Qual é o Futuro da Escola? Ou Qual é a Escola do Futuro?
Entrevista sobre o Futuro da Escola, feita comigo e publicada no Blog Rioeduca.net, blog da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro no dia 3/08/2015
Rioeduca: Quais as tendências para a educação a curto e a longo prazo?
Moran: A curto prazo, os gestores e professores mais inquietos realizam mudanças progressivas nos seus métodos de ensino- mais ativos e menos transmissivos – envolvem mais os alunos, procuram conhece-los melhor, propõem atividades mais variadas, equilibram os roteiros mais individuais com os projetos mais em grupo, diminuindo o número de disciplinas e integram melhor as áreas de conhecimento através de projetos, desafios, jogos com apoio de tecnologias digitais. Os alunos produzem mais (aprendem fazendo e refletindo), compartilham mais (em classe e nas redes) e publicam mais (são mais autores, protagonistas). Infelizmente, a curto prazo, os sistemas educacionais no Brasil continuarão falando de mudanças estruturais e realizarão alguns avanços significativos, mas, no conjunto, serão parciais, insuficientes diante das necessidades reais.
No médio prazo, muitas mais escolas públicas e privadas desenvolverão modelos pedagógicos mais integrados, sem disciplinas ou com um mínimo de disciplinas. Organizarão o projeto pedagógico a partir de valores, competências amplas, problemas, projetos, equilibrando a aprendizagem individualizada com a colaborativa; redesenhando os espaços físicos e combinando-os com os virtuais com apoio de tecnologias digitais. As atividades serão muito mais diversificadas, com metodologias ativas, que combinem o melhor do percurso para cada aluno com a participação em diversos grupos internos e externos, presenciais e online. As tecnologias móveis e em rede permitem conectar todos os espaços e elaborar políticas diferenciadas de organização de processos de ensino e aprendizagem adaptados à cada situação, aos que são mais proativos e aos mais passivos; aos muito rápidos e aos mais lentos; aos que precisam de muita tutoria e acompanhamento e aos que sabem aprender sozinhos.
Conviveremos nos próximos anos com modelos ativos não disciplinares e disciplinares com graus diferentes de “misturas”, de flexibilização, de hibridização e de avanços reais.
Rioeduca: Em 2014, Horizon Report produziu um relatório sinalizando um cenário educacional com o uso dos dispositivos móveis. Qual seria a reflexão que devemos ter no uso do celular em ambiente escolar?
Moran: O celular é nosso meio mais utilizado para tudo no cotidiano: falamos, escrevemos, compartilhamos, pesquisamos o tempo todo. Em média o utilizamos mais de cinquenta vezes ao dia. Não podemos simplesmente proibi-lo. Ele pode ser um aliado importante para que alunos e professores pesquisem, contem histórias, compartilhem descobertas. Há atividades em que o celular deve ser silenciado, porque pode distrair, atrapalhar determinadas atividades. O equilíbrio e bom senso são fundamentais: nem proibir nem liberar “geral”. Se o celular é importante na vida, também tem que ser importante na aprendizagem. As escolas mais atentas desenvolvem atividades interessantes em que o seu uso faça sentido: gincanas, projetos, produção de vídeos, desafios, jogos dentro de projetos socialmente relevantes. Mas é difícil para a maior parte de professores e gestores sair da zona de conforto dos métodos convencionais de ensinar e adquirir o domínio pedagógico necessário para que a aprendizagem efetivamente aconteça. Os alunos também precisam ser educados para estas novas possibilidades e a ter limites.
Rioeduca: As aulas expositivas ainda atraem o interesse dos alunos atualmente?
Moran: Aprendemos muito mais praticando e refletindo do que só explicando. O básico o aluno estuda antes ou no seu ritmo. As atividades de grupo e de aprofundamento podem ser feitas depois para ir além do que conseguimos isoladamente. As aulas expositivas podem ser úteis, de vez em quando: curtas, bem preparadas e dialogadas (com questões, contribuições também dos alunos). Hoje fazem mais sentido só para iniciar uma nova etapa do conhecimento (motivação, cenário, possibilidades) e para a sua finalização (síntese da caminhada e resultados). No meio, o professor orienta as atividades e roteiros individuais de aprendizagem, as de grupo e as coletivas, onde ele é mais orientador. Infelizmente a maior parte dos professores e sistemas de ensino continuam mais focados na transmissão pronta de pequenas sínteses do que em engajar os alunos na busca dos seus próprios caminhos para, através de métodos mais ativos, conseguir chegar a suas próprias sínteses.
Rioeduca: Como o professor pode sair do modelo convencional de aula e experimentar pequenas inovações no seu cotidiano?
Moran: Quando há um clima de apoio e incentivo à mudança por parte da direção e coordenações é muito mais fácil sair da zona de conforto e atrever-se a fazer pequenas mudanças. Um gestor aberto procura os professores mais dispostos a praticas modelos mais ativos. Em todas as escolas há professores interessantes. É importante reuni-los, estimulá-los, diminuir o medo de errar, incentivá-los a que desenvolvam projetos integradores, socialmente relevantes e que tenham impacto na vida dos alunos e da comunidade. Também é importante mostrar o exemplo de outros professores que já tem experiências metodológicas com bons resultados. O compartilhamento das melhores práticas ajuda muito a que muitos se atrevam a fazer mudanças. Infelizmente uma parte não quer o consegue mudar. O foco principal deve ser ter bons gestores que apoiam a grupos de professores proativos, estimulando a todos a fazer avanços contínuos, a compartilhar os resultados, neutralizando os focos de resistência e passividade. Nenhuma mudança é feita de fora simples e fácil. Hoje não temos mais desculpas para não mudar. O modelo convencional não atende às necessidades de uma sociedade tão complexa e dinâmica como a que vivemos.
Rioeduca: Quais os desafios de implementar o ensino híbrido no ensino básico do Brasil?
Moran: O primeiro desafio é conhecer bem o que é ensino híbrido e todas as possibilidades para que não vire só uma moda ou um modelo fechado. Deixo como sugestão começar com dois textos meus: Aprender e ensinar com foco em metodologias ativas e Mudando a educação com metodologias ativas. Recomendo o curso Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação, que pode ser feito livremente. O desafio depois é sair da zona de conforto e fazer as experiências possíveis em cada escola, em cada situação concreta. O medo de que estas inovações deem errado imobiliza muitos professores. Vale a pena experimentar o ensino híbrido aos poucos, aprendendo com atividades simples e evoluindo para o desenvolvimento de atividades mais complexas. É o melhor caminho. Só não podemos permanecer na inércia e no convencional. A realização de ensinar com metodologias ativas é grande e aumenta ao perceber que obtemos melhores resultados
José Manuel Moran
Rioeduca: Quais as tendências para a educação a curto e a longo prazo?
Moran: A curto prazo, os gestores e professores mais inquietos realizam mudanças progressivas nos seus métodos de ensino- mais ativos e menos transmissivos – envolvem mais os alunos, procuram conhece-los melhor, propõem atividades mais variadas, equilibram os roteiros mais individuais com os projetos mais em grupo, diminuindo o número de disciplinas e integram melhor as áreas de conhecimento através de projetos, desafios, jogos com apoio de tecnologias digitais. Os alunos produzem mais (aprendem fazendo e refletindo), compartilham mais (em classe e nas redes) e publicam mais (são mais autores, protagonistas). Infelizmente, a curto prazo, os sistemas educacionais no Brasil continuarão falando de mudanças estruturais e realizarão alguns avanços significativos, mas, no conjunto, serão parciais, insuficientes diante das necessidades reais.
No médio prazo, muitas mais escolas públicas e privadas desenvolverão modelos pedagógicos mais integrados, sem disciplinas ou com um mínimo de disciplinas. Organizarão o projeto pedagógico a partir de valores, competências amplas, problemas, projetos, equilibrando a aprendizagem individualizada com a colaborativa; redesenhando os espaços físicos e combinando-os com os virtuais com apoio de tecnologias digitais. As atividades serão muito mais diversificadas, com metodologias ativas, que combinem o melhor do percurso para cada aluno com a participação em diversos grupos internos e externos, presenciais e online. As tecnologias móveis e em rede permitem conectar todos os espaços e elaborar políticas diferenciadas de organização de processos de ensino e aprendizagem adaptados à cada situação, aos que são mais proativos e aos mais passivos; aos muito rápidos e aos mais lentos; aos que precisam de muita tutoria e acompanhamento e aos que sabem aprender sozinhos.
Conviveremos nos próximos anos com modelos ativos não disciplinares e disciplinares com graus diferentes de “misturas”, de flexibilização, de hibridização e de avanços reais.
Rioeduca: Em 2014, Horizon Report produziu um relatório sinalizando um cenário educacional com o uso dos dispositivos móveis. Qual seria a reflexão que devemos ter no uso do celular em ambiente escolar?
Moran: O celular é nosso meio mais utilizado para tudo no cotidiano: falamos, escrevemos, compartilhamos, pesquisamos o tempo todo. Em média o utilizamos mais de cinquenta vezes ao dia. Não podemos simplesmente proibi-lo. Ele pode ser um aliado importante para que alunos e professores pesquisem, contem histórias, compartilhem descobertas. Há atividades em que o celular deve ser silenciado, porque pode distrair, atrapalhar determinadas atividades. O equilíbrio e bom senso são fundamentais: nem proibir nem liberar “geral”. Se o celular é importante na vida, também tem que ser importante na aprendizagem. As escolas mais atentas desenvolvem atividades interessantes em que o seu uso faça sentido: gincanas, projetos, produção de vídeos, desafios, jogos dentro de projetos socialmente relevantes. Mas é difícil para a maior parte de professores e gestores sair da zona de conforto dos métodos convencionais de ensinar e adquirir o domínio pedagógico necessário para que a aprendizagem efetivamente aconteça. Os alunos também precisam ser educados para estas novas possibilidades e a ter limites.
Rioeduca: As aulas expositivas ainda atraem o interesse dos alunos atualmente?
Moran: Aprendemos muito mais praticando e refletindo do que só explicando. O básico o aluno estuda antes ou no seu ritmo. As atividades de grupo e de aprofundamento podem ser feitas depois para ir além do que conseguimos isoladamente. As aulas expositivas podem ser úteis, de vez em quando: curtas, bem preparadas e dialogadas (com questões, contribuições também dos alunos). Hoje fazem mais sentido só para iniciar uma nova etapa do conhecimento (motivação, cenário, possibilidades) e para a sua finalização (síntese da caminhada e resultados). No meio, o professor orienta as atividades e roteiros individuais de aprendizagem, as de grupo e as coletivas, onde ele é mais orientador. Infelizmente a maior parte dos professores e sistemas de ensino continuam mais focados na transmissão pronta de pequenas sínteses do que em engajar os alunos na busca dos seus próprios caminhos para, através de métodos mais ativos, conseguir chegar a suas próprias sínteses.
Rioeduca: Como o professor pode sair do modelo convencional de aula e experimentar pequenas inovações no seu cotidiano?
Moran: Quando há um clima de apoio e incentivo à mudança por parte da direção e coordenações é muito mais fácil sair da zona de conforto e atrever-se a fazer pequenas mudanças. Um gestor aberto procura os professores mais dispostos a praticas modelos mais ativos. Em todas as escolas há professores interessantes. É importante reuni-los, estimulá-los, diminuir o medo de errar, incentivá-los a que desenvolvam projetos integradores, socialmente relevantes e que tenham impacto na vida dos alunos e da comunidade. Também é importante mostrar o exemplo de outros professores que já tem experiências metodológicas com bons resultados. O compartilhamento das melhores práticas ajuda muito a que muitos se atrevam a fazer mudanças. Infelizmente uma parte não quer o consegue mudar. O foco principal deve ser ter bons gestores que apoiam a grupos de professores proativos, estimulando a todos a fazer avanços contínuos, a compartilhar os resultados, neutralizando os focos de resistência e passividade. Nenhuma mudança é feita de fora simples e fácil. Hoje não temos mais desculpas para não mudar. O modelo convencional não atende às necessidades de uma sociedade tão complexa e dinâmica como a que vivemos.
Rioeduca: Quais os desafios de implementar o ensino híbrido no ensino básico do Brasil?
Moran: O primeiro desafio é conhecer bem o que é ensino híbrido e todas as possibilidades para que não vire só uma moda ou um modelo fechado. Deixo como sugestão começar com dois textos meus: Aprender e ensinar com foco em metodologias ativas e Mudando a educação com metodologias ativas. Recomendo o curso Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação, que pode ser feito livremente. O desafio depois é sair da zona de conforto e fazer as experiências possíveis em cada escola, em cada situação concreta. O medo de que estas inovações deem errado imobiliza muitos professores. Vale a pena experimentar o ensino híbrido aos poucos, aprendendo com atividades simples e evoluindo para o desenvolvimento de atividades mais complexas. É o melhor caminho. Só não podemos permanecer na inércia e no convencional. A realização de ensinar com metodologias ativas é grande e aumenta ao perceber que obtemos melhores resultados
José Manuel Moran
O professor Moran é Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo, professor de Novas Tecnologias na USP (aposentado) e um dos fundadores da Escola do Futuro. Coordena um grupo de pesquisa sobre Formação Inovadora de Professores no Instituto Singularidades de São Paulo.
É autor dos livros A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá (Papirus) e coautor de Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica (Papirus) e Educação a Distância: Pontos e Contrapontos(Summus).
Mantém o blog Educação Humanista Inovadora.
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