Professores de sucesso

Por que, nas mesmas escolas, nas mesmas condições, com a mesma formação e os mesmos salários, uns professores são bem aceitos, conseguem atrair os alunos e realizar um bom trabalho profissional e outros, não?
Não há uma única forma ou modelo. Depende muito da personalidade, competência, facilidade de aproximar e gerenciar pessoas e situações. Uma das questões que determina o sucesso profissional maior ou menor do educador é a capacidade de relacionar-se, de comunicar-se, de motivar o aluno de forma constante e competente. Alguns professores conseguem uma mobilização afetiva dos alunos pelo seu magnetismo, simpatia, capacidade de sinergia, de estabelecer um “rapport”, uma sintonia interpessoal grande. É uma qualidade que pode ser desenvolvida, mas alguns a possuem em grau superlativo, a exercem intuitivamente, o que facilita o trabalho pedagógico.
Uma das formas de estabelecer vínculos é mostrar genuíno interesse pelos alunos. Os professores de sucesso não se preparam para o fracasso, mas para o sucesso nos seus cursos. Preparam-se para desenvolver um bom relacionamento com os alunos e para isso os aceitam afetivamente antes de os conhecerem, se predispõem a gostar deles antes de começar um novo curso. Essa atitude positiva é captada consciente e inconscientemente pelos alunos que reagem da mesma forma, dando-lhes crédito, confiança, expectativas otimistas. O contrário também acontece: professores que se preparam para a aula prevendo conflitos, que estão cansados da rotina, passam consciente e inconscientemente esse mal-estar que é correspondido com a desconfiança dos alunos, com o distanciamento, com barreiras nas expectativas.

É muito tênue o que fazemos em aula para facilitar a aceitação ou provocar a rejeição. É um conjunto de intenções, gestos, palavras, ações que são traduzidos pelos alunos como positivos ou negativos, que facilitam a interação, o desejo de participar de um processo grupal de aprendizagem, de uma aventura pedagógica (desejo de aprender) ou, pelo contrário, levantam barreiras, desconfianças, que desmobilizam.

O sucesso pedagógico depende também da capacidade de expressar competência intelectual, de mostrar que conhecemos de forma pessoal determinadas áreas do saber, que as relacionamos com os interesses dos alunos, que podemos aproximar a teoria da prática e a vivência da reflexão teórica.
A coerência entre o que o professor fala e o que faz, na vida é um fator importante para o sucesso pedagógico. Se um professor une a competência intelectual, a emocional e a ética causa um profundo impacto nos alunos. Estes estão muito atentos à pessoa do professor, não somente ao que fala. A pessoa fala mais que as palavras. A junção da fala competente com a pessoa coerente é poderosa didaticamente.

As técnicas de comunicação também são importantes para o sucesso do professor. Um professor que fala bem, que conta histórias interessantes, que tem feeling para sentir o estado de ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que sabe jogar com as metáforas, o humor, que usa as tecnologias adequadamente, sem dúvida consegue bons resultados com os alunos. Os alunos gostam de um professor que os surpreenda, que traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de organizar o processo de ensino-aprendizagem.

Texto meu mais completo em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/sucedido.htm

Comentários

Daniel Giandoso disse…
Tudo isso é tão verdadeiro, mas na maioria das vezes improvável... Eu não sei, mais isso de ter de matar um leão por dia em cada sala que entro cansa...
Marli Fiorentin disse…
Olá professor Moran!

Está cada vez mais difícil dar aulas que atraiam a atenção de nossos alunos, que tem mil e uma formas de adquirir informações fora da escola. Eles trazem conflitos que a familia não está dando conta de resolver e a escola precisa encarar também esse desafio. Mas eu concordo: quando conseguimos estabelecer uma relação de afeto,tudo fica muito mais fácil, porque nosso aluno é intelecto e emoção. Estar ligado aos interesses deles, usar as tecnologias nos aproxima. Ontem mesmo uma aluna me falou que estava gostando muito de ter aulas diferentes, mais divertidas, porque no ano anterior tudo se resumia a xerox. Alunos que em sala de aula pouco rendem, no uso da tecnologia mostram visível diferença. Mas ainda precisamos caminhar muito pra que todos os professores incorporem isso na sua prática. Abraço!
José Moran disse…
Marli e Daniel:
Concordo com vocês: é difícil; às vezes improvável, mas desafiador. Evale a pena enfrentar esses desafios, se queremos ser bons profissionais, contribuir para uma educação de qualidade e rearlizar-nos como pessoas.
Grande abraço
Moran

Postagens mais visitadas deste blog

A Internet na nossa vida

O papel das metodologias na transformação da Escola

Educação híbrida: um conceito chave para a educação, hoje José Moran