Caminhos para uma realização mais plena

Nossa vida pode ser um processo de evolução crescente, no meio de contradições, alguns recuos, sempre focando a coerência, a motivação, a aprendizagem em contexto, o caminho da aceitação crescente do que vamos construindo, do diálogo profundo consigo mesmo e com o entorno, da maior simplicidade, humildade - no sentido de perceber que interdependemos cada vez mais uns dos outros, mas que ao mesmo tempo podemos avançar em solitário, que por mais que amemos os que estão conosco muitas decisões são pessoais, diferentes, personalizadas.

É muito importante não focar tanto a felicidade e mais a realização pessoal. Aceitar de verdade o que construímos até hoje –com inúmeras deficiências – e permanecer no propósito de evoluir sempre mais, dentro do nosso potencial, do nosso ritmo, da nossa percepção. Não comparar-se, olhar para os demais para inspirar-se, mas não para copiar. Construir nosso caminho com coerência, abertura, transparência, simplicidade e muita reflexão. Vale a pena viver, com as qualidades que temos, aceitando tudo o que vivenciamos até hoje, mesmo aquilo de que não nos orgulhamos, aceitando as inúmeras bobagens que realizamos.

Alguns caminhos nos ajudam mais na realização pessoal, embora de forma diferente para cada um. Motivação profunda para querer viver, realizando alguns projetos, expandindo e desenvolvendo cada vez mais nosso potencial, evoluindo mais na nossa percepção, conhecimento, afetividade, comunicação com os que convivem conosco, em diferentes níveis de profundidade e abrangências, mas que nos permitam uma interação coerente, crescente e significativa nos múltiplos intercâmbios presenciais e virtuais que a vida nos propicia.

1) Aprender a aceitar-se profundamente, a compreender-se cada vez mais. Focar menos a felicidade e mais o desabrochar do potencial de cada um. Olhar menos para o que os outros propõem e evoluir, ampliar em cada etapa da nossa vida nosso potencial em todas as dimensões: pessoais, profissionais, sociais. Estar motivado para desafios, os desafios que nos preenchem, que não nos são impostos de fora, que nos realizam.

2) A motivação profunda para aprender e para realizar alguns objetivos que nos atraiam, que façam sentido: uns querem ser campeões, outros bem sucedidos, outros ganhar muito dinheiro, outros ter filhos. A motivação para realizar algumas coisas é um estímulo importante para viver, mas não pode ser absolutizado nem desbalanceado, isto é, não pode ser tão obsessivo que nos impeça de realizar outras dimensões também importantes para viver.

3) Aprender a conviver, a estar junto com as pessoas em níveis diferenciados, mas com contatos ricos, presenciais e digitais. Isto varia de pessoa para pessoa. Uns precisam de muitas pessoas para sentir-se realizados, outros são mais seletivos e reservados, mas para todos é importante saber conviver, interagir, ter amigos, desenvolver laços afetivos e de confiança com algumas pessoas, que se tornam com o passar dos anos mais importantes. A forma de fazer isso muda dependendo da etapa de vida em que um se encontra: Quando somos muitos jovens a quantidade de relacionamentos, de amigos é fundamenta. Tudo se quantifica mais. Em etapas mais avançadas da vida a qualidade das amizades é mais importante.

Num mundo de facebook e de twitter é fundamental aprender a relacionar-se, a interagir e ao mesmo tempo a individualizar-se, a depender menos das opiniões alheias, a personalizar o caminho. Vejo muita necessidade de ser valorizado, de ser aceito socialmente, de ser reconhecido. A busca desse reconhecimento diretamente pode ser uma fonte de angústia e de desilusão. É bom ser reconhecido, mas não precisa ser uma meta, mas uma conseqüência de uma atitude de crescimento com coerência e abertura. A necessidade de ser visto pelos demais, de que nos enxerguem, de que nos sigam é um perigo pra a nossa realização. Colocar nossa realização na dependência dos outros é um perigo, é um atalho para a frustração e a angústia crescentes.

4) Aprender a fazer escolhas e a não frustrar-se pelo que deixamos atrás é cada vez mais necessário. Quantas mais opções, mais equilíbrio precisamos para aceitar nossa incerteza das escolhas e a extrair todo o potencial do que temos em mãos, sem ficar olhando o tempo todo o que poderíamos ter escolhido também. Na vida fazemos escolhas contínuas; muitas pequenas escolhas e algumas grandes. O importante é vivenciá-las com plenitude e encontrar momentos em que consigamos mediar, refletir sobre o caminho, para aí sim revê-las, avaliá-las e reconfirmá-las ou modificá-las, mas olhando o conjunto, o processo e não meramente cada uma isoladamente.

Nossa vida é muito importante e passa rápido demais para desperdiçá-la com muitas banalidades e desvios. Podemos passar, por exemplo, dia e noite na televisão e aprender muitas coisas, mas se olhamos para tantas outras muitas possibilidades que o mundo nos oferece, percebemos que podemos experimentar muitas outras alternativas à televisão e evoluir muito mais rapidamente: podemos ler mais, conversar mais com pessoas interessantes, desenvolver projetos estimulantes, viajar de olhos bem abertos presencial e virtualmente. Podemos equilibrar olhar, sentir, agir, em contato físico e contatos digitais, em olhar histórias alheias e próprias. Tem pessoas que passam muitas horas vendo esporte – jogos, comentários. Em si são uma forma de distração satisfatória, mas quando tomam muito tempo nos mostram que estão desbalanceados em relação a outras possibilidades de entretenimento, de realização muito mais ricas e promissoras.

5) Aprender a enfrentar situações inesperadas, a extrair de momentos profissionais mais delicados o potencial inspirador, isto é, mesmo em situações não ideais profissionais, não olhar só para os problemas, as dificuldades, mas para o que trazem de desafios e não fixar o negativo, o que nos complica, sabendo esperar o momento de avaliar os prós e contras da permanência ou da necessidade de mudança.