Educação a Distância no Brasil- situação e perspectivas
Entrevista sobre EAD, feita comigo e publicada no Portal a Escola de Governo do Paraná, em 3/04/2014http://www.escoladegoverno.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=435&tit=Entrevista-Especial-Educacao-a-Distancia-no-Brasil-situacao-e-perspectivasPor Denise Guimarães / Helena Salgado
Em entrevista exclusiva à Escola de Governo do Paraná, o especialista em EaD, José Manuel Moran, referência nacional e internacional no assunto, diz acreditar que embora visto com desconfiança por grande parte da comunidade acadêmica e da sociedade, em razão de seu método virtual, esta modalidade de ensino surge no Brasil como possibilidade de superação na defasagem educacional do país, e um modo de reduzir seu déficit educacional e sua desigualdade social.
Confira na íntegra a entrevista com Moran.
Espanhol naturalizado brasileiro, é pesquisador e orientador de métodos educacionais inovadores e trabalha com projetos para que instituições evoluam sem perder sua identidade e valores. Autor de livros e artigos a respeito do método de Educação a Distância, tornou-se referência nacional e internacional sobre o tema.
EG- Como a “Educação a Distância” é vista e aceita no Brasil?
Moran- A Educação a Distância cresce a uma média de 20% ao ano, o que mostra que há uma consolidação da área. Antes eram só os mais adultos que procuravam essa modalidade ou metodologia; agora aumenta o número de jovens na EaD. Ainda assim, temos preconceito de uma parte da comunidade acadêmica e da sociedade. Os cursos de Saúde, Direito, Serviço Social, entre outros, encontram muitas barreiras para vingar (dos órgãos de classe, principalmente). Aumenta a receptividade dos cursos mais profissionalizantes. Aumenta o número de instituições públicas atuando na EaD, além das universidades. As instituições estão ampliando a oferta de capacitação, de formação continuada através da EaD. Há uma popularização maior da EaD com a oferta de muitos cursos massivos online gratuitos, os chamados MOOCs, que permitem que qualquer pessoa possa aperfeiçoar sua formação com os melhores professores das principais universidades do mundo. Isso está contribuindo para popularizar os cursos online.
EG- Por que muitas pessoas apresentam resistência ao método?
Moran- Muitas pessoas não conhecem de perto, nunca fizeram um curso a distância. Outros não se adaptam aos ambientes virtuais, nem tem familiaridade com ferramentas digitais. Há uma crença também de que sem o contato físico há uma perda profunda de comunicação. E há uma crítica à massificação de algumas instituições que crescem muito rapidamente, sem dar atenção personalizada aos estudantes (muitos alunos para cada tutor), formação deficiente de docentes e tutores mal remunerados e com materiais de baixa qualidade. Cursos com projetos pedagógicos deficientes comprometem a credibilidade da EaD e reforçam o preconceito existente.
EG- O que impede os estudantes de participarem?
Moran- EaD precisa de disciplina, perseverança e organização. Muitos não se adaptam ao ritmo mais individual, à gestão coerente do tempo, a uma certa solidão, principalmente nos cursos na WEB. Muitos professores e alunos não se adaptam à modalidade. Sim, professores também. Muitos pensam que basta reproduzir as técnicas praticadas no presencial e já estão prontos. Demoram para adquirir a competência de gerenciar fóruns, atividades digitais, de serem proativos com alunos silenciosos. Da mesma forma, muitos alunos não estão preparados para gerenciar suas atividades em tempos flexíveis, sem supervisão direta. Eles estão acostumados a terem professores como apoio visível, esperando passivamente pela informação pronta.
EG- O que motiva os estudantes de participarem?
Moran- A possibilidade de adaptação da EaD ao ritmo de cada um, de escolher os melhores tempos para aprender, de ter mais autonomia, de desenvolver as competências digitais – fundamentais para a empregabilidade e a inserção na sociedade da informação. É possível fazer cursos com bons professores e bons materiais, conciliando a vida profissional, a familiar e a acadêmica.
EG- Como conciliá-lo com a educação tradicional?
Moran- A Educação a Distância está afetando profundamente à educação presencial. Os cursos presenciais cada vez tem mais atividades online, ambientes virtuais de aprendizagem, integração de momentos presenciais e online, o chamado blended learning ou ensino semipresencial. Num mundo conectado em redes, onde aumenta a mobilidade, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora, de múltiplas formas. Aprendemos formal e informalmente, na educação mais estruturada e mais aberta, de forma colaborativa ou mais personalizada.
EG- Qual a melhor forma de se beneficiar com os cursos a distância?
Moran- É escolher instituições sérias, cursos com boa avaliação e desenvolver uma postura proativa, de pesquisador, interagindo com colegas próximos e distantes. É importante conhecer a metodologia, os procedimentos, a sequência de atividades e tempos de entrega das pesquisas, para organizar os estudos em horários definidos. O aluno precisa definir qual é o período do dia ou noite mais conveniente para estudar e realizar as leituras, pesquisas e atividades. Sem esse planejamento a vida vai atropelando o estudante, os prazos vencem e no final não consegue recuperar o tempo perdido. Aprende menos e desanima mais. É importante também ir além do mínimo exigido, participando de atividades desafiadoras, de projetos estimulantes para aprender mais, conhecer pessoas interessantes e abrir novos horizontes pessoais e profissionais
EG- Qual é a tendência, na educação brasileira, em relação a este processo de ensino-aprendizagem?
Moran- A Educação a Distância está se consolidando como uma opção importante para aprender ao longo da vida, para a formação continuada, para aceleração profissional, para conciliar estudo e trabalho. Ainda há resistências e preconceitos e ainda estamos aprendendo a gerenciar processos complexos de EaD, mas aumenta a percepção de que um país do tamanho do Brasil só pode conseguir superar sua defasagem educacional por meio do uso intensivo de tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, da gestão integrada de modelos presenciais e digitais. A tendência é de que aumentem o número de instituições que atuam na EaD, diminuindo a concentração atual no Ensino Superior.
EG- Quais as consequências esperadas com a ampliação desse método de aprendizagem?
Moran- A ampliação da EaD trará um cenário muito mais rico de oportunidades de aprendizagem, de melhoria profissional, de mobilidade social, de inovação para as organizações. O Brasil pode diminuir seu déficit educacional e a desigualdade social.
As instituições vencedoras serão as que implantarem modelos que equilibrem economia e inovação, melhorando os processos gerenciais e acadêmicos. Há muitas possibilidades de sinergia entre o presencial blended, o semipresencial e o online. O currículo pode estar plenamente integrado, com disciplinas online no presencial e no EaD, com materiais interessantes e comuns para ambos. Em todas as disciplinas ou módulos os professores podem ser mais orientadores, utilizando formas criativas da sala de aula invertida. Mas não se preparam bons alunos com profissionais desmotivados e mal remunerados.
Todas as instituições deveriam entrar na EaD no mínimo para ampliar o seu raio de ação, atrair novos alunos e oferecer-lhes oportunidades com um único projeto, metodologias próximas e formas de oferta adequadas às necessidades de cada aluno. No mínimo precisam entrar na EaD para defender-se da competição feroz. Permanecer só no presencial aumenta as chances dos concorrentes. Há oportunidades para oferecer metodologias ativas, sinergia, bons materiais e adequação para vários tipos de alunos.
Para saber mais sobre EaD e sobre os projetos de Moran, acesse o site: www2.eca.usp.br/moran
A busca por
uma educação além do limite espaço-tempo, que visa transformar e evoluir o
processo tradicional de aprendizagem, é uma das propostas do método de Educação
a Distância (EaD). Por meio de plataformas online, que possibilitam um ensino
mais interativo e autônomo, o método se destaca por seus formatos variados, sem
afetar o aprendizado do aluno ou interferir na identidade e valores da
Instituição responsável pelo material ofertado.
Em entrevista exclusiva à Escola de Governo do Paraná, o especialista em EaD, José Manuel Moran, referência nacional e internacional no assunto, diz acreditar que embora visto com desconfiança por grande parte da comunidade acadêmica e da sociedade, em razão de seu método virtual, esta modalidade de ensino surge no Brasil como possibilidade de superação na defasagem educacional do país, e um modo de reduzir seu déficit educacional e sua desigualdade social.
Confira na íntegra a entrevista com Moran.
Espanhol naturalizado brasileiro, é pesquisador e orientador de métodos educacionais inovadores e trabalha com projetos para que instituições evoluam sem perder sua identidade e valores. Autor de livros e artigos a respeito do método de Educação a Distância, tornou-se referência nacional e internacional sobre o tema.
EG- Como a “Educação a Distância” é vista e aceita no Brasil?
Moran- A Educação a Distância cresce a uma média de 20% ao ano, o que mostra que há uma consolidação da área. Antes eram só os mais adultos que procuravam essa modalidade ou metodologia; agora aumenta o número de jovens na EaD. Ainda assim, temos preconceito de uma parte da comunidade acadêmica e da sociedade. Os cursos de Saúde, Direito, Serviço Social, entre outros, encontram muitas barreiras para vingar (dos órgãos de classe, principalmente). Aumenta a receptividade dos cursos mais profissionalizantes. Aumenta o número de instituições públicas atuando na EaD, além das universidades. As instituições estão ampliando a oferta de capacitação, de formação continuada através da EaD. Há uma popularização maior da EaD com a oferta de muitos cursos massivos online gratuitos, os chamados MOOCs, que permitem que qualquer pessoa possa aperfeiçoar sua formação com os melhores professores das principais universidades do mundo. Isso está contribuindo para popularizar os cursos online.
EG- Por que muitas pessoas apresentam resistência ao método?
Moran- Muitas pessoas não conhecem de perto, nunca fizeram um curso a distância. Outros não se adaptam aos ambientes virtuais, nem tem familiaridade com ferramentas digitais. Há uma crença também de que sem o contato físico há uma perda profunda de comunicação. E há uma crítica à massificação de algumas instituições que crescem muito rapidamente, sem dar atenção personalizada aos estudantes (muitos alunos para cada tutor), formação deficiente de docentes e tutores mal remunerados e com materiais de baixa qualidade. Cursos com projetos pedagógicos deficientes comprometem a credibilidade da EaD e reforçam o preconceito existente.
EG- O que impede os estudantes de participarem?
Moran- EaD precisa de disciplina, perseverança e organização. Muitos não se adaptam ao ritmo mais individual, à gestão coerente do tempo, a uma certa solidão, principalmente nos cursos na WEB. Muitos professores e alunos não se adaptam à modalidade. Sim, professores também. Muitos pensam que basta reproduzir as técnicas praticadas no presencial e já estão prontos. Demoram para adquirir a competência de gerenciar fóruns, atividades digitais, de serem proativos com alunos silenciosos. Da mesma forma, muitos alunos não estão preparados para gerenciar suas atividades em tempos flexíveis, sem supervisão direta. Eles estão acostumados a terem professores como apoio visível, esperando passivamente pela informação pronta.
EG- O que motiva os estudantes de participarem?
Moran- A possibilidade de adaptação da EaD ao ritmo de cada um, de escolher os melhores tempos para aprender, de ter mais autonomia, de desenvolver as competências digitais – fundamentais para a empregabilidade e a inserção na sociedade da informação. É possível fazer cursos com bons professores e bons materiais, conciliando a vida profissional, a familiar e a acadêmica.
EG- Como conciliá-lo com a educação tradicional?
Moran- A Educação a Distância está afetando profundamente à educação presencial. Os cursos presenciais cada vez tem mais atividades online, ambientes virtuais de aprendizagem, integração de momentos presenciais e online, o chamado blended learning ou ensino semipresencial. Num mundo conectado em redes, onde aumenta a mobilidade, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora, de múltiplas formas. Aprendemos formal e informalmente, na educação mais estruturada e mais aberta, de forma colaborativa ou mais personalizada.
EG- Qual a melhor forma de se beneficiar com os cursos a distância?
Moran- É escolher instituições sérias, cursos com boa avaliação e desenvolver uma postura proativa, de pesquisador, interagindo com colegas próximos e distantes. É importante conhecer a metodologia, os procedimentos, a sequência de atividades e tempos de entrega das pesquisas, para organizar os estudos em horários definidos. O aluno precisa definir qual é o período do dia ou noite mais conveniente para estudar e realizar as leituras, pesquisas e atividades. Sem esse planejamento a vida vai atropelando o estudante, os prazos vencem e no final não consegue recuperar o tempo perdido. Aprende menos e desanima mais. É importante também ir além do mínimo exigido, participando de atividades desafiadoras, de projetos estimulantes para aprender mais, conhecer pessoas interessantes e abrir novos horizontes pessoais e profissionais
EG- Qual é a tendência, na educação brasileira, em relação a este processo de ensino-aprendizagem?
Moran- A Educação a Distância está se consolidando como uma opção importante para aprender ao longo da vida, para a formação continuada, para aceleração profissional, para conciliar estudo e trabalho. Ainda há resistências e preconceitos e ainda estamos aprendendo a gerenciar processos complexos de EaD, mas aumenta a percepção de que um país do tamanho do Brasil só pode conseguir superar sua defasagem educacional por meio do uso intensivo de tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, da gestão integrada de modelos presenciais e digitais. A tendência é de que aumentem o número de instituições que atuam na EaD, diminuindo a concentração atual no Ensino Superior.
EG- Quais as consequências esperadas com a ampliação desse método de aprendizagem?
Moran- A ampliação da EaD trará um cenário muito mais rico de oportunidades de aprendizagem, de melhoria profissional, de mobilidade social, de inovação para as organizações. O Brasil pode diminuir seu déficit educacional e a desigualdade social.
As instituições vencedoras serão as que implantarem modelos que equilibrem economia e inovação, melhorando os processos gerenciais e acadêmicos. Há muitas possibilidades de sinergia entre o presencial blended, o semipresencial e o online. O currículo pode estar plenamente integrado, com disciplinas online no presencial e no EaD, com materiais interessantes e comuns para ambos. Em todas as disciplinas ou módulos os professores podem ser mais orientadores, utilizando formas criativas da sala de aula invertida. Mas não se preparam bons alunos com profissionais desmotivados e mal remunerados.
Todas as instituições deveriam entrar na EaD no mínimo para ampliar o seu raio de ação, atrair novos alunos e oferecer-lhes oportunidades com um único projeto, metodologias próximas e formas de oferta adequadas às necessidades de cada aluno. No mínimo precisam entrar na EaD para defender-se da competição feroz. Permanecer só no presencial aumenta as chances dos concorrentes. Há oportunidades para oferecer metodologias ativas, sinergia, bons materiais e adequação para vários tipos de alunos.
Para saber mais sobre EaD e sobre os projetos de Moran, acesse o site: www2.eca.usp.br/moran
JOSÉ MANUEL MORAN
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