Pessoas confiáveis e coerentes

Quando somos jovens tendemos a acreditar muito mais nos outros. Estamos mais abertos a conhecer novas pessoas, confiamos mais no que dizem, somos mais transparentes. Com o passar do tempo, após decepções e algumas traições, procuramos ser mais seletivos com as amizades, nos protegemos mais, desconfiamos mais.
Diante da competição profissional feroz, da complexidade da vida social é fácil cair na tentação de ficar na defensiva, de esconder nossos sentimentos, de polir nossa imagem, de desenvolver uma personalidade social que não corresponde exatamente ao que somos e pensamos. Muitos se escondem atrás de máscaras, de papéis representados, de encenações adaptadas para os diversos ambientes em que se movem. O que começa como uma atitude de defesa pode virar um hábito e uma segunda pele. Podem perder a noção de quanto estão representando e considerar natural essa forma de adaptação permanente aos diversos ambientes, situações e pessoas. A conseqüência principal é o ocultamento do verdadeiro eu, o mascaramento da real pessoa e a cristalização de barreiras, desconfianças, defesas.
As defesas excessivas nos tornam pessoas pouco confiáveis. Por mais que nos esforcemos, passamos uma imagem falsa, incoerente, contraditória. É difícil equilibrar o necessário distanciamento, reserva com o mascaramento de quem somos, mostrando-nos de forma artificial  ou falsa.
Ser confiável é hoje mais necessário que nunca para o crescimento pessoal e social. Há muitos jogos de aparências, de querer aparecer mais do que ser, fingir mais do que assumir, mentir mais do que ser coerente. O fingimento nos complica intimamente, retarda nossa evolução e introduz tensões com os que estão mais próximos de nós.
Infelizmente está muito difundida a mentalidade de que mentir é a melhor política, de que a pessoa que finge se dá melhor, de que vale mais a pena enganar do que encarar a verdade. Vemos seguidos exemplos de pessoas que negam as evidências, que nunca assumem culpas, que são dissimuladas, que persistem na mentira. Podem levar algumas vantagens econômicas, sair-se bem de possíveis punições. Mas carregam contradições profundas, desconfianças permanentes, traições dolorosas. O mais grave é o dano que causam à sociedade, principalmente aos mais jovens, que podem deslumbrar-se com a desfaçatez com que se movem e livram de condenações. Se a maioria das pessoas acreditar que ser honesto não vale a pena, estaremos construindo uma sociedade neurótica, desconfiada, desajustada, individualista, onde todos perdemos.
A pessoa coerente entre o que pensa e o que manifesta – sabendo que há alguns jogos sociais aceitáveis – avança mais, é mais respeitada, compreendida e ajudada. O fingidor se trai, principalmente com os mais conhecidos e provoca um distanciamento, uma desconfiança que é difícil reverter. 
Pessoas confiáveis atraem outras pessoas confiáveis e criam um círculo de relacionamentos rico, complementar, sinérgico que facilita o crescimento e a realização pessoal, emocional, profissional e social.
Pessoas confiáveis desenvolvem relacionamentos profundos, duradouros, maduros; constroem um percurso sólido, amoroso, positivo em todos os campos; se ajudam nas dificuldades e se apóiam em todos os momentos. Evoluem, se realizam, são respeitadas, amadas e valorizadas.
Pessoas que desenvolvem comportamentos pouco confiáveis tendem a ter relacionamentos menos duradouros, superficiais ou cheios de contradições. Frequentemente ficam sozinhas ou se sentem assim no seu íntimo. Permanecem, com frequência,  em relacionamentos de fachada, em comportamentos hipócritas, cheios de ambigüidades e falsidades. A desconfiança se volta contra elas. Podem triunfar nos negócios, no mundo profissional, mas naufragam nas dificuldades emocionais, nos relacionamentos afetivos com os parceiros, filhos  e amigos.
Um dos desafios maiores que temos é como dosar a prudência de manter uma certa reserva da nossa intimidade, de não escancarar nossa intimidade com a abertura para comunicar-nos de forma direta, tranqüila, verdadeira. As convenções sociais nos cobram certas camuflagens, silêncios ou cuidados. Mas se predomina a atitude coerente, verdadeira, honesta para conosco e para com as pessoas com as que convivemos mais estreitamente, nossa vida avançará mais e melhor em todas as dimensões.

Comentários

Rose disse…
"Se a maioria das pessoas acreditar que ser honesto não vale a pena, estaremos construindo uma sociedade neurótica, desconfiada, desajustada, individualista, onde todos perdemos". Sempre pensei assim e pareço, na maioria das vezes, "fora de contexto" (...) Chego a pensar as vezes: "será que só eu penso assim"? Esse texto me fez refletir e reafirmar meus princípios e perceber que não estou só. Obrigada!
Visite meu blog: diariodeumadiretora . blogspot . com
Rose disse…
Talvez eu coloque no meu blog também (....) com os devidos créditos, é claro!!!
José Moran disse…
Cara Rose:
Obrigado pelo seu comentário, tão identificado com o que escrevi. Pode colocá-lo no seu blog - bem interessante, por sinal - se quiser.
Grande abraço
Moran
Unknown disse…

Seu artigo é bastante coerente e realista, estamos vivendo tempos conturbados e por isso, está cada vez mais difícil acreditar e confiar nas pessoas, elas de imediato passam confiança, mas ao aprofundar-mos mais na amizade percebemos, que tal pessoa não é tudo o que apresentava ser. Se não temos uma boa base familiar podemos cair nas armadilhas de uma conversa desse tipo e nos perder. Por isso e importante aprender desde cedo os valores morais de uma sociedade justa e idônea
Rose disse…
Acabei colocando no blog da escola que eu trabalho.
Se quiser visitar: capelozza . blogspot . com . br
Um grande abraço
Rose
Andreia Ribeiro disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Andreia Ribeiro disse…
Esse artigo nos faz refletir sobre como agimos diariamente, sempre desconfiado, achando que os colegas querem nos prejudicar. As relações hoje não são verdadeiras, não criamos vínculos de amizades verdadeiras com as pessoas, estamos sempre competindo, querendo fazer mais e melhor.
9 de setembro de 2012 16:42
Unknown disse…
Boa noite Profº, esse texto me faz refletir em tantos relacionamentos que perdemos por não nos envolvermos,por não darmos credito a confiança.Estamos sempre com o "pé atras" e não damos espaço para que o outro se torne confiavél e de fato se envolva na nossa vida, criamos um grupo seleto de pessoas supostamente confiavéis e com isso perdemos a oportunidade de expandirmos nossos contatos.Construimos mascaras para sermos aceitos e omitimos nossas verdadeiras opiniões e assim os relacionamentos se tornam artificiais. Construir confiança é ser verdadeiro nas convicções e deixar que o outro formule sua opinião , assim vamos construindo pontes para alcansarmos a confiança multua e para termos em nossa vidas relaciomentos duradouros .
Roberta.Duarte disse…
Parabéns Profº Moran pelo excelente poster. Que nos faz refletir sobre nosso comportamento e sobre nossas mascaras, que muitas vezes colocamos e com o passar do tempo vc se confunde não consegui mais diferenciar vc do personagem que criou. Gostei muito e concordo plenamente sobre o retorno que temos quando somos confiáveis e coerentes. O mundo seria melhor se todos nós seguíssemos os valores ensinados por nossos pais quando criança.
José Moran disse…
Caras amigas que postaram comentários: Fico feliz ao ver que estas idéias simples encontram eco em vocês. Pessoas confiáveis não significa pessoas ingênuas, mas que se mostram como são, sem fazer jogos nem subterfúgios. Sabemos que precisamos tomar alguns cuidados para não sermos mal interpretados em alguns círculos, mas sempre ganhamos mais sendo coerentes e confiáveis.
Abraço para cada um
Moran
Unknown disse…
Professor, tive o prazer de assistir sua palestra na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no ano de 2011. E o texto aqui colocado, é simplesmente maravilhoso. A mentira passou a fazer parte da vida dos seres humanos como algo tão natural quanto abrir os olhos quando acordamos. E isso tem trazido inúmeras dores tanto à famílias, à relacionamentos entre casais, em ambientes de trabalho que, de forma tão destruidora e devastadora, causa danos que nenhuma tsunami pode ser comparada. Infelizmente o ser humano está deixando de Ser humano. Um imenso abraço e obrigada pela oportunidade de, humildemente, comentar um texto seu. Neusa Martins
Unknown disse…
Professor, tive o prazer de assistir sua palestra na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no ano de 2011. E o texto aqui colocado, é simplesmente maravilhoso. A mentira passou a fazer parte da vida dos seres humanos como algo tão natural quanto abrir os olhos quando acordamos. E isso tem trazido inúmeras dores tanto à famílias, à relacionamentos entre casais, em ambientes de trabalho que, de forma tão destruidora e devastadora, causa danos que nenhuma tsunami pode ser comparada. Infelizmente o ser humano está deixando de Ser humano. Um imenso abraço e obrigada pela oportunidade de, humildemente, comentar um texto seu. Neusa Martins
Unknown disse…
Professor foi um prazer ter lido esse texto, me sinto tranquila achei que o problema seria comigo, pensei muitas vezes em disfarçar minha coerência para permanecer próxima de algumas pessoas, não me sentir bem e resolvi me afastar...
Unknown disse…
Que bom professor, ser o verdadeiro professor ensinar a coerencia participativa.
Unknown disse…
professor os seus texto são simplesmente bom para nossa leitura

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