Desafios da escola inovadora

Passamos anos demais, horas demais, para aprender coisas demais, que não são tão importantes, de uma forma pouco interessante, com resultados medíocres. E passamos pouco tempo no que é importante, significativo, que nos ajuda a aprender para toda a vida.

Num mundo cada vez mais complexo e que exige competências muito mais desenvolvidas em todos os campos, não há lugar para a escola repetidora, enclausurada na repetição, centrada na fala do professor, nas aulas de 50 minutos, na aprendizagem passiva. A escola precisa de arejamento, de intercâmbio, de sangue novo, de profissionais – gestores, educadores, funcionários - mais criativos, empreendedores, afetivos, melhor remunerados e com a noção clara das possibilidades e limites educacionais institucionais, profissionais e pessoais.

Se a escola não prepara alunos-pesquisadores criativos e empreendedores, de pouco adianta todo o enorme esforço e dinheiro gastos. A escola está desfocada: insiste em modelos ultrapassados em uma sociedade em transformação. Contentamo-nos com pouco, quando os desafios são enormes.

A escola pode abrir-se cada vez mais para o mundo, começando pelo seu entorno: abrir-se para o seu bairro, dialogando com as principais pessoas, organizações da região, abrir-se para os país e famílias, trazendo-os para dentro, como aprendizes e como colaboradores no processo de ensinar e de aprender. Pode integrar-se com os espaços interessantes do cotidiano, com o mundo as artes, da música, do teatro, da poesia, do cinema, das mídias digitais. Pode abrir-se para o mundo real e digital, para entendê-lo e pode contribuir para modificá-lo.

A escola pode transformar-se em um conjunto de espaços ricos de aprendizagens significativas, presenciais e digitais, que motivem os alunos a prender ativamente, a pesquisar o tempo todo, a serem pró-ativos, a saberem tomar iniciativas, a saber inter-agir.

A escola necessita incorporar uma mentalidade aberta para o mundo, para a vida. Num mundo com tantas possibilidades interessantes de aprender, como podemos ter tantos alunos que não sabem ler, interpretar, pesquisar, escrever?

Vale a pena ensinar menos coisas e mais procedimentos e metodologias ativas. Despertar o gosto por pesquisar, por aprender, a partir do que motiva os alunos, procurando chegar a alguns parâmetros esperados, mas sem forçar um só caminho.
Infelizmente essa escola não está pronta, quase não existe.

Nossos cursos de formação de professores são, em geral, um horror: preparam para a mesmice, com métodos arcaicos, para uma sala de aula que mudou profundamente seus objetivos, mas que continua reproduzindo modelos velhos, de transmissão da informação, não motiva para aprender. Preparam para uma escola velha num mundo novo, que precisa de outras formas de aprender e de ensinar.

Comentários

Anônimo disse…
Caro Professor Moran!


Eu assino em baixo! A questão é, como traduzir isto em termos práticos? Como vencer a superestrutura da Escola e criar as pequenas contra-hegemonias locais?
Professor Moran,
Sua fala retrata sim a realidade da escola em nosso país, que funciona na base do você finge que ensina que eles fingem que aprendem... E isto vem se falando há muito tempo...
Mas em sua opinião, o que se pode fazer, PRATICAMENTE e não retoricamente para sairmos deste círculo vicioso e improdutivo???
Anônimo disse…
A primeira coisa que pode-se fazer é retirar todas as disciplinas didático-pedagógicas dos cursos de formação de professores e ensinar a gente e escrever no quadro, elaborar uma boa prova, usar a TV pen-drive, falar em público, improvisar, etc. Isso formaria professores bem melhores. Já para os alunos, poderiamos diminuir o tempo de aula, aumentar o intervalo e a educação física, criar atividades extra classe como banda de música, clube de pingue-pongue, time de volley, etc. Isso tudo só para começar!
José Moran disse…
Sérgio, Danielle e Mairo:
Muito obrigado pelas contribuições de vocês. Em educação, não há soluções simples. Há mudanças que só acontecem a longo prazo (mudanças estruturais); outras, são mais imediatas (as conjunturais). Na minha página e em alguns textos do blog aponto alguns caminhos. Mas sei que é um processo longo e contraditório. Vale a pena tentar cada um fazer o possível para ajudar nesta mudança. A primeira atitude é não desanimar, fazer o possível na nossa área de atuação e ir aprendendo juntos.
Grande abraço
Moran
Tati Martins disse…
Olá, professor,
Concordo plenamente com sua visão e posição em relação à escola e acredito que devamos criar vínculos cada vez maiores de trocas de experiências na Web.
Trabalho em dois colégios bastante tradicionais, mas nem por isso me deixo levar pela velha e comum postura do "cuspe e giz". Cada vez mais venho lutando por uma educação para a atualidade. Isso requer muito estudo, muito tempo e dedicação. Acho que o primeiro passo é este: querer e se colocar aberto às inovações.
Se considerar importante conhecer um pouco de minhas experiências - acho que devemos abrir o verbo para receber críticas e ajudar os que estão tateando ainda (eu também estou!) - dê uma olhadinha em meu blog. No dia 26/09 postei sobre meu primeiro filho virtual: há um endereço com a WebQuest e os trabalhos dos alunos, além de um artigo que escrevi para um congresso.
Um abraço.
Lys Figueredo disse…
Caro Professor Moran,

Geralmente leio seu blog quietinha, mas hoje não resisti deixar uma mensagem para registrar o quão feliz fiquei ao ler seu texto. Um verdadeiro chamado para a valorização do ensino e do professor em nosso país... estou contigo nessa luta e nela tentarei fazer o melhor possível sempre !

Suas palavras me cairam como benção após ter lido, ainda essa semana, a declaração infeliz de nosso governador para a folha online dizendo que liberou a verba para a UNIVESP mas que não sabia se o aluno aprendia mesmo com o método de ensino a distância. Tão chocante que em época de eleições eles se deram conta do tamanho da besteira e retiraram a frase rapidamente do jornal.

Fico feliz de existirem no mundo pessoas como você que não se abatem ou conformam e que mais que tudo acreditam que apesar de difícil, as coisas podem melhorar e estão aí para encorajar todos nós que estamos dando nossos primeiros passos nessa área que ainda é tão carente.

Obrigada pelas palavras de hoje,
Lys
Anônimo disse…
Professor Moran.
Ao fazer a leitura sobre a Educação inovadora,passava-se dentro de minha mente um filme.
Ser educador num país em que o mesmo não é valorizado, crava-se uma batalha para que possamos formar cidadãos conscientes e críticos.
A sim, desmotivação em sala de aula, pois o sistema educacional quer que o professor faça o possível e o impossível para que o aluno não reprove ficando muitas vezes acomodados.
Os cursos de capacitação são excelentes, mas também deveriam olhar para nós educadores.Onde está os nossos valores? Por que temos que seguir corretamente o sistema? Olham para a educação como se todos os alunos fossem iguais e ao contrário nos defrontamos com alunos de dificuldades multiplas,famílias desestrutradas,sem sonhos, sem perspectiva de vida.
Não sou perfeita, tenho meus erros e acertos pois,cada dia é uma realidade diferente.
E quando queremos inovar nossas aulas, somos tachados como professor que quer se aparecer, que não adianta lutar pelos alunos que não vamos conseguir mudar o mundo.
Será que não é hora de reformular as idéias, o sistema, passar a rever o ECA e dar mais crédito ao professor?
Moran, li todos os seus textos e gostaria de um dia ter o privilégio de sentar ao seu lado para aprender mais contigo.
Obrigado!
Que Deus te Abençoe.
Anônimo disse…
Professor Moran
Em sua palestra na 7ª Jornatc em Florianopolis, o senhor troxe um texto indecifravel e algumas perguntas sobre o texto, as quais conseguimos responder a todas mesmo sem saber o sentido do texto.
Gostaria muito de usar este texto em um projeto que devo apresentar na faculdade a respeito de interpretação de texto. Já procurei por tudo e não consigo achar. Será que o senhor teria para me enviar. Ficaria muito grata.
Márcia Melo
marcia.ead.ufsc@hotmail.com
Lucilene Moura disse…
QUANDO PENSO EM EDUCAÇÃO ...

Quando penso em educação, penso nos moldes que impera atualmente no Brasil: salas de aula, carteiras, professores, lousa, livro didático, lição de casa. Um modelo, segundo profissionais da educação atrasado para uma sociedade avançada no que se refere a tecnologia.
Falar em educação não tem como desvincular ensino e aprendizagem. Logo, porém, temos um grande caminho que percorrer; reaprender a ensinar e como o aluno aprende.
Sabemos que o público escolar, ainda tem dificuldade para conceber a idéia da parceria em educação versus tecnologia como o EaD. Sabemos ainda que o sistema de Ensino a Distancia não é novidade, mas ainda assim esse método ainda sofre resistência.
Sonho como uma educação em que não se tenha punição por não conseguir aprender uma fórmula ou um conceito.
Imagino uma situação de aprendizagem realmente significativa e prazerosa. Como conseguir transformar a aprendizagem em algo significativo? Essa é uma tarefa que cabe a nós profissionais da educação; a elaborar currículos pertinentes que consigam alcançar (atingir) o educando, seja na educação formal – presencial, seja na educação a distancia.
Tati disse…
Olá professor Moran,
Tudo bem? Sou educadora em saúde, na graduação e pós graduação. Além de mãe de um menino de 6 anos, em fase de alfabetização. Consigo sofrer os dois lados da história. O da docente que muitas vezes tem dificuldades de fazer com que alunos saiam de seus papeis de espectadores e assumam uma posição mais dialógica. E também a de mãe, aguardando ansiosamente uma mudança de padrões. Vendo meu filho "aprender" coisas que não fazem qualquer sentido. Usando palavras que não existem em seu universo, além de conteúdos que acho completamente desnecessários e que percebo, são desinteressantes para ele. E sei que está em uma escola que já é um pouco diferente. Com maior participação dos pais, mas que não pode fugir ao padrão "preparação para vestibular" exigido hoje em dia.
Grande luta se tem pela frente!
Excelente texto.
Um abraço.
Unknown disse…
Gostei do texto.Realmente é verdade eles não deixa agente inova.

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