Somos pessoas ou personagens?

Vejo pessoas que por atividade profissional ou circunstâncias desenvolvem certas atitudes, principalmente em público, que – desconfio - as transformam em personagens de si mesmas. De tanto repetir os mesmos modelos, de atender às expectativas dos demais, mostram uma personalidade e um desempenho previsíveis, que pode distanciá-los progressivamente de quem são realmente, intimamente.

Observo pessoas que riem constantemente em público, que são engraçados e me pergunto, como elas serão quando estão sozinhas, nas madrugadas da vida? manterão a mesma atitude de rir de si mesmas, a mesma visão positiva do mundo? tratarão bem os que moram perto?

Com tantos holofotes, câmeras e possibilidades de tornar-se visível nas telas de TV, vídeo ou Internet, o que é real e o que é figuração? Desconfio que muitos vivem personagens tão fortes e intensos, que vão, aos poucos, construindo uma personalidade que não separa mais o representar do ser. E acreditam que são aquilo que representam, porque sempre “vivem” os mesmos personagens. Transformam-se em seus próprios personagens.

Todos representamos socialmente alguns papéis, nos comportamos de uma forma parcialmente diferente quando estamos em público do que quando estamos sozinhos. Mas se acreditamos mais nos comportamentos sociais do que nos pessoais, corremos o risco de viver cada vez mais de aparências, enquanto sufocamos nosso eu profundo envolto em camadas de papéis, de ficção. Podemos, depois de anos, não saber quem somos de verdade, se já introjetamos esses papéis de uma forma que pensamos que somos aquilo que representamos.

A construção da identidade pessoal hoje é muito mais complexa do que antes. É fácil deslumbrar-nos com o sucesso que conseguimos em determinados momentos profissionais ou sociais e querer transferi-los para situações mais privadas ou íntimas. Há atores profissionais que entram tanto nos personagens que continuam vivenciando-os quando chegam em casa. Outros atores, ao sair do set, esquecem o personagem que estavam filmando e retomam suas vidas.

É importante analisar se estamos representando sempre, se nos escondemos de nós mesmos nos vários espaços pelos quais transitamos. Como educadores podemos ajudar muito nossos alunos se nos mostramos o mais próximos do que somos, se nos escondemos cada vez menos em papéis sociais. Um dos processos de aprendizagem mais importantes para cada um de nós é ir evoluindo sempre mais na direção da simplicidade, da coerência, da transparência entre o que somos e o que comunicamos, entre o mundo pessoal e o social. Viver como personagens representando papéis nos impede de aprender o principal: a crescer como pessoas cada vez mais plenas e realizadas.

Comentários

Andréa Almeida disse…
Olá!! Adorei o texto. Sou estudante de pedagogia virei mais vezes ao seu blog, amei!! Abraços
Talvez o dia em que o educador começar a sair daquele palco de 5 cm, e de criar defesas, ele poderá começar a se mostrar como pessoa, com erros e acertos, simplesmente humano, não é mesmo?
Um ser que nem sempre sabe tudo, e alguém sabe? E que é também como seu cursista ou aluno, um eterno aprendiz.
Unknown disse…
Sou – ou estou - personagem social, depois do ato, dispo-me da fantasia e visto o quê?
(!!!!) acabei de inventar a roda, depois de amanhã tenho compromisso, o lançamento do ônibus espacial, enquanto leio minhas cartas eletrônicas de um amigo virtual pós oceano Atlântico, fujo os olhos para a Tv e acompanho o choque brutal da intolerância com algo que –ainda – não entendo o que é....
Inventei, invento....creio já ter conjugado este verbo em todos os tempos!
E agora, (re)inventar a roda! Pra quê? Já fiz a minha lição de casa!
Voltar pra onde? Aprender o quê? Volto pra mim?
Uma vez ouvi que a escultura está para o mármore como a educação está para o homem...acredito nisso! Quero me despir das tecnologias, dos inventos, das parafernálias ditas insubstituíveis! Quero ficar nu, novamente, e poder encontrar meu Édem de ideias, e no meu impulso original, o arrepio da primeira constatação.
Gildete Ritt
Moran,concordo plenamente com suas palavras! Que bom que ainda temos pessoas capaz de fazer esse tipo de reflexão! Uma coisa que prezo muito é a originalidade do ser humano: ser ele mesmo, ser verdadeiro nos seus sentimentos, ser coerente entre o que fala e o que faz, ser capaz de defender suas idéias, seus valores ainda que todo mundo diz ao contrário! Enfim, SER... Sei que isso não é fácil, luto todo dia para tentar viver assim, mas tenho certeza que vale a pena!
Gislene
Moran,concordo plenamente com suas palavras! Que bom que ainda temos pessoas capaz de fazer esse tipo de reflexão! Uma coisa que prezo muito é a originalidade do ser humano: ser ele mesmo, ser verdadeiro nos seus sentimentos, ser coerente entre o que fala e o que faz, ser capaz de defender suas idéias, seus valores ainda que todo mundo diz ao contrário! Enfim, SER... Sei que isso não é fácil, luto todo dia para tentar viver assim, mas tenho certeza que vale a pena!
Gislene
freire disse…
“Aprendendo a evoluir Sempre” A vida sem duvida é um processo continuo de crescimento e aprendizagem. No entanto, temos que saber, como aproveitar todas as conquistas e transformações, que acontecem no nosso dia a dia, pois existem caminhos tortuosos e brilhantes, cabendo a cada um, aproveitar cada momento, partilhando conhecimentos, sorrindo, vivendo e está sempre refletindo diante de determinadas atitudes.

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