A consciência de uma vida muito mais longa
A consciência é um privilégio e também um tormento. Privilégio, porque nos permite a compreensão do que somos, para onde vamos, do nosso entorno e do futuro próximo e distante. Mas também é um tormento, porque nos torna insaciáveis em todos os campos. Nada nos é suficiente, nada nos contenta, nada nos detém. Tudo é pouco.
Como a vida é curta e queremos viver sempre , buscamos desesperadamente formas de sobreviver. A imaginação é uma poderosa ferramenta, fruto da consciência, que nos projeta em mundos próximos e distantes, possíveis e fantásticos e estimula inúmeras realizações tidas como impossíveis. O imaginário nos possibilita superar as limitações do cotidiano, ilumina novas possibilidades, amplia nossos horizontes.
O desejo de ser imortal estimula nossa imaginação, nossa fé no futuro, a busca de sentido para uma vida tão curta, que se nos escapa das mãos. Desde os tempos remotos a humanidade procura atalhos para a imortalidade. Durante milênios, a imortalidade foi buscada nas diversas interpretações do sagrado, nas religiões, nas crenças: principalmente no paraíso e na reencarnação.
Agora a ciência nos permite começar a gerenciar melhor nossa origem e nosso destino. Ao mapear nosso DNA e com os avanços na engenharia genética, neurociência e nanotecnologia, entendemos melhor o funcionamento dos complexos mecanismos que nos levam a nascer, crescer, amadurecer e envelhecer. Já começamos a controlar muitas doenças, a retardar o envelhecimento, a dominar nossa mente e a construir objetos com cada vez mais inteligência.
O sonho de prolongar a vida, muito além do que imaginamos hoje, fervilha mos laboratórios de ponta, na busca por controlar os mecanismos do envelhecimento e que já datam em 2045 a possibilidade de termos resultados satisfatórios. Se o ser humano tiver chance de viver muito mais, fará tudo o possível para consegui-lo porque é um sonho ancestral que carregamos desde que adquirimos consciência da nossa finitude. Queremos manter a possibilidade de permanecer vivos o máximo possível, nesta ou em outra vida. A diferença, hoje, é que a ciência nos promete um horizonte mais palpável nas próximas décadas. Será uma mudança profunda na nossa visão de mundo e de futuro.
Até agora só tínhamos duas opções diante do desejo da imortalidade: Ou acreditávamos nela em outra dimensão ou plano, ou a descatávamos, resignando-nos a aceitar nossa precariedade atual. Agora abrem-se perspectivas de, nas próximas gerações, manter as pessoas vivas sem envelhecer. Penso que a imortalidade é um sonho, na prática, irrealizável, mas a esperança de controle do envelhecimento traz uma esperança de duração e qualidade de vida inimaginável nas condições atuais.
Muitos de nós, mais adultos, apesar de vivermos mais do que nossos antepassados, sentimos diante de tantas possibilidades próximas, uma certa frustração de enxergar de longe mudanças sem poder experimentá-las concretamente.
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