personalização, de acompanhamento de cada aluno.O
equilíbrio entre a aprendizagem individual, a grupal e a orientada por pessoas
mais experientes propicia uma riqueza ímpar de oportunidades, caminhos,
possibilidades (principalmente em cursos de formação e de longa duração).
4. Tecnologias digitais integradas em todo o processo
Nas instituições mais inovadoras as
tecnologias digitais estão integradas, são móveis, permitem aprender a qualquer
hora, em qualquer lugar e de múltiplas formas. Elas são fundamentais para o
planejamento, desenvolvimento das aulas e para a avaliação. Elas ampliam as
possibilidades de pesquisa, autoria, compartilhamento, publicação,
multiplicação de espaços, de tempos. Estão
presentes ferramentas e aplicativos com
a gamificação de conteúdo, plataformas adaptativas, aprendizagem colaborativa e
aplicativos móveis. Os materiais são atraentes, com muitos recursos típicos dos
jogos: fases, desafios, competição, colaboração, recompensas (plataformas
adaptativas, ambientes imersivos). Os alunos recebem medalhas (badges) e outras recompensas pelas suas
produções e contribuições. Ganham também relevância os laboratórios multifuncionais,
os laboratórios “maker”, onde os alunos testam suas ideias, desenvolvem
programas, testam soluções reais, criam suas próprias narrativas, desenvolvem
jogos, entre outras atividades.
O design educacional é cada vez mais
decisivo para contar com roteiros cognitivos inteligentes, atividades
individuais, grupais e de avaliação interessantes e desafiadoras. Há maior
ênfase em recursos abertos, compartilhados gratuitamente, em acesso a cursos
online, na participação em plataformas digitais dinâmicas (redes) e em
comunidades de prática.
As tecnologias sozinhas não mudam a
educação, mas a educação inovadora está incorporando todas as possibilidades de
flexibilização, personalização, colaboração e compartilhamento que elas trazem
no cotidiano.
- Integração profunda com a cidade e
com o mundo: aprendizagem/serviço
Outro
diferencial das escolas inovadoras é a aprendizagem-serviço, em que os
estudantes aprendem em contato com a comunidade (utilização de museus, praças,
centros culturais, empresas, clubes, redes e outros locais) e desenvolvem
projetos que beneficiam essa mesma comunidade.
Escola e comunidade externa aprendem juntas e se beneficiam mutuamente.
Não há só o estudo do meio, mas a transformação do entorno, aprender
modificando situações reais, com pessoas concretas e projetos socialmente
relevantes.
6. Professores orientadores e mentores
Os papéis
dos professores nos projetos inovadores são muito mais amplos e avançados: são
os de desenhadores de roteiros pessoais e grupais de aprendizagens amplas e
complexas, de interlocutores avançados que ultrapassam as informações de uma
área específica e, também, (em graus diferentes) os de orientadores/mentores de
projetos profissionais e de vida dos alunos.
A formação formação inicial e
continuada de professores em instituições inovadoras segue a mesa homologia de
processos (ensinar como se aprende): ênfase em metodologias ativas, em
orientação/tutoria/mentoria e em tecnologias digitais presenciais e online. Há
uma política de orientação dos mais experientes – “clínicas” com supervisão, de
aprendizagem por imersão, continuada e de compartilhamento aberto das
experiências.
7. Novas formas de avaliação e
certificação
Os processos de avaliação de
aprendizagem também são mais amplos e explicitam as relações entre habilidades cognitivas e competências socioemocionais.
A avaliação é um processo contínuo, flexível, que acontece de várias formas: avaliação
diagnóstica, formativa, mediadora; Avaliação da produção (do percurso - portfólios
digitais, narrativas, relatórios, observação), avaliação por rubricas -
competências pessoais, cognitivas, relacionais, produtivas - avaliação
dialógica, avaliação por pares, autoavaliação, avaliação online, avaliação
integradora, entre outras. As instituições inovadoras evoluem e reavaliam
continuamente suas propostas. Estamos numa fase de intensa experimentação, de
aprendizagem entre todos, validando o que funciona melhor.
Há novas formas de certificação – além
das acadêmicas - com cursos online (Moocs, nano-cursos), que geram
mini-certificações ou certificações específicas (como badges ou distintivos compartilhados digitalmente), itinerários
formativos flexíveis, que podem compor um portfólio de comprovação de
competências mais abrangente e personalizado para a vida profissional e para a
vida.
Conclusão
Algumas escolas e universidades estão construindo e aperfeiçoando continuamente modelos mais avançados, integradores, inovadores de ensino e aprendizagem. Apesar das diferenças na implementação, coincidem nas questões essenciais. As demais instituições estão tentando desenvolver mudanças menos profundas, mais progressivas, passo a passo. É importante olhar para os que estão mais avançados, para aprender a acelerar nossos próprios processos e métodos e conseguir dar respostas mais satisfatórias aos imensos desafios de ensinar e aprender em um mundo tão complexo, conectado e desafiador.
Algumas escolas e universidades estão construindo e aperfeiçoando continuamente modelos mais avançados, integradores, inovadores de ensino e aprendizagem. Apesar das diferenças na implementação, coincidem nas questões essenciais. As demais instituições estão tentando desenvolver mudanças menos profundas, mais progressivas, passo a passo. É importante olhar para os que estão mais avançados, para aprender a acelerar nossos próprios processos e métodos e conseguir dar respostas mais satisfatórias aos imensos desafios de ensinar e aprender em um mundo tão complexo, conectado e desafiador.
Texto Moran, disponível em http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/diferenciais.pdf
[1] Classificação de competências feita pelo consórcio ATC21S, liderado pela
Universidade de Melbourne, disponível em http://innoveedu.org/tendencias#competencias
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