Entre a criatividade e a acomodação na educação

As escolas estão procurando atender a novas demandas, mas as mudanças são, em geral, periféricas, pontuais, parciais. Criatividade é um processo que se constrói, em parte individualmente, mas na maior parte em grupo, a partir de propostas desafiadoras, de estímulos institucionais para a busca do que ainda não está consolidado, desenvolvendo formas de olhar diferenciadas, a partir de perspectivas contrastantes.

As escolas têm um compromisso com conservar o melhor do passado, focar o presente e preparar para o futuro. O seu discurso é inovador, mas a organização e a prática pedagógica são pouco arrojadas. Predomina uma visão conservadora, repetindo o que está consolidado, o que não oferece risco nem grandes tensões. O formato disciplinar, a organização rígida de horários e espaços contribuem para que predomine o previsível sobre o inesperado. A formação docente foca mais os modelos prontos do que os experimentais. O sucesso dos modelos pedagógicos de grandes grupos nacionais, que organizam os materiais, atividades e avaliação de forma previsível para grande número de escolas, professores e alunos é a prova mais cabal da formatação predominante no ensino.

Se a formação é para previsibilidade, não se pode esperar que predomine a criatividade. Ela precisa ser implementada como política, atitude, prática tanto no plano individual como institucional para obter resultados muito diferentes, no médio prazo. Gestores e professores previsíveis reforçam uma escola previsível.

Perdemos o poder criativo com o passar dos anos?

Como pessoas, depois de etapas de alta intensidade de aprendizagem, tendemos a uma certa acomodação em modelos que sintetizam nossas anteriores descobertas. Isso nos poupa energia, ao automatizar processos e permite que construamos projetos viáveis para o dia a dia. Após algum tempo, entramos em uma nova etapa de insatisfação e procuramos novas soluções para as novas questões que se apresentam. Avançamos mais e depois nos acomodamos um pouco. O processo criativo não é ininterrupto, tem etapas diferenciadas. A diferença é que alguns persistem nesse processo, enquanto muitos outros, diante de novos desafios, permanecem na saída mais fácil, que é fazer pequenos ajustes, mas não mudanças profundas.


A criatividade institucional

Instituições são feitas por pessoas com papéis diferentes, que devem convergir em visões de mundo próximas para funcionar bem. Se os profissionais mais qualificados institucionalmente não desenvolveram uma autonomia intelectual e emocional consistentes, não conseguirão participar de um projeto pedagógico diferenciado. Se uma ou duas pessoas só na instituição possuem essa visão diferenciada, conseguirão realizar algumas mudanças pontuais, mas não as necessárias, a não ser que tenham um poder institucional forte, que pode induzir a mais pessoas a aderir rapidamente ao projeto inovador. Conheço muitos professores que têm idéias muito avançadas na educação, mas lhes falta poder de articulação e comunicação para atrair outros colegas que poderiam acelerar sua evolução pessoal e profissional, e incorporar-se mais rapidamente a um novo patamar de pensamento e atividades.

As mudanças institucionais culturais precisam de gestores competentes e abertos e de equipes de profissionais dispostos a aprender e que tenham condições de experimentar sem medo, com uma profunda interação entre gestores, educadores, alunos, pais e o entorno.

Comentários

Unknown disse…
Analisando o texto: Entre a Criatividade e a Acomodação na Educação

Pude perceber como ele é importante para nossos conhecimentos, e práticas de sala de aula, devido as mudanças constantes que nós professores precisamos ter, para que possamos estar devidamente preparados para levar aos nossos educandos aquilo que eles estão precisando, para que estes sintam prazer em assistir as nossas aulas, é necessário que nos tornemos aqueles professores com autonomia para mudarmos o rumo da educação despertando no aluno o entusiasmo pelo novo e prazeroso conhecimento tecnológico. Mas para isso é preciso que os profissionais de educação tenham um compromisso com a qualidade do ensino e saiam daquela mesmice das aulas de quem pensa que sabe tudo, e não precisa de mudança na forma de transmitir suas aulas, tanto presenciais como há distancia.
Achei este texto interessante, pois o autor está de parabéns, ele é uma luz que veio brilhar no final do túnel, para alguns profissionais encontrarem realmente com verdadeiro caminho a seguir, rumo a educação que desejamos ter para nossos alunos.feijo
David disse…
Eu sou um professor, eu tenho 50 anos e eu mal posso incentivar a criatividade dos meus alunos. Eles estão muito animados com televisão, internet e outras coisas que distraem. Então, tem dificuldade de prestar atenção. Estou me referindo a uma equipe de profissionais confiáveis que me ajude a estimular a criatividade dos meus alunos.

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