A educação atual: entre o direito e o negócio

Há muitas contradições e tensões na educação. As principais se devem a que em alguns momentos focamos a educação mais como direito – educação para todos – enquanto que, em outros, o foco é a educação como negócio – como bem econômico, serviço, que se compra e vende, se organiza como empresa e onde se busca a maior rentabilidade, lucro e retorno do investimento.

Quando damos ênfase à dimensão integral do ser humano, à integração entre idéias, sentimentos e valores estamos focando a educação como necessidade e direito de todos, de formar cidadãos críticos (educação como direito). Quando a ênfase recai sobre o investimento, planilhas, serviço, custo, retorno financeiro, predomina a educação como negócio em que a dimensão de direito, humanística e integral costuma permanecer num segundo plano (educação como negócio).

Os professores costumam desenvolver uma concepção de educação mais como profissão de forte cunho social, que contribui para a aprendizagem integral dos alunos. Estão preocupados fundamentalmente com a dimensão social (direito). Já os administradores e gestores na educação privada, embora valorizem as dimensões pedagógicas, tendem a preocupar-se fundamentalmente com o econômico, e seu olhar está tão orientado por processos de gestão empresarial, que, com freqüência, terminam se sobrepondo às necessidades pedagógicas. Do ponto de vista das ferramentas que utilizam, os professores costumam trabalhar com textos e apresentações, enquanto os administradores com as planilhas (“Word” x “Excel”).
A crescente entrada de administradores profissionais na educação está contribuindo para racionalizar custos, para otimizar recursos, mas, sentimos que há tensões que apontam para um predomínio do econômico sobre o pedagógico, principalmente no nível superior. Ganha-se em resultados econômicos, mas a custa da perda de direitos e conquistas sociais conseguidas nas últimas décadas.

Precisamos estar atentos a re-equilibrar a educação como direito e como negócio, a buscar inovações na gestão, mas com foco na aprendizagem significativa, humanística, afetiva e com valores sólidos.

Texto mais completo em : www.eca.usp.br/prof/moran/direito.htm

Acabei de postar também um texto meu sobre o tema Vivendo nas contradições e incertezas na minha página: www.eca.usp.br/prof/moran/incertezas.htm

Comentários

João Mattar disse…
Professor Moran:
Tenho refletido muito sobre esse conflito em minhas palestras, meus artigos e livros, e inclusive em meu blog, como nos posts:

Investimento & EaD
http://blog.joaomattar.com/2008/02/09/investimentos-ead/

Cobra, Pagar e Fornecer
http://blog.joaomattar.com/2007/03/08/cobrar-pagar-e-fornecer/

Ford e a EaD
http://blog.joaomattar.com/2007/03/02/ford-e-a-ead/

Alguns já são antigos, e penso que esse conflito se tornou mais explícito na EaD, justamente porque , de um lado, tivemos uma invasão de burocratas para coordenar projetos e departamentos de EaD, muitas vezes sem formação e experiência suficientes em educação (não seria mais adequado formar um educador em gestão?), e também porque a ânsia de ganhar dinheiro com EaD, sem necessariamente educar, parece ainda marcar muitos projetos em nosso país.
Aproveitando, tenho registrado minhas experiências com o Second Life em meu blog, mas adoraria poder mostrá-las algum dia para o senhor, pois tenho descoberto cada dia mais potencial pedagógico nos mundos virtuais online 3D, como o Second Life.
Abraços
João Mattar
Anônimo disse…
Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Celular, I hope you enjoy. The address is http://telefone-celular-brasil.blogspot.com. A hug.
Deveraneios disse…
Prezado Professor Moran,

Aproveito a oportunidade para falar-lhe o quanto o senhor tem sido importante para a continuidade dos meus estudos. De todos os autores lidos, o senhor é quem tem a redação mais clara, mais simples: chega antes ao nosso coração. Penso que isso é importantíssimo para as pessoas que, sem tempo, precisam estar constantemente fazendo vários tipos de leitura.
Obrigada pelos seus textos.
Abraço,
Otilina
angela disse…
Estimado professor Moran!

Sou leitora assídua dos seus artigos, que muito têm me ajudado nas mediações pedagógicas, porém tenho procurado textos com relatos de experiência sobre recuperação, sem encontrar algo significativo.
Preciso saber se você teria como me ajudar nesse sentido.
Forte abraço
Angela Salvi
Anônimo disse…
Importantíssimo essa reflexão sobre a atual realidade da educação em nosso país.Realmente precisamos estar atentos sobre a dimensão de negócio para a qual a educação está caminhando.Roselaine
Marli Fiorentin disse…
Professor Moran!
Agora você tocou na ferida. O problema é exatamente a falta de equilíbrio entre as duas coisas. O grande problema é quando o negócio está acima do humano, do pedagógico.E acaba impedindo que esta última faceta possa se realizada. Confesso que estou muito cansada e desiludida com algumas coisas que acontecem na escola pública. Certas medidas políticas de gestores simplesmente barram ou hostilizam iniciativas pedagógicas mais inovadoras. E a gente fica parecendo que está numa guerra, travando aquela batalha, colocando a cara pra bater todo dia. Por mais idealismo que a gente tenha como profissional, chega um dia que a gente se sente fragilizado e impotente, parecendo que está tentando cavar um buraco n'água. É assim que me sinto no momento: Cansada!!! Abraço!
José Moran disse…
Caros João, Marli, Angela e Otilina:
Desculpem-me pela demora em comentar suas considerações. Já as tinha lido, mas fui deixando para outro momento, com mais calma e o tempo passou mais de pressa do que imaginei. João, aprecio muito teu trabalho e quero conversar com você. Nos falamos por e-mail. A mesma coisa com você, Marli. Estou lhe escrevendo. Não desanime, porque os inovadores pagam um preço maior por estar na frente dos demais. Obrigado a todos pelo incentivo e carinho. Grande abraço para cada um. Moran
Anônimo disse…
Nobre professor,
Todos os meus dias me questiono sobre o meu papel como educador e por fim surgem outras questões conflitantes desta profissão. Porém a sensação que sinto, ao sentar por alguns minutos na sala de professores da rede pública, é que existem mais moinhos que eu imaginava. Muitos profissionais embarcam na viagem que o poder midiático proporciona, a maioria acredita na prioridade de estimular seus alunos a fazerem provas tradicionais, tais quais as que eles fizeram, escapa-lhes a visão de que essas crianças e jovens ainda estão começando aconstruir valores morais, éticos e estéticos. Acredito de verdade que um sujeito pleno de Alteridade poderá decidir por onde ir, e são os valores humanos consistentes que alicerçam a capacidade de escolha.
Um bom gestor precisa ser um lider, e a liderança requer valores que não passam pelos recursos financeiros.
Não mais...
Professor, sou seu fã.
Um grande abraço.
Lindomar da Silva araujo
www.professorlindomar.blogspot.com
Grande amigo e colega Moran,

Como sempre as suas contribuições são valiosas e significativas para todos aqueles que acreditam na Educação como fator estruturante de uma nova realidade social: humana, afetiva e equilibrada.
Lamentavelmente ainda convivemos com uma injusta correlação de forças, quando assistimos as hegemônicas forças econômicas varrendo mentes e corações. Frente a essa desertificação da educação, nos resta lançar nas terras férteis da contemporaneidade sementes de vida e esperança, como vens fazendo de forma nobre já a algum tempo. Um grande abraço, bom te ver por aqui e vamos em frente!!!!

Paulo Cezar
Anônimo disse…
Numa sociedade capitalista como a nossa, onde a política não consegue exercer força sobre a ética de mercado estamos todos condenados ao fracaso. Como o professor pode exercer a função de educar frente a uma mídia que deseduca o tempo todo? omo tb orientar à cidadania se a mesma não é exercida pelo próprio poder público? Com a quebra da tradição (Hanah Harendt) e a ausência de autoridade (não autoritarismo)e de reconhecimento. Que aluno dará ouvido a esta entidade desconfigurada? Ah!!! nós adultos respeitamos os mestres, somos de outra geração e apredemos a valorizar aquele que nos ensinava, nos orientava e queria nosso crescimento. Hoje o professor faz o mesmo... Entretanto, poucos acreditam que sim... a imagem dele na mídia... desenhos como os Simpsons... novelinhas como REBELDES... jornalismo como globo, SBT e bandi... hummmm!!! poderá haver exelência e digo que há jóias raras de dedicação, enfrentando árduamente a função de educar com amor. Há os doentes frustados frente ao descaso e desmandos e desrespeito à pessoa humana... Eu estou aqui...vendo a decadência de um país, estou de pé esperando a política imperar sobre o mercado.
PROFESSOR MORAN:
Leio os seus textos no curso a distÂncia Mídias na Educação. Li a pouco Mudanças profundas e urgentes na educação - tento imaginar tudo o que está escrito ali em nossas escolas públicas. Será que um dia vamos estar incluídos nesta realidade?
Anônimo disse…
Professor Moran, trabalho em uma escola particular onde o que não falta é tecnologia. Tanto em sala quanto nas casas dos alunos.O que não vejo é interesse por parte dos alunos. Querem apenas saber o que cai no vestibular, passar, fazer um curso geralmente de medicina e ganhar dinheiro. Me pergunto onde estamos errando se temos tantos alunos com tantos recursos e tão pouco interesse.
Anônimo disse…
Professor Moran eu que fiz o comentário sobre os alunos da escola particular e acabou saindo com nome de anônimo por imperícia minha.Se puder me dar algum conselho sobre o assunto agradeço.
Anônimo disse…
Caro Moran,

seu blog é fantástico, ótimo!

Sou professor de matemática de 2o grau em SJC-SP e, se me permite dizer, assino embaixo de tudo o que li.

Já vi que gastarei muita tinta de impressora nos próximos dias. E acessarei sempre.

Grande abraço e parabéns!

p.s. também sou blogueiro. Mas trato do tema técnico "informática na educação", com um pouco de humor. Se quiser conhecer, coloquei link abaixo.
ARTEROSANE disse…
Muito bom o seu blog!!!
Parabéns!!!
Teresa Loureiro disse…
Caro professor Jose manoel, será que lembra de mim? Sou teresa, fui sua aluna na pós=graduação da UESC em Ilhéus, onde formamos o grupo GTE e o senhor achava imensa graça. Já várias vezes mandei email, mas nunca recebi resposta. Continuo ligada às tecnologias e neste momento estou participando de um curso: WEB 2.0, onde até já coloquei alguns trechos de textos seus.
meu email
teresaloureiro2007@gmail.com
Descobri agora seu site e muitas coisas novas suas, que me ajudarão com certeza neste meu novo momento.
Um grande a braço
teresa
Prezado senhor, estive pesquisando na internet sobre Mídias e encontrei as informações publicadas pelo senhor, as quais me foram bastantes relevantes. Visto que irei me submeter a um curso à distância de Mídias.
Prezado senhor, estive pesquisando na internet sobre Mídias e encontrei as informações publicadas pelo senhor, as quais me foram bastantes relevantes. Visto que irei me submeter a um curso à distância de Mídias.
Olá Professor!

Tive enorme satisfação ao ter contato com suas idéias, por meio dos artigos que constam na bibliografia do curso de Especialização em EaD da UFOP e de graduação em Administração da mesma universidade, na qual sou tutor presencial (sistema UAB).
A afinidade com suas idéias me levou a descobrir este ambiente, e não o deixaria sem agradecer a sua contribuição para minha formação, e de meus alunos.
Caso tenha publicado algum artigo sobre o Sistema UAB (Universidade Aberta do Brasil), por favor, me dê indicações de onde posso obtê-lo.
meu endereço: adalberto.professor@gmail.com
Muito obrigado!

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