A avaliação de curto e de longo prazo

Estamos acostumados a focar, na educação, a avaliação intelectual de curto prazo: a compreensão de leituras, idéias e o desenvolvimento de algumas competências. Sem dúvida essa avaliação, se bem feita, contribui para dar-nos uma radiografia do que aprendemos a curto prazo .
Mas a avaliação que vale a pena, a realmente significativa é a que acontece a longo prazo: a que mostra, depois de alguns anos, o que realmente aprendemos, o que praticamos daquilo que aprendemos e se somos pessoas mais interessantes, abertas, coerentes e realizadas.
A avaliação de longo prazo nos mostra se evoluímos como pessoas mais abertas ou fechadas, mais acolhedoras ou egoístas, mais curiosas ou acomodadas, mais realizadoras ou repetidoras, mais coerentes entre teoria e a prática ou mais incoerentes. Podemos ter evoluído em uns campos mais do que em outros. Sermos empreendedores em negócios e infantis emocionalmente; brilhantes em análises sociais e ruins nas práticas correlacionadas; hábeis em negociar e incoerentes moralmente.
A avaliação de longo prazo pode mostrar-nos o grau de integração e coerência entre a aprendizagem intelectual, a emocional e a ética. Se compreendemos mais profundamente a nós mesmos e aos outros; se relacionamos melhor alguns campos do conhecimento e os incorporamos às nossas vivências, procedimentos e práticas no cotidiano; se evoluímos também emocionalmente, tornado-nos pessoas mais abertas, confiantes, acolhedoras; se evoluímos também eticamente, mantendo maior coerência entre o que pensamos e o que praticamos.

Alguns critérios podem nortear a avaliação de aprendizagem de longo prazo:

1) Gosto crescente por ler, observar, conhecer. Capacidade maior de compreender e de relacionar o que vemos, lemos e ouvimos.
Pode ser resumido nesta pergunta: Gosto cada vez mais de conhecer (idéias, pessoas...)?

2) Maior relação e coerência entre compreensão e ação, entre teoria e prática.
Pergunta: O que construí com o que li e aprendi?

3) Capacidade maior de acolhimento, de comunicação, de interação com os outros.
Pergunta: Sou uma pessoa mais aberta, produtiva, ética e realizada?
O texto completo está em www.eca.usp.br/prof/moran/prazo.htm
Você concorda com esta visão da avaliação a longo prazo ou a considera simplista?
Nota: Além de A educação que desejamos, saiu o meu livro Desafios na Comunicação Pessoal (edição revista e atualizada do meu livro Mudanças na Comunicação Pessoal. Edições Paulinas).

Comentários

Conheci seus textos no curso de TELEduc da Unicamp que estou fazendo, muito boa sua página na internet, parabéns também pelo blog. Vou ler outros cursos... Vou observar este tipo de avaliação que o senhor coloca...
Marli Fiorentin disse…
Olá professor Moran!
Eu concordo que um dos grandes problemas da educação é a avaliação falha e limitada. Precisamos nos centrar mais no aluno como um todo, porque de nada adiantam gênios que fabriquem bombas. Fiquei emocionada em conhecê-lo pessoalmente e receber o prêmio de suas mãos, pois sempre o tenho como referência para o meu trabalho com as tecnologias.E suas palavras caíram como uma luva, pois eu vivo exatamente essa situação:pago o preço por inovar. Mas como o Sr. falou, o que nos mantém vivos é o prazer de aprender e de ensinar.Obrigada por nos encorajar a continuar, apesar das pedras no meio do caminho. Deixei um álbum de fotos no meu blog http://blogosferamarli.blogspot.com. Convido-o para visitá-lo. Grande abraço!
João Mattar disse…
Muito bonito o texto, Moran. Da avaliação você passou pela educação, pela ética e pela vida. Convidei alguns alunos meus a visitarem a página e, quem sabe, contribuírem com comentários por aqui.
Anônimo disse…
Olá,

Sou aluna do João e ele me passou seu post para eu dar uma lidinha. :)

Agora vai meu comentário:

Aquilo que a pessoa aprende depende muito do nível de interesse de cada pessoa, quando estudamos para alguma matéria da faculdade, por exemplo, podemos estudar de várias formas: Não estudar e não aprender nada com aquilo, estudar apenas para passar na prova, o que seria apenas estudar, lembrar daquele assunto para curto prazo ou, o que seria o esperado, estudar para fixar, para aprender de verdade e nunca mais esquecer.

O que leva a pessoa a escolher qual forma vai estudar vai variar do seu interesse, do seu tipo de pessoa (interessada ou não), sua curiosidade sobre o assunto e também como o assunto é abordado por aquele que está ensinando.

Acho que ultimamente as pessoas estão muito acomodadas e "aprendem" somente o necessário para exercer suas funções, muitas vezes nem estão preocupados em realizaçao profissional, ou ser promovido, querem apenas aquela estabilidade de sempre fazer a mesma coisa!

Quando alguém tem um certo interesse em aprender de verdade, é curioso ... sofre até mesmo preconceito do tipo: "Por que você está fazendo isso? Não vai ganhar nada com isso!" ou então começa a se tornar um risco a outra pessoa, e sobre boicotes!

Infelizmente as empresas e faculdades de hoje, possuem grandes talentos, mas não conseguem explorar ou por esses talentos estarem escondidos, por medo de boicotes e preconceito, ou porque o sistema de ensino e da propria empresa acaba incentivando o conformismo!

Abraços

Mariane Ferroni
José Moran disse…
Caros Marli, João, José Otávio e Marzinha:
É um prazer conversar com vocês. Primeiro rever a Marli depois de uns dias, no prêmio da Educarede. Parabéns. Gostei muito de conhecê-la e de ver sua garra e força.
João, José Otávio e Marzinha: Autalizei o texto e coloquei alguns critérios na avaliação de longo prazo. Obrigado pelos comentários e apoio.
Grande abraço
Moran
Muito interessante professor Moran,

A avaliação de longo prazo precisa estar dentro da "filosofia do EAD". E a avaliação de longo prazo tem uma ligação com a formação ética do ser humano. Vou procurar mais trabalhos que o senhor escreveu e quero me aprofundar no assunto.
Abraço de admiração,

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