Por que a Educação a Distância avança menos do que esperado?
Algumas razões mais evidentes
A EAD está associada há décadas no Brasil ao ensino técnico, à formação rápida de trabalhadores, ao ensino supletivo, a uma segunda oportunidade, a ensino para quem mora longe (democratização de acesso). Ela tem pouco tempo de vida no ensino superior, pouco mais de uma década. É pouco conhecida, um pouco marginalizada nas estruturas universitárias presenciais e também atende a um público, em geral, de menor poder aquisitivo.
Predomina a EAD também para os outros, para os pobres, para os distantes, para os que não fizeram a graduação no tempo devido.
Para piorar as coisas, algumas instituições desenvolveram uma EAD de qualidade duvidosa, só preocupados em conquistar mercado, cortar custos e ganhar escala. Algumas cresceram muito mais a distância do que no presencial. Isso assustou muita gente, já descrente da modalidade.
Há um preconceito muito arraigado em setores influentes da sociedade. Algumas áreas reduzem a EAD à cursos pela Internet e descartam, através de suas associações de classe, que seja uma alternativa real para os alunos.
Outra razão para a resistência de muitos a essa modalidade é que continuamente é vendida como uma alternativa mais barata, mais acessível para todos do que o presencial. Diminuem as reuniões, as pessoas viajam menos, ficam mais nos seus lugares. Cortar custos não pode ser o principal argumento educacional. É importante para os mantenedores e gestores. A pergunta importante é: podemos aprender da mesma forma ou melhor, estando menos tempo fisicamente juntos, sem a presença contínua do professor? E os educadores não temos dedicado tempo e energia para responder a estas questões.
Razões menos conhecidas
Muitos professores e alunos não se adaptam à modalidade. Sim, professores também. Muitos pensam que basta reproduzir as técnicas praticadas no presencial e já estão prontos. Demoram para adquirir a competência de gerenciar fóruns, atividades digitais, de serem proativos com alunos silenciosos. Da mesma forma, muitos alunos não estão preparados para gerenciar suas atividades em tempos flexíveis, sem supervisão direta. Muitos alunos estão acostumados a terem professores como apoio visível, a seguir ordens, a esperar tudo pronto e só executar ordens.
Muitos alunos vêm de escolas pouco exigentes, e não desenvolveram sua autonomia intelectual nem digital. Entrar em ambientes virtuais silenciosos, cheios de materiais e ferramentas, os deixa confusos. A falta de conversa com pessoas reais, ao vivo, os assusta. O ambiente digital para quem não está acostumado é confuso, distante, pouco intuitivo e agradável. Jogar alunos mal preparados diretamente em um ambiente virtual é muito radical, distante das vivências pedagógicas passadas.
Uma das principais razões de ir a universidade ou a escola é social, encontrar pessoas, fazer amigos, sentir-se parte de um grupo. Boa parte dos cursos de EAD não consegue recriar o ambiente de grupo, criar vínculos, que os alunos se conheçam e conversem entre si. Os alunos viram tarefeiros, em prazos curtos, e os orientadores também estão cheios de atividades repetitivas de acompanhamento e avaliação, com grande quantidade de alunos e precárias condições profissionais.
Muitos cursos são previsíveis, com informação simplificada, conteúdo raso e poucas atividades estimulantes e em ambientes virtuais pobres, banais. Focam mais o conteúdo do que metodologias ativas como desafios, jogos, projetos. Alguns materiais são inferiores aos que são exigidos em cursos presenciais.
Há uma percepção em parte dos gestores e mantenedores de que fazer EAD é algo simples, barato e que pode ser feito com recursos mínimos. Contratam pessoas com pouca experiência, remuneram-nos mal e os sobrecarregam de atividades e de alunos. Uma categoria pouco reconhecida é a dos tutores, que costumam atender um número grande de estudantes, com o pretexto de que têm pouco trabalho. Muitos não possuem uma formação específica em EAD e recebem uma remuneração insuficiente.
Ainda há uma separação em muitas instituições entre a modalidade presencial e a distância. As equipes são diferentes, os currículos não estão integrados, os investimentos maiores são feitos no presencial. Falta visão estratégica a muitos gestores. O caminho é o da convergência em todos os campos e áreas: prédios (EAD também dentro de unidades presenciais – pólos); integração de plataformas digitais; produção digital de conteúdo integrada (os mesmos materiais para as mesmas disciplinas do mesmo currículo).
Isso favorece a mobilidade de alunos e professores. Alunos podem migrar de uma modalidade para outra sem problemas, podem fazer algumas disciplinas comuns – alunos a distância e presenciais cursando disciplinas comuns. Professores podem participar das duas modalidades e ter maior carga docente. Isso permite maior interoperabilidade de processos, pessoas, de produtos e metodologias, com grande escalabilidade, visibilidade e redução de custos. Os alunos poderão escolher o modelo que mais lhes convier, aprenderão mais e as instituições poderão oferecer um ensino de qualidade, moderno e dinâmico, a um custo competitivo.
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Texto revisto do meu livro Educação a Distância: pontos e contrapontos. SP: Summus Editorial, p.111-115.
Comentários
Sou fã de cursos ead mas tenho muito me entediado com uma pós em EAD da UFF. Acredito que abandonarei esse curso. Não sei o que houve mas desapareço por muito tempo da plataforma e ninguém nota minha ausência. Não recebo uma mensagem sequer. Tudo piorou quando fiz uma tarefa e o tutor me deu nota 4. A tarefa valia 30. Antes ainda começaram a perguntar coisas que nada tinham a ver com o conteúdo. Não consigo mais. Já estou devendo três disciplinas. Conto essa experiência porque sou muito apaixonada por essa modalidade de ensino. Já fiz uma pós pela UFJF e dei conta de ir até o fim. Foi puxado mas muito gratificante. Queria entender o que houve com esse curso que me fazia tão bem no princípio e que agora não consigo nem acessar a plataforma. Um grande abraço. Também admiro muito seu trabalho e sempre leio seus textos.
Sou apenas uma aprendiz da modalidade EAD, e pelo pouco que estou conhecendo, estou me apaixonando pela ideia. Admito que eu era como muitas pessoas, relutante a esse sistema, na realidade eu tinha um "pré conceito". Pelo pouco conhecimento que tenho, e conversando com pessoas que estudam por essa modalidade, o que me chama atenção, é a baixa qualidade dos tutores e até de alguns professores. Não deveria haver por parte do Ministério da Educação ao autorizar uma instituição a ministrar cursos EAD, a exigência de tutores e professores competentes, com formação específica?
Sou Tutora Presencial no Curso de Ciências Contábeis, atendo uma turma de 1º e uma turma de 7º semestre. O que posso dizer em relação aos tutores presenciais é que: O problema não está na formação específica do tutor, e sim na quantidade de material que ele deve orientar. Eu por exemplo, sou Bacharel em Ciências Contábeis, com uma Especialização em Perícia e Auditoria, e fazendo uma segunda Pós em Metodologias e Gestão para Educação a Distância, e no que diz respeito a minha especialidade, não deixo a desejar ao meus alunos, complemento com muita facilidade o material disponibilizado nas aulas on-line, porém, no que diz respeito a materiais que foge da minha especialidade, confesso que as vezes passo por certos constrangimentos, uma vez que não tenho conhecimento de causa para orientá-los. Cada aula on-line é ministrada por um Professor Mestre naquele assunto, e o tutor presencial tem a responsabilidade de segurar a barra junto aos alunos. Comparo o tutor a uma panela de pressão, de um lado o conteúdo ministrado por diversos professores de diversas especialidades (conteúdo dentro da panela), de outro lado os alunos (fogo) pressionando o tutor para que ele explique o que foi disponibilizado, uma vez que esperam do tutor presencial um ponto de apoio, eles não querem saber, e acham que se tem uma pessoa ali presente, acompanhando as aulas, e ganhando para orientar, esse cara deve fazer o seu papel. É muito comum ouvirmos reclamações do tipo “esse tutor não sabe nada”, é muito comum também, vermos movimentação de alunos em prol de destituir o tutor do seu cargo, e isso tudo acontece, pela simples e única razão que o tutor tem o dever de cultuar um conhecimento muito mais amplo, do que simplesmente o da sua especialidade. Talvez o problema pudesse ser resolvido com a contratação de mais tutores presenciais, não sobrecarregando de conteúdos apenas um.
É fundamental que no Ensino Básico os professores sejam mediadores da aprendizagem dos(as) alunos(as)e não apenas transmissores de tais conhecimentos, assim possibilitando aos alunos(as) ser um cidadão autônomo, crítico e reflexivo.
Toda minha educação foi presencial e agora faço um curso de pós graduação a distância, também estou tendo a oportunidade de trabalhar como tutora presencial.
Sou atualmente uma aluna ead e oriento outros alunos de graduação em ead. Sinto um despreparo muito grande destes alunos, alguns por acharem que será um diploma fácil e outros que não sabem administrar seu tempo.
Por outro lado, as Instituições de Ensino ainda estão se adaptando a esta modalidade, a este novo aluno.
O que em algumas situações, a própria Instituição ajuda o aluno a desacreditar nesta modalidade.
Acredito que nada como o tempo, para "lapidar", tanto o aluno, como as Instituições e profissionais que nela atuam.
Um grande abraço. Luciana Vaz Amador.
Vejo que esta ferramenta tem surtido efeito na Instituição e as melhorias são visíveis.
Luciana Vaz.
Abraço. Leandro Rodrigo de santos de Souza.
Abs. Mauricio
Já fiz uma Pós-Graduação Lato sensu presencial, Mestrado e Doutorado e agora estou fazendo uma Pós em EAD e as dificuldades são muitas e pela experiência vivida e agora lendo o comentário dos colegas, nós (alunos) somos o principal obstáculo no processo.
Concordo com o que você disse, eu também tenho uma vasta experiência em cursos presenciais e atualmente estou trabalhando com o ensino médio e pelo que percebo eles já apresentam uma resistência ao EAD, o que acho uma grande controvérsia, já que os alunos não se separam de seus computadores, pq tanta resistência em separar do professor presencial? Prof. Moran e colegas, pq será que com toda essa tecnologia que os alunos tem acesso, eles ainda são tão dependentes de nós professoras?
se você encontra essa dificuldade com alunos de ensino médio, que como você mesma disse, estão o tempo inteiro ligados às tecnologias, imagina como é difícil para nós que só viemos ter acesso a essas tecnologias quando já havíamos terminado a graduação e até mesmo a Pós-Graduação?